postado em 10/08/2011 09:06
A política monetária frouxa dos Estados Unidos estimula especulações no mercado doméstico, mas o Brasil está preparado para agir contra a chamada guerra cambial e a competição comercial predatória, defendeu ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no Congresso. O ministro voltou a dizer que a recente enxurrada de dólares que o país tem recebido está atrelada à política expansionista adotada pelo Banco Central norte-americano, num contexto em que o dinamismo da economia brasileira contrasta com a fraqueza das nações industrializadas. ;Isso alimenta o que nós chamamos de guerra cambial. Mas o Brasil tem agido, impedindo que o real se valorize em demasia;, afirmou Mantega. ;E com falta de mercado lá (fora), todo mundo vai em busca dos países que estão crescendo. O que nós assistimos, no decorrer dessa crise, é que a concorrência comercial ficou mais acirrada e ela se torna predatória;, emendou. Mantega destacou ainda que a crise nos países avançados apenas mudou de fase, com Estados Unidos e União Europeia passando a enfrentar problemas de dívida. A expectativa do ministro é de que a crise atual dure, pelo menos, mais dois anos.
Mantega disse que o governo está tomando as medidas necessárias a fim de evitar que os efeitos da crise econômica mundial prejudiquem o Brasil. O ministro citou medidas de estímulo à indústria, de paralisia na escalada de gastos públicos e defendeu a solidez da política fiscal. Para ele, o fato de as reservas do país serem atualmente maiores do que em 2008 torna possível a adoção de medidas emergenciais de controle dos efeitos da crise, caso elas se tornem necessárias. ;O Brasil está bem preparado até para o agravamento dessa situação mundial. Teremos ônus se isso acontecer, mas, com certeza, sofreremos menos do que outras nações;, declarou.
Liquidez
O titular da Fazenda disse ainda que a experiência da equipe econômica obtida durante a crise de 2008 ajuda na hora de tomar decisões. ;Temos graus de manobra na política monetária que outros países não possuem, situação fiscal forte e um mercado forte. Uma realidade que nos ajuda a encarar com tranquilidade esse cenário;, afirmou Mantega. Mais cedo, a presidente Dilma Rousseff também falou das condições do Brasil para enfrentar a crise global. ;O governo está atento e tem tomado todas a providências necessárias para fortalecer nossa economia, estimular a atividade produtiva e preservar criação de empregos;, disse, durante no lançamento da nova versão do programa tributário Supersimples.
Como Mantega, Dilma também criticou o excesso de liquidez internacional que afeta a competitividade da indústria brasileira e atacou mecanismos de países desenvolvidos para estimular suas economias. ;Vivemos uma conjuntura adversa, porque não são as nossas empresas que são pouco competitivas. O que é muito pouco competitivo é o cenário internacional, que tem as assimetrias criadas de forma artificial;, afirmou.
A presidente também reforçou a capacidade financeira do país para enfrentar a crise econômica mundial, situação que considera melhora que a de 2008. As condições melhores são dadas por
reservas internacionais maiores (próximas de US$ 350 bilhões) e de depósitos compulsórios elevados (cerca de R$ 420 bilhões). ;O grande enfrentamento da crise é a afirmação do nosso mercado interno, afirmação das oportundiades que nós mesmos somos capazes de criar aqui dentro do Brasil e, obviamente, visando a exportação;, declarou.
Apesar das declarações de que o país tem o controle e a crise não deve se agravar, as decisões da cúpula econômica foram criticadas por outros especialistas que debateram, no Congresso, as medidas da crise com Mantega. O ex-ministro da Fazenda Mailson da Nobrega afirmou que há erros na política monetária do governo e as intervenções feitas não são bem estudadas. ;Chegam a ser absurdas;, disse.