postado em 30/06/2011 08:00
Uma verdadeira guerra política pode explodir com a participação do governo na negociação envolvendo a compra dos ativos do Carrefour no Brasil pelo Grupo Pão de Açúcar. Indignada com a possível utilização de dinheiro público na iniciativa privada, a oposição vai convocar o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para discutirem como será a participação federal na nova empresa. O requerimento deve ser votado na próxima sessão da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, prevista para ocorrer na terça-feira.Na esfera privada, a batalha também será extensa, segundo a opinião do mercado. Analistas acreditam que, mesmo se o empresário Abílio Diniz convencer os sócios do Casino ; principal rival do Carrefour na França ; a aceitarem a nova parceria, a concretização do acordo só deve acontecer após um processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A complexidade é tamanha que o caso poderá se igualar ao da Brasil Foods, criada após a união da Sadia com a Perdigão, arrastando-se por anos.
;A operação pode até ser aprovada pelo Cade, mas terá fortes restrições, como venda de ativos ou eventualmente o repasse de uma das marcas;, afirmou o ex-presidente do órgão antitruste e presidente da Latin Link Consultoria, Ruy Coutinho. ;Haverá disputas na justiça, antes mesmo de o Cade se posicionar. A rede Casino não vai perder o direito de assumir o controle da empresa de maneira tão fácil;, completou. Sem a operação, a rede francesa poderia indicar um nome para o comando do Grupo Pão de Açúcar em 2012.
O Novo Pão de Açúcar (NPA) representará 27% do mercado varejista no país, segundo as empresas. Alguns analistas, no entanto, acreditam que esse número pode chegar a 32%. ;A posição relevante da companhia seria muito forte. O concorrente mais próximo ficaria com apenas 11%;, disse o ex-presidente do Cade. Além disso, Coutinho alerta para outros problemas, como cortes de gastos e redução de unidades. ;Haverá retração nos investimentos em tecnologia e até na variedade de produtos. Isso pode trazer prejuízos até para os fornecedores. Acho que a operação tem mais aspectos negativos;, revelou. Apesar das perigosas conseqüências, há quem defenda a fusão como benéfica para o país. ;Eu estou analisando a fusão como positiva, pois ela irá consolidar a participação do Brasil no varejo mundial e ser uma empresa forte em nível global;, disse o coordenador do núcleo de estudos do varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM), Ricardo Pastore.
Representantes da Força Sindical e da Federação dos Empregados do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomerciários-SP) divulgaram um comunicado demonstrando preocupação com possíveis demissões em massa. Abílio Diniz, por sua vez, defendeu a operação afirmando que ela manterá a força da companhia. ;Nossa meta é sempre crescer, vamos continuar assim. Atualmente, temos 150 mil empregados, todos com carteira assinada e benefícios, e eles serão mantidos;, garantiu.
Relação difícil
A relação entre o empresário Abílio Diniz e o presidente do Casino, Jean-Charles Naouri, não tem sido das mais amigáveis há tempos e azedou anteontem quando Naouri se recusou em receber Diniz em Paris. O grupo francês tem o direito de se tornar o único controlador da rede brasileira em 2012 e, portanto, declararam a fusão como ilegal. No acordo inicial, de 2005, nenhum dos sócios poderia fazer qualquer negociação de compra sem o que o outro fosse comunicado.