postado em 10/08/2011 08:00
Paris ; O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, cobrou dos governos dos países do continente, especialmente os da Itália e da Espanha, que trabalhem fortemente para reduzir seus deficits orçamentários e, dessa forma, recuperar a confiança dos mercados. ;O que esperamos é que os governos façam o que consideramos que é seu trabalho, à altura de suas responsabilidades;, declarou, em entrevista à Rádio Europa 1.Desde segunda-feira, o BCE vem realizando pesadas compras de títulos italianos e espanhóis para evitar que as duas economias sejam arrastadas pela crise financeira. Em contrapartida, a instituição exige que eles adotem medidas duras para equilibrar suas contas.
A preocupação com a fragilidade fiscal apresentada por muitos países europeus vem ganhando força entre as autoridades europeias. O ministro da Economia da Alemanha, Philipp Roesler, sugeriu ontem a criação de um ;conselho de estabilidade; para a Zona do Euro, que, além de orientar a aplicação de recursos, teria poderes para aplicar sanções aos países que administrassem mal as suas finanças.
Limites
Roesler pediu ainda aos países que fazem parte da união monetária que adotem ;o mais rapidamente possível; emendas constitucionais para estabelecer limites ao crescimento de suas dívidas. Segundo ele, os governos precisam se esforçar para construir uma ;cultura comum de estabilidade; a fim de afastar que a crise de confiança se alastre.
As cobranças aos governos deficitários foram feitas num dia em que os investidores respiraram mais aliviados, depois das quedas dramáticas registradas na segunda-feira pelas bolsas de valores em todo o mundo. A melhora do cenário, no entanto, não eliminou todos os focos de nervosismo nas maiores praças financeiras. Ontem, por exemplo, a agência Standard & Poor;s, responsável pelo rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos, desmentiu rumores de que estaria na iminência de fazer o mesmo com os títulos emitidos pela França.
Os boatos surgiram da constatação de que, embora os papéis franceses tenham classificação ;AAA;, a mesma que a S dava aos norte-americanos até a sexta-feira da semana passada, o preço do seguros contra calote, feitos por meio de operações conhecidas como CDS (Credit Default Swap), era maior do que o cobrado para títulos dos Estados Unidos, ou mesmo do Brasil. Ontem, os contratos de CDS franceses com prazo de cinco anos eram negociados com prêmio de 160 pontos-base (1,6%) acima dos juros pagos pelo papel. No caso dos Estados Unidos, o prêmio não passava de 56 pontos (0,56%). Para títulos brasileiros, aos quais a S atribui nota ;BBB-;, o prêmio era de 138 pontos (1,38%).
As especulações sobre a França sustentavam-se ainda na avaliação de que, como mostra baixa taxa de crescimento, o país teria dificuldade para gerar receita fiscal suficiente para garantir, no futuro, os pagamentos da dívida. Essas expectativas afetam o preço dos títulos no mercado secundário, quando bancos e investidores negociam entre si títulos já emitidos pelos governos ou por grandes empresas.
As intervenções do BCE, conseguiram, pelo menos momentaneamente, reduzir os custos de financiamento dos títulos espanhóis e italianos. Ontem, a taxa de juros dos títulos de 10 anos de Espanha estava em 5,018% ao ano, ante 5,138% na segunda-feira. Os papéis da Itália tiveram a taxa reduzida de 5,277% para 5,163%. A ministra da Economia da Espanha, Elena Salgado, afirmou que o país está ;muito longe de precisar de um resgate;. Segundo ela, os fundamentos econômicos da economia país são sólidos e o que existe é apenas ;uma instabilidade nos mercados da dívida;.
Na entrevista à Rádio Europa, Trichet disse também que os países da Zona do Euro precisam implementar rapidamente as decisões tomadas em 21 de julho durante reunião de cúpula em Bruxelas. No encontro, os líderes europeus concordaram em liberar um empréstimo de 159 bilhões de euros para evitar a bancarrota da Grécia e em ampliar a capacidade financeira e operacional do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) para transformá-lo num instrumento efetivo de resgate das economias mais frágeis da região.