postado em 23/06/2011 09:38
;Assim eu não consigo trabalhar. Chega esse carrão, todo mundo fica olhando para ele e ninguém me vê aqui;, comentou o vendedor de caquis, quando o Camaro SS prata testado pelo Correio parou em um dos semáforos das vias transversais que dão acesso ao Eixo Monumental. ;Amigo, vou contar um segredo;, disse a fotógrafa Zuleika de Souza, no banco do carona. ;Olhe bem para a nossa cara e você vai perceber que ninguém aqui é dono do carro... É de teste.; Oportuno, o esclarecimento. É que o carro chama tanta atenção que chega a deixar constrangido quem está ao volante.Por onde passa, o Camaro causa sensação. Tem sido assim desde os dois últimos anos da década de 1960, quando o poderoso esportivo da Chevrolet começou a circular no Brasil. Tão bem-sucedida foi a ideia da montadora que, passados mais de 40 anos, pouca coisa precisou ser mudada no visual. Bancos com regulagens elétricas e aquecimento, ar-condicionado digital e uma série de mimos vêm de série. Mas isso nem é tudo. À venda em unidades limitadas por R$ 185 mil, o modelo arranca suspiros até de quem não faz ideia do que ele é capaz.
Porque aí é que começa a ficar mais emocionante a história. Sob o capô, o motor V8 de 6,1 litros abriga nada menos do que 406cv, um haras automobilístico, sem exagero. Até os pouco apaixonados pela aventura de dirigir percebem que, a bordo, a melhor posição é a oferecida pelo banco do motorista. Ao dar a partida, vem a exata noção de que a fera despertou. E, mesmo que você a princípio não tenha disposição para conferir a potência do motor, em questão de minutos, o conjunto do ambiente esportivo vai acionar a ordem no cérebro: acelere!
Um leve toque no pedal é suficiente para a deixa: o Camaro ;gosta; de ser provocado. Praticamente pede isso, embora consiga manter toda a classe em marcha lenta. A questão é que o motor instiga a aumentar a velocidade e, então, o primeiro desejo do condutor é ganhar a estrada e sair dos limites.
Comandos
É palpável a diferença de um esportivo, como o Camaro, em relação aos demais modelos de automóveis. E isso é o que se pode sentir ao abrir a porta do motorista e assumir o posto: de cara, a pessoa fica em uma posição muito baixa. No console, os quatro mostradores indicam pressão e temperatura do óleo, voltagem da bateria e temperatura do óleo da transmissão. O volante imenso, daqueles que sugerem abraço, dá ao motorista mais uma noção: a de que dirigir e pilotar são atitudes diferentes.
No Camaro é a segunda possibilidade que o condutor encara. Uma aventura. Ao dar a partida, uma leve pressão diferente da programada desperta a cavalaria sob o capô, que praticamente treme, sacolejado pelo rugido do motor. Ligada a ignição, uma tela quadrada aparece no para-brisa. É o head up display, mecanismo que projeta somente no campo de visão do motorista informações as mais diversas, como velocidade, temperatura, a faixa da rádio, CD, pendrive (o som tem entrada auxiliar e USB) etc. A exemplo das demais luzes de iluminação do painel, as das letras do head up são azuis. Ou melhor, blue ice, recurso já utilizado por outros carros de luxo.
Em menos de cinco segundos, ele atinge 100km/h, não raramente deixando marcas no asfalto feitas pelos imensos pneus de aro 20. Um perigo, uma tentação. Em pista de prova, também rompeu limites de tempo: em pouco mais do que isso, chegou aos 203kh/h. Não avancei. Já era suficiente para sentir que o carro, com velocímetro que chega aos 300km/h em velocidade final, é uma fera pedindo a todo tempo para ser provocada. Na verdade, o Camaro é limitado eletronicamente a 250km/h ; o que, convenhamos, faz pouca diferença da marca oficial do hodômetro, em termos de velocidade irresponsável.
Afinal, o Camaro é esportivo, não exatamente um carro para o dia a dia ; embora circule pelas ruas. Acontece que a esportividade nasceu para o ambiente selvagem, com ou sem asfalto. Na cidade, volta e meia um modelo desse nicho porta-se como um peixe solto no mato. Estranha. E esse sintoma, mais cedo ou mais tarde, o entusiasmado condutor de um Camaro poderá constatar. A visibilidade traseira do carro é muito ruim, fato agravado pelas largas colunas traseiras e pelas janelas estreitas, que são padrão entre os carros de briga. Não adianta tentar colocar a cabeça para fora a fim de enxergar melhor, pois a abertura máxima dos vidros mostra que também esse acesso é limitado. OK, ele tem sensor de ré, o que não deixa de ajudar na hora das manobras. Porque aqui se trata de um modelo que exige espaço.
Quase cinquentão
O Chevrolet Camaro nasceu em 1966, nos Estados Unidos, onde foi lançado como versão 1967. Era oferecido com oito opções de motorização: dois motores com seis cilindros em linha e outros seis V8, de 3,8 litros a 7,0 litros. As versões eram RS, SS e S Z28, essa última, a mais esportiva. No Brasil, ele só é comercializado na versão SS