Economia

Em livro, economista Cláudio Porto dá sugestões para o país de 2022

postado em 04/07/2011 08:50
O Brasil membro do clube de países desenvolvidos deixou de ser discurso de analistas e políticos para se tornar perspectiva factível, a ser confirmada na próxima década. Partindo dessa expectativa, o economista Cláudio Porto, presidente da Marcoplan, reuniu 31 especialistas que confirmam o vento a favor e fazem propostas para o país vencer obstáculos rumo ao Primeiro Mundo. Organizador, ao lado de Fabio Giambiaggi, do recém-lançado livro 2022 (Editora Campus), Porto afirma nesta entrevista ao Correio que o Brasil precisa acelerar essa subida para a primeira divisão, em que vai exibir indicadores sociais e econômicos similares aos de nações industrializadas. No ano do bicentenário da independência, o país vencerá a pobreza extrema e sepultará velhas mazelas como falta de planejamento e de escolaridade. Apesar disso, seu otimismo é moderado, fazendo questão de apontar riscos ao futuro, como deficiências de mão de obra e de infraestrutura, além do custo com a burocracia. A pior ameaça, acredita, está justamente numa acomodação com o sucesso de hoje.

OTIMISMO
Inegavelmente, o Brasil já mudou de patamar. Pela primeira vez é possível ser otimista com os pés no chão, traçando perspectivas seguras. Já conseguimos enxergar o Primeiro Mundo como ponto de chegada, sem que isso seja apenas um exercício de retórica. A renda per capita do brasileiro é atualmente de US$ 10 mil e vai dobrar em 2022. O importante é saber como vamos nos inserir no jogo da economia globalizada: se será apenas como um grande produtor de commodities. Mesmo que a desindustrialização não ocorra, muitos elos produtivos correm risco de desaparecer. A China, por exemplo, conseguiu evoluir da fabricação de produtos ruins e baratos para bons e mais baratos.

PLANEJAMENTO
Apesar de conviver há quase 20 anos num cenário de estabilidade monetária, o país ainda não consolidou sua cultura de planejamento de longo prazo. Povo e governo brasileiros são, por natureza, imediatistas. O Brasil se move lenta e conturbadamente, como uma baleia. E essa inércia o impede de dar guinadas no trajeto. Por sorte, o país tem se deslocado nos últimos 25 anos na direção correta. Mas precisa acelerar e impedir desvios. Chegou a hora de aperfeiçoar métodos de gestão e reconhecer as vantagens do planejamento, como fez a China, para deixar a ignorância e o improviso no passado. País sem plano acaba sendo pautado por outros. O livro 2022 contribui como visão prospectiva da economia.

ENERGIA EM ALTA
Estudos mostram que, em um cenário menos otimista, a necessidade de energia no Brasil vai dobrar nos próximos 20 anos. Mas não está descartada a hipótese dessa demanda triplicar até 2030. Os negócios energéticos no país já crescem em ritmo três vezes maior que a média mundial, de 1,8% ao ano. O maior desafio é conduzir bem os novos projetos de óleo e gás e ainda agilizar outros de geração, retardados pelo licenciamento ambiental. As oportunidades geradas pelo petróleo e pelo biomassa não são concorrentes, mas complementares, permitindo ao país oferecer um leque de opções a um mundo faminto por energia, além de dar espaço a outras áreas, como a petroquímica fina. A extração do petróleo do pré-sal também vai criar uma competência tecnológica nova.

MISÉRIA ZERO
A meta estabelecida pela presidente Dilma Rousseff, de eliminar a pobreza extrema no país, é factível de ser alcançada, mas não em apenas um mandato. Em 2025, as classes A, B e C deverão representar 90% da população brasileira. Os outros 10% serão da classe D, sendo que parte dos seus integrantes não pode ser chamada de pobres. Trata-se de uma parcela da sociedade que continuará a depender da assistência do Estado. A dinâmica econômica dos emergentes e os saltos de produtividade agrícola estão tornando miseráveis uma camada residual. Os maiores desafios estão na África e na Índia.

RISCOS AO SUCESSO
O maior risco ao futuro do Brasil é o da acomodação com o sucesso experimentado agora. Se formos apenas embalados pela inércia com os crescentes e valorizados volumes de exportações de matérias-primas agrícolas e minerais e com as auspiciosas perspectivas do pré-sal, podemos perder a chance de progredir satisfatoriamente. Os dois maiores obstáculos à expansão da economia estão dados, representados pelo apagão de mão de obra, com deficiências de educação e de qualificação profissional, e pelas limitações gerais da infraestrutura. Além de nos deixar menos competitivos, esses gargalos nos impedem de ousar avanços maiores.

PESO DO ESTADO
A pesada máquina de governo e a elevada carga tributária necessária para sustentá-la são problemas para o desenvolvimento brasileiro. O custo extra tira fôlego de investimentos privados, que precisam ser atraídos e estimulados para superar os desafios já colocados pela economia. Em paralelo, a tendência de maior proteção da economia aos importados pode agravar falhas de competitividade. O ideal é defender o comércio exterior sem perder de vista a capacidade do país competir. Nesse sentido, é um sinal de alerta quando o Estado se move para atuar diretamente em setores já privatizados, como no caso das telecomunicações, com a recriação da Telebrás.

GOVERNOS TÉCNICOS
Os gestores públicos comprometidos com as boas práticas gerenciais vêm colecionando bons resultados e angariando reconhecimento, inclusive das urnas. Governantes como Antônio Anastasia, de Minas Gerais, provam que a vontade política precisa se aliar à capacidade de inovar para solucionar problemas antigos. Os métodos de gestão aplicados ao setor público são uma exigência do momento, para obter melhor resultado nos gastos. O Planalto sabe disso e boa parte do sucesso do país no futuro vai depender do equilíbrio fiscal.

REFLEXÃO FINAL
Hoje o Brasil não convive mais com ameaças ao crescimento que tanto transtorno deram no passado: as crises energéticas e de financiamento externo. Além disso, o mercado consumidor caminha rapidamente para alcançar a quinta posição mundial, a partir de 2014. Apesar disso, as vantagens comparativas da economia brasileira e os gargalos que precisa superar são um convite à reflexão. O maior risco é, justamente, o da acomodação, dos poderes Legislativo e Executivo autorizarem gastos sem passar pela crítica e análise. Os atrasos do país na área educacional e a urgência em se investir para superá-los se tornaram, por exemplo, um consenso, repetido nos discursos de empresários e políticos.

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