postado em 24/07/2011 08:00
A jovem Eliza Regina Alves Matias, 18 anos, não consegue segurar as lágrimas ao conversar sobre sua situação profissional e financeira. Com a oitava série do ensino fundamental incompleta e um bebê de um ano e meio no colo, ela praticamente bate ponto na agência do trabalhador e às portas dos lojistas há um ano. Mas, sem experiência profissional, não tem muitas perspectivas. ;O maior problema é não ter estudo. Fico triste porque, na minha infância, faltou tudo, desde roupa até comida. E não quero que meu filho passe por isso;, diz.Eliza engrossa as estatísticas de um mercado de trabalho que impõe aos jovens barreiras quase intransponíveis. Enquanto o país comemora a queda do desemprego para 6,2%, uma análise dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a desocupação entre quem tem de 18 e 24 anos voltou a crescer.
A taxa média registrada nas seis principais regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre), que tinha caído de 15% para 13,5% entre abril e maio, saltou para 14,4% em junho, mais que o dobro da média nacional. Em Salvador, a realidade é ainda mais dura: o desemprego entre os jovens nessa faixa etária chega a 21,5%. O único desejo de Eliza é ter a oportunidade do primeiro emprego. ;Quero estudar e me qualificar. Mas, para isso, preciso de dinheiro;, diz.
O economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, observa que, para quem está entrando no mercado de trabalho, não importa o lugar do mundo: as vagas são escassas. A Espanha tem taxa de desemprego média de 20,9%. Entre os jovens com menos de 25 anos, esse índice salta para 44,4%. Em Portugal, é de 28,1%. Na Itália, chega a 28,9%. ;Existem várias razões para isso. Uma delas é que o jovem é pouco conhecido no mercado. O empregador não tem informações sobre a produtividade dele e prefere contratar quem está na ativa há mais tempo;, explica Camargo.
A lanterneira Fabiane de Souza Vaz, 24 anos, conhece bem os obstáculos. Depois de ficar um ano e meio desempregada, ela topou o desafio de aprender na oficina de um amigo, onde está há três anos. Mas, com um filho para criar e cursando faculdade de administração à noite, prefere ter um trabalho mais leve, que não a deixe tão cansada ao fim do dia. ;Já tentei ser atendente, balconista e vendedora. Pedem experiência. Dizem que vão ligar e nada. Saio de 15 em 15 dias atrás de outra função;, afirma.
Walisson de Sousa Brito, 19 anos, se mudou do interior de Tocantins para o Distrito Federal em busca de melhores condições de trabalho. Na capital, não demorou a encontrar emprego. Mas conseguiu uma vaga para ganhar um salário mínimo, como atendente em supermercado. ;A minha experiência é como frentista. Deixei currículos e disseram que iam ligar;, diz.
Na avaliação de José Márcio Camargo, o investimento no ensino seria uma forma de ao menos diminuir as disparidades. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação na faixa de quem tem entre um e três anos de estudo é de 3,6%. No recorte de quatro a sete anos, passa para 5,3% e, de oito a 10, para 8,2%. Quando o profissional tem mais de 11 anos de estudo, ela volta a cair, para 6%.
Segundo o especialista, como o empresário não espera muita produtividade de quem tem poucos anos de banco de escola, ele não pensa muito antes de contratar. ;No meio, está quem tem nível intermediário em instituições pouco conhecidas. Com a ausência de informações, o entrevistador prefere não efetivar. Entre quem tem curso superior, já há mais dados, e a taxa cai;.
Áreas carentes
Tarcísio Abreu, professor da pós-graduação em Gestão de Negócios do Ibmec Brasília, defende o fortalecimento do ensino profissionalizante. Esses gargalos concentrados em áreas estratégicas no país que sediará a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 ameaçam o crescimento econômico. ;Precisamos de profissionais qualificados. As áreas de engenharia e agropecuária são carentes. Mas o processo de formação é a longo prazo;, diz.
Falta de experiência
O gerente executivo de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Emerson Casali, cita o alto custo da contratação como um obstáculo à concessão de emprego aos jovens. ;As empresas resistem a contratar pessoas sem experiência, pois há custos adicionais em torná-las aptas ao trabalho. Essa é uma parte do problema. A outra é que as despesas de contratação são as mesmas para quem tem e quem não tem experiência;, exemplifica. Segundo ele, há ainda a questão do tipo de vaga mais ofertada. ;Os jovens têm demonstrado pouco interesse por setores com mercado aquecido, como a construção civil;, avalia.