Economia

Investidores fogem das ações e aprofundam as perdas nas bolsas de valores

postado em 06/08/2011 08:00
Operador da Bolsa de Seul não consegue acreditar no que vê na tela do computador: uma onda de prejuízos em  todo o mundo. Em São Paulo, o índice Bovespa acumulou perdas de 9,99% nos últimos cinco dias e de 23% no anoO esforço coordenado das autoridades da Zona do Euro para apaziguar os ânimos dos investidores foi incapaz de afastar a onda de pessimismo que atormenta o mundo. Tanto que as bolsas de valores da Ásia e da Europa voltaram a registrar pesadas perdas ontem. Como resultado, os mercados tiveram a pior semana desde novembro de 2008, quando o planeta enfrentava o terremoto provocado pelo estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos. Os pregões europeus computaram perdas de 9,8%. O indicador MSCI Europe apontou que as empresas com papéis listados no Velho Continente perderam US$ 820 bilhões em valor.

Todo o nervosismo dos investidores decorre da percepção de que a União Europeia não tem uma estratégia clara de atuação para evitar a deterioração das finanças da Espanha e da Itália. Para os analistas, a compra de bônus dos governos da Irlanda e de Portugal, medida tomada até agora, é insuficiente para conter um onda de contágio na região. Eles ressaltaram ainda que o Banco Central Europeu (BCE) dispõe de poucos instrumentos para estimular a atividade econômica, uma vez que as taxas de juros estão quase no chão e não há espaço para aumento de gastos por parte dos governos.

Na preocupante avaliação da corretora XP Investimentos, apesar de haver um considerável nível de irracionalidade nos movimentos dos últimos dias ; reflexo mais da tentativa dos investidores de protegerem suas aplicações do que da avaliação que fazem das condições financeiras ;, a Europa encontra-se na maior crise de confiança e fiscal desde a Segunda Guerra Mundial. ;Ainda assim, com exceção da recente dificuldade da Itália e da Espanha em rolar suas dívidas, todo o cenário já estava no radar. Não foi nenhuma surpresa como a queda do Lehman Brothers, em 2008;, destacou a instituição em relatório.

Incertezas
Assim como no bloco europeu, a sombra de incertezas solapou os pregões asiáticos, que responderam com abruptas quedas nas negociações, das quais a pior se deu em Hong Kong ; baixa de 4,29% apenas ontem. Em Seul, o recuo foi de 3,70% no dia. Em Tóquio, as medidas tomadas pelo Banco Central do Japão para evitar a supervalorização do iene e estimular o consumo e a produção não seguraram a confiança dos investidores. O índice Nikkei caiu 3,72%. Na maior economia da região, a China, a Bolsa de Xangai encolheu 2,15%.

Segundo a XP, o cenário de incerteza deve se manter até mesmo nas bolsas norte-americana e brasileira, que registraram uma ligeira recuperação nas negociações de ontem. Influenciado pela criação de 117 mil vagas de trabalho nos Estados Unidos, o índice Dow Jones, de Nova York, encerrou o dia com alta de 0,54%, mas com perdas de 5,75% na semana. O otimismo momentâneo tomou conta dos investidores porque, embora a desocupação ainda seja de 9,1% no país, o resultado foi melhor do que o esperado.

Os agentes de mercado também receberam bem as declarações do primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que anunciou a adoção de um princípio constitucional para um orçamento equilibrado e a aceleração das medidas do programa de austeridade fiscal. Apesar do dia positivo, os economistas do Goldman Sachs rebaixaram a previsão de crescimento para os EUA, avaliando que as chances de a maior economia do mundo voltar a cair em recessão são, agora, de um para três.

Em São Paulo, o Ibovespa subiu 0,26%, aos 52.949 pontos. A recomposição, entretanto, não reverteu as perdas dos quatro pregões anteriores, levando a bolsa de valores paulista à pior semana desde novembro de 2008, com prejuízo de 9,99%. No ano, a queda chegou a 23,60%. Apesar de fechar no azul ontem, as principais ações negociadas no pregão ; Petrobras e Vale ; encerraram o dia com quedas de 2,28% e 2,50%, respectivamente. A deterioração dos papéis ainda responde à fraca procura pelas commodities (produtos básicos com cotação internacional) no mercado externo. O índice CRB, que congrega 19 matérias-primas, voltou ao patamar de 7 meses atrás, com recuo de mais de 1%.

Reservas
Mesmo com o mercado brasileiro registrando comportamento tão próximo dos observados em 2008,l auge da crise, a presidente Dilma Rousseff saiu em defesa da economia nacional e garantiu que o país está mais preparado para enfrentar as atuais turbulências do que há três anos. ;Hoje, o Brasil ainda está mais forte do que estava. Em 2008, tínhamos condição de enfrentar a crise quando ela veio. Hoje, temos mais condições;, afirmou em Salvador. Entre os instrumentos disponíveis para combater os efeitos de uma novo revés global, Dilma destacou as reservas internacionais.

;Hoje, nós temos 70% a mais de reservas de recursos. Temos mais de US$ 348 bilhões;, lembrou. As declarações foram feitas depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitir que, apesar do ;cordão de isolamento; que o governo está disposto a colocar em torno do país, ele continua vulnerável aos impactos da crise. Um dos que mais tiram o sono da equipe econômica é a invasão de dólares. A divisa voltou a encerrar o dia em queda (-0,44%), cotada a R$ 1,581.

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