postado em 05/07/2011 08:06
No mesmo dia em que anunciou um segundo processo contra a fusão do Grupo Pão de Açúcar com as operações da rede francesa Carrefour no Brasil, Jean-Charles Naouri, presidente do rival Casino ; principal sócio do conglomerado do empresário Abilio Diniz ;, deu com a cara nas portas do governo em Brasília. Ele chegou ontem pela manhã à capital federal, mas não conseguiu ser recebido por nenhuma autoridade de primeiro escalão, muito menos pela presidente Dilma Rousseff.A primeira porta que se fechou a Naouri foi a do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Ele teria uma reunião com o ministro da pasta, Fernando Pimentel, mas o compromisso foi cancelado, porque Pimentel estava no velório do ex-presidente da República Itamar Franco, em Belo Horizonte. Sua assessoria, entretanto, disse que o encontro não estava agendado e que, hoje, Pimentel viajará a Paris. Em Belo Horizonte, o ministro chegou a comentar o movimento do Pão de Açúcar. Afirmou, no entanto, que, para não atrapalhar as negociações entre as empresas, o governo não irá mais se manifestar sobre as negociações envolvendo o grupo brasileiro e o Carrefour.
A presidente Dilma também mandou fechar as portas para o empresário francês. De acordo com o Palácio do Planalto, Naouri pediu uma audiência com a chefe de governo, mas não havia perspectiva de que ele fosse recebido nem ontem nem hoje.
Alimentou-se também a expectativa de que Naouri fosse recebido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas o encontro não constava da agenda da autarquia. Hoje, José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça do governo FHC e advogado do Casino, tenta uma nova via-sacra a favor de seu cliente.
Hostil e ilegal
Depois das tentativas frustradas na capital federal, restou a Naouri viajar ao Rio para ser recebido pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. O resultado do encontro não foi divulgado. Pela proposta de compra feita por Diniz, a empresa brasileira Gama, do Banco BTG Pactual, será responsável pela operação avaliada em R$ 4,5 bilhões, na qual o BNDES injetaria R$ 3,9 bilhões em troca da participação acionária do Novo Pão de Açúcar, holding a ser criada após a fusão.
O Carrefour divulgou um comunicado afirmando que o Conselho de Administração do grupo se declarou favorável à fusão com a rede brasileira. O Casino, por sua vez, disse que ;o Carrefour e seus administradores assumem risco ao aceitar, apesar das advertências, uma operação iniciada de maneira hostil e realizada com negociações ilegais;.
Após o anúncio da proposta de fusão, no último dia 28, o Casino foi às compras e ampliou de 37% para 43,1% a participação no capital total do Pão de Açúcar. A operação inflou em mais de 10% o preço das ações do Pão de Açúcar na semana passada, mas elas voltaram a cair ontem. Os papéis recuaram 1,23%, encerrando o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (BM) a R$ 72,09.
Arbitragem
O Casino abriu um segundo processo de arbitragem contra Diniz na Câmara do Comércio Internacional (CCI). O grupo solicita o respeito ao acordo de acionistas, de 2005, por meio do qual poderia assumir o controle do Pão de Açúcar em 2012, tendo o poder de nomear o futuro presidente da rede hoje comandada pelo empresário brasileiro.