postado em 13/07/2011 09:38
Como era de se esperar em uma operação na qual foi com muita sede ao pote ; ignorou o principal sócio, o grupo francês Casino, e se apoiou nos cofres do governo ;, o empresário Abilio Diniz viu ontem ruir o desejo de assumir os negócios do Carrefour no Brasil por meio do Pão de Açúcar. Sem o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que não colocará mais nenhum centavo na transação, conforme antecipou o Correio na edição de 6 de julho, e diante do veto de todos os integrantes do Conselho de Administração do Casino, Diniz foi obrigado a desistir, pelo menos por enquanto, da fusão que resultaria em uma empresa com faturamento anual de R$ 65 bilhões.Agora, se ainda quiser insistir na fusão com o Carrefour, Diniz terá de convencer o sistema financeiro privado a lhe emprestar entre R$ 3,9 bilhões e R$ 4,5 bilhões ; compromisso que havia sido assumido pelo BNDES. E, principalmente, reverter a posição de seu maior algoz no Casino, o presidente do grupo, Jean-Charles Naouri, em 2 de agosto próximo, quando ocorrerá a reunião do Conselho de Administração da Wilkes, empresa franco-brasileira que controla o Pão de Açúcar. O Casino é o principal acionista da maior rede de supermercados do Brasil, com 43% do capital.
Consumidor
O recuo do BNDES foi determinado pela presidente Dilma Rousseff, que se assustou com a repercussão negativa em torno da fusão anunciada no fim do mês passado. Para ela, não havia por que o banco público garantir um negócio que resultaria em uma enorme concentração no mercado de varejo de alimentos, prejudicando os consumidores. A empresa resultante da operação, a Nova Pão de Açúcar, teria poder de sobra para forçar aumentos de preços. Outro argumento de Dilma foi o de que, mesmo colocando a maior parte do dinheiro na fusão (que custaria R$ 5,5 bilhões), o BNDES seria acionista minoritário, sem poder de veto a abusos. Para garantir uma saída honrosa, a instituição justificou, por meio de uma nota, que a sua desistência em apoiar o Pão de Açúcar foi resultado da recusa do Casino de avalizar a operação.
Responsável por estruturar a proposta de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, a Gama, criada pelo Banco BTG Pactual para ser o guarda-chuva do negócio, destacou que manterá o diálogo aberto por acreditar que a associação entre as duas redes de varejo é ;excepcional; e poderá ser reavaliada no futuro. Poucos, no entanto, acreditam que o Casino, que tem o direito de assumir o controle da rede comandada por Diniz a partir de 2012, recuará em sua posição, pois o Brasil é estratégico para o crescimento do grupo francês, que injetou US$ 2 bilhões no Pão de Açúcar.
Abilio Diniz participou ontem, em Paris, da reunião do Conselho de Administração do Casino, que durou duas horas e meia, certo de que sua proposta sairia vitoriosa. Mas foi isolado por completo. Baseado em consultorias encomendadas aos bancos Santander, Goldman Sachs, Messier-Maris & Associés, Rothschild & Cie e Merril Lynch, Jean-Charles Naouri destruiu todos os argumentos do empresário brasileiro. Ao fim do encontro, todos os conselheiros do Casino votaram contra Diniz, argumentando que a fusão com o Carrefour é contrária aos interesses do Grupo Pão de Açúcar (GPA), do conjunto de acionistas e do Casino, segundo um comunicado oficial.
A posição do Casino foi tão firme que até mesmo o Carrefour indicou, logo após a reunião do rival francês, que a fusão com o Pão de Açúcar tinha feito água. Não à toa, o presidente mundial do grupo, Lars Oloffson, recolheu-se. Estava de malas prontas para vir ao Brasil, mas indicou ter desistido da viagem. Os mercados também refletiram o fracasso das negociações de Abilio Diniz. No Brasil, as ações do Pão de Açúcar já abriram o dia em queda de mais de 2,5%. Em Paris, os papéis do Carrefour amargaram perdas de até 4%.
Com a fusão inviabilizada neste momento, os investidores começaram a questionar se a operação realmente resultaria em ganhos para os acionistas das duas empresas. ;O Carrefour tem uma estrutura deficitária no Brasil. Tanto que seus diretores esconderam, por um bom tempo, um rombo de R$ 1,2 bilhão nos balanços. Além disso, as margens (de lucro) do Pão de Açúcar, que já são baixas, cairiam mais;, afirmou um operador de um banco estrangeiro. Para o coordenador de pós-graduação da Trevisan Escola de Negócios, Olavo Furtado, a venda do Carrefour no Brasil é questão de tempo. ;O grupo francês será vendido cedo ou tarde;, comentou.
No Senado
Antes de o BNDES formalizar a sua retirada da fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, Abilio Diniz defendeu a compra dos ativos do grupo francês e destacou que ;o âmbito para a deliberação da proposta não é o Conselho de Administração do Casino, mas sim o Conselho de Administração da Wilkes, controladora do Pão de Açúcar.; Ele destacou que apresentaria a sua proposta detalhadamente no fórum adequado. ;Como fundador e responsável pelo desenvolvimento do Grupo Pão de Açúcar, reafirmo que a associação prevista com o Carrefour será uma oportunidade excepcional, pois criará uma companhia maior, mais eficiente e lucrativa;, disse. De nada adiantou.
Agora, os olhos estão voltados para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, na qual o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, terá de se explicar sobre como a instituição se envolveu no negócio. O Palácio do Planalto, porém, espera que, com a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour enterrada, a convocação de Coutinho seja revertida. ;Não há mais por que se fazer marola sobre o assunto;, afirmou um assessor de Dilma Rousseff.