Economia

Pesquisa mostra que 60% dos filiados a planos de saúde são mal atendidos

postado em 22/06/2011 08:24
A taquígrafa Nara Bastos critica: A medida adotada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de limitar prazos de atendimento para usuários de planos de saúde, promete reduzir as longas filas de espera para os usuários que precisam marcar consultas ou procedimentos clínicos. Mas, embora a demora seja o principal transtorno enfrentado pelos pacientes em busca de atendimento, o setor de saúde privada ainda gera muita insatisfação, por diversos motivos. Pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM), revela que de cada 10 filiados pelo menos seis já enfrentaram algum tipo de problema com seu plano no último ano.

O estudo mostra que 58% dos usuários de planos de saúde já tiveram alguma queixa com relação aos seus planos. A espera em prontos-socorros, consultórios ou laboratórios já deu dor de cabeça para 26% dos clientes. A falta de opções, tanto de profissionais quanto locais adequados, foi lembrada por 21% dos entrevistados. Já com relação aos médicos, 19% deles consideram difícil fazer a marcação de consultas e 18% não conseguiram agendamento porque o profissional deixou de atender pelo convênio.

O bolso do consumidor também não escapa dos abusos. Cerca de 19% das pessoas entrevistadas alegaram que já precisaram pagar valores adicionais para conseguir um diagnóstico, e 12% tiveram exames ou procedimentos negados pela operadora de saúde. A pesquisa foi realizada entre os dias quatro e cinco de abril de 2011 e ouviu 2.061 pessoas com idade superior a 16 anos em 145 municípios.

Ceticismo
A taquígrafa Nara Bastos, 41 anos, colecionou dores de cabeça com seu plano de saúde e torce para que os atendimentos sejam mais rápidos. ;É tudo absurdamente demorado, principalmente quando preciso marcar um pediatra para minha filha;, protestou. Para conseguir agilidade no diagnóstico, ela já deixou algumas vezes o convênio de lado e optou pelo procedimento particular. ;A saúde é o que mais importa, então tem que pagar mesmo, não tem jeito;, reclamou.

Apesar de um número expressivo de queixas com relação aos planos, o número de usuários satisfeitos com seus planos chega a 76%. Esse paradoxo, de acordo com o presidente do CFM, Roberto Luiz d;Avila, precisará ser explicado em estudos futuros, que serão encomendados pelos representantes dos médicos. ;Após conseguir o diagnóstico, os pacientes esquecem todo o transtorno, como se não houvesse mais o que reclamar. Precisaremos de outras pesquisas para entender o que se passa;, disse.

[SAIBAMAIS]Para o CFM, as medidas propostas pela ANS são inóquas e visam a proteger mais as operadoras de planos de saúde do que os usuários, que terão o direito de escolha comprometido. ;Quem compra um convênio está fazendo isso porque busca um atendimento mais qualificado e quer escolher quem vai atendê-lo. Agora, isso não vai ocorrer, porque a empresa vai colocar qualquer profissional para realizar o procedimento;, explicou o presidente do conselho.

Péssimas lembranças
Seis em cada 10 pessoas já passaram por experiência negativa com seu convênio, no último ano. Veja as principais reclamações

Atendimento
Demorou/enfrentou fila no pronto socorro, clínica ou laboratório - 26%
Poucas opções de médicos, hospitais e laboratórios - 21%

Médicos
Difícil marcar uma consulta - 19%
O profissional não atende mais o plano - 18%

Pagamento
Teve de arcar com valor adicional para fazer consultas, exames ou procedimentos - 19%
Foi obrigado a gastar com procedimentos e exame por falta de cobertura - 12%

Burocracia
Demora para autorização de exames/liberação de guias - 13%
Não cobertura de procedimento/exame - 12%

Fonte: Datafolha

Melhorias provocam dúvidas
Especialistas em direito do consumidor não acreditam muito na eficácia das medidas adotadas pela Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS). Além de prever dificuldades na fiscalização, ninguém sabe como será o parâmetro adotado na relação entre número de médicos e de beneficiados atendidos. ;Sem um padrão, não há como mensurar se o atendimento será feito dentro do prazo ou não. Isso vai dificultar bastante a fiscalização;, disse a coordenadora institucional da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), Maria Inês Dolci. Como a maioria dos agendamentos clínicos são feitos por telefone, ninguém sabe ao certo qual será o procedimento para provar o descumprimento de prazos.

Maria Inês ressalta que muitos consumidores vão ficar em desvantagem com a nova resolução. Para ela, a possibilidade de ser atendido em outra localidade da desejada é um problema, pois nem sempre o usuário vai querer se deslocar muito para se consultar. ;Além disso, muitos pacientes já possuem um histórico com determinado médico. É uma relação que é construída e que nem sempre a pessoa quer abrir mão e começar do zero;, analisou.

Abandono
Apesar de apregoar o aumento do número de médicos nas redes de atendimento das operadoras de planos de saúde, o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz d;Avila, também é cético em relação à melhora no atendimento ao consumidor. ;Hoje, os bons médicos estão abandonando as redes, porque consideram uma falta de respeito receber apenas R$ 30 por uma consulta (valor que os planos repassam aos profissionais);, analisou d;Avila. Para ele, uma boa solução para o setor seria a mudança do atual modelo dos planos de saúde, cancelando a cobertura de consultas, que seriam pagas pelo paciente e, posteriormente, ressarcidas pela empresa.

As novas regras só entrarão em vigor em 20 de setembro. Até lá, quem precisar do serviço vai continuar enfrentando longas filas de espera. (FM)

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