O entusiasmo que tomou conta da população nos últimos anos, em decorrência do forte crescimento econômico, deu a muitos a impressão de que o futuro chegou para o Brasil. Não foi à toa. No curtíssimo período entre julho de 2009 e o mês passado, já com o país plenamente recuperado dos estragos da crise mundial, 13,3 milhões de pessoas ascenderam às classes A, B e C. Nas duas primeiras, que formam o topo da pirâmide social brasileira, o incremento proporcional foi mais expressivo: 12,8% contra 11% da tradicional classe média. Toda essa mobilidade social leva o Brasil a liderar um ranking de 144 nações, no qual aparece como a nação mais otimista em relação aos próximos cinco anos. Em uma escala de 0 a 10, os brasileiros classificam com nota média de 8,7 sua expectativa de satisfação com a vida em 2014. Na pesquisa feita no início de 2011, o país já era o recordista.
Para Ricardo Paes de Barros, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), a elevação de todos os estratos de renda decorreu de uma ação direta nas camadas menos favorecidas, que acabou empurrando toda a população para condições mais favoráveis. ;O Brasil conseguiu promover a principal redução de pobreza e desigualdade das duas últimas décadas graças a uma combinação de políticas públicas bem sucedidas, como os sucessivos ganhos reais do salário mínimo e os programas de transferência de renda. Os sinais disso podem ser percebidos por todos ângulos de análise;, avalia, com a autoridade de ser um craque em políticas sociais.
A constatação do crescimento da renda nas classes A e B faz parte do estudo Os emergentes dos emergentes, coordenado pelo professor Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que será lançado hoje em São Paulo. O levantamento mostra que desde 2003, 50 milhões de pessoas, mais do que a população da Espanha, foram incorporadas ao mercado consumidor.
Concentração
Neri pondera que a diminuição de disparidades sociais só foi possível porque, ao contrário dos demais países emergentes ; pouco afetados pela crise global ;, no Brasil, os indicadores sociais vêm tendo desempenho melhor do que o do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso, quando se olha para a pesquisa de otimismo da FGV pode-se depreender que ;o país vai melhor para a população do que para os economistas;. Ela ressalta ainda que, nos demais Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a riqueza cresce, mas a desigualdade também.
;O crescimento da economia (brasileira) não foi um movimento concentrador de renda. E isso só foi possível por causa do aumento expressivo do salário mínimo e dos gastos assistenciais;, completa o coordenador da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Cláudio Hamilton.
A redução da desigualdade também se apresenta geograficamente. Cada vez mais os ricos se espalham pelo país, reduzindo a discrepância do desenvolvimento entre as regiões. Estudo feito pela consultoria Cognatis Geomarketing para a revista Exame aponta que o Distrito Federal tem, proporcionalmente, o maior número de ricos entre a população: 27% fazem parte das classes A e B. Quando consideradas apenas as capitais, Brasília fica em quarto lugar, com 28% dos moradores no topo da pirâmide, perdendo apenas para Florianópolis, Vitória e Belo Horizonte (veja quadro).
Apesar de 61% da riqueza ainda estar situada na região Sudeste do país, o Nordeste deixa para trás, aos poucos, o estigma da pobreza e já abriga 2,6 milhões de abastados. ;A educação é um dos fatores de melhora das condições de renda da população brasileira. É também uma das áreas que vêm requerendo mais esforço do governo para aprimorar os seus resultados;, constata Paes de Barros. É aguardar para ver. Atualmente, são 20 milhões nas faixas A e B, que, em 2014, serão 30 milhões. O suficiente para manter o otimismo em alta.
Salto espetacular
Levantamento da Consultoria IPCMaps aponta que 73% das famílias brasileiras melhoraram de vida e migraram para faixas de renda mais altas nos últimos 14 anos. É uma das maiores taxas de mobilidade vistas no mundo em um prazo considerado pequeno, acima das registradas na Suécia (51,5%), no Canadá (50,1%) e nos Estados Unidos (48%). Para o diretor da IPCMaps Marco Pazzini ;agora, a nova onda de migração é para as classes A e B;.