Vera Batista
postado em 19/06/2011 09:20
Quem decidiu investir em ações nos últimos meses está à beira de um ataque de nervos. E motivos não faltam para tamanho desespero. Inebriados pelo excelente desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo (BM) em 2010, quando o principal índice de lucratividade do pregão paulista, o Ibovespa, deu um salto de 83%, muitos correram para despejar boa parte da suada poupança na compra de ações. Desde o início deste ano, porém, um turbilhão de incertezas se abateu sobre o mercado. Os preços de papéis como os da Petrobras não só devolveram todos os ganhos do ano passado, como acumulam perdas de até 14,5% em 2011. A bolsa como um todo murchou e voltou aos níveis de um ano atrás. De janeiro para cá, caiu mais de 12%Muitos se perguntam o que fazer? Deixar o dinheiro aplicado em ações e esperar que os bons ventos voltem a soprar pelo mercado ou a hora é de contabilizar os prejuízos e partir para investimentos mais conservadores? Os analistas são unânimes em dizer que, a curto prazo, não há nenhuma perspectiva de recuperação para a bolsa. São muitas as incertezas. No Brasil, ainda que a inflação esteja perdendo força, ainda há muitas dúvidas quanto aos rumos do governo Dilma Rousseff.
Os investidores não escondem, por exemplo, o desconforto com as constantes intervenções do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na Petrobras ; na sexta-feira, ele vetou, pela segunda vez, os planos de negócios da estatal para 2011-2015. Também se sentem desconfortáveis com as ingerências do Palácio do Planalto sobre a Vale, a ponto de mudar o presidente da mineradora. Petrobras e Vale são responsáveis pelo maior volume de negócios da BM. Para piorar, com as taxas de juros em alta ; a Selic está em 12,25% ao ano ;, setores como o varejo e a construção civil acabam perdendo força, diante do crédito mais caro.
No cenário externo, as incertezas vêm dos Estados Unidos e da Europa. Na maior economia do mundo, a recuperação econômica não está acontecendo no ritmo esperado. Tanto que o Fundo Monetário Internacional (FMI) já reduziu as projeções de crescimento para os EUA neste ano (de 2,8% para 2,5%) e no próximo (de 2,9% para 2,7%). Já a Zona do Euro enfrenta o risco de desintegração com o possível colapso da Grécia e de uma onda de calotes varrendo Portugal, Espanha, Irlanda e Itália.
;Diante de todo esse quadro de incertezas, para começar a pensar em investir em ações, a perspectiva de ganho deve ser superior aos 12,25% ao ano pagos pela taxa Selic. E não vemos isso no horizonte neste momento;, diz Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. ;A dica, então, é ficar na renda fixa (fundos e certificados de depósitos bancários, CDBs) e esperar o cenário desanuviar;, acrescenta.
Muita paciência
A situação está tão complicada, que seis dos principais setores da bolsa estão em queda: financeiro, petróleo e gás, consumo, mineração, siderurgia e construção civil. Juntos, eles representam 64% do valor de mercado de todas as empresas cotadas na BM. Os papéis dos bancos, das redes de varejo e das construtoras sentem o impacto das medidas de aperto monetário adotadas pelo Banco Central para controlar a inflação. As empresas siderúrgicas estão sendo prejudicadas pelo excesso de produção de aço no mundo. Mineradoras e petrolíferas ; leia-se, Vale e Petrobras ; sentem o peso das intervenções políticas.
Apesar de tantas más notícias, Fernando Camargo de Carvalho Luiz, sócio da Orbe Investimentos, aposta que ainda é possível encontrar boas oportunidades de ganho. ;O grande desafio é ter um conjunto consistente de ações, com bom retorno em longo prazo. E isso só acontece com a ajuda de um bom especialista em empresas, não um analista de índice;, afirma. No primeiro trimestre deste ano, as companhias com ações na BM registraram aumento médio de 41% nos lucros em relação ao mesmo período do ano passado. Portanto, está se falando de empresas com ótimas perspectivas de ganho, que, quando o mercado respirar, suas ações darão ótimos retornos.
Na avaliação de Luiz, oferecerão maior rentabilidade aos acionistas, nos próximos cinco anos, as companhias ligadas ao mercado local, de papel e celulose, de serviço financeiro (bancos), de bens de capital (máquinas e equipamentos), de autopeças e de proteína animal (carnes). ;Quando analisamos as empresas, focamos sempre no longo prazo;, ressalta.
Para os investidores iniciantes, um recado especial: é preciso ficar atento aos riscos oferecidos por empresas que abrem o capital (lançamento de ações em bolsa ; IPO, na sigla em inglês). Quase todas as companhias que se arriscaram a entrar no mercado nesses tempos tão complicados viram seus papéis caírem. Os da Queiroz Galvão acumularam perdas 13% apenas na última semana. No mesmo período, as ações da Magazine Luiza caíram 3,8%. As da Sonae Sierra, 3,3% e as da Arezzo, 1,4%. ;Não tenho dúvidas de que tempos melhores virão. Basta ter a paciência que o mercado acionário requer;, diz o otimista Álvaro Bandeira, diretor da Ativa Corretora.