postado em 12/08/2011 08:35
O Brasil pode ser arrastado para o centro da crise e entrar em recessão, segundo o Itaú Unibanco, o maior banco privado da América Latina. Pelo cenário da instituição, caso as condições financeiras se mantenham nos níveis atuais, a chance de a forte retração econômica ocorrer fica ;bastante superior a 50%;. No cenário desenhado, em setembro essa probabilidade pode superar os 80% e, no início de 2012, deixar de ser estatística para se tornar realidade. O economista Nouriel Roubini, que anteviu o abalo financeiro internacional de 2008, fez, em entrevista ao The Wall Street Journal, previsão semelhante, mas para a economia global. Para ele, também são de 50% as chances de o mundo afundar numa nova crise.Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, garantiu que, se a deterioração dos mercados persistir, a economia brasileira irá sofrer impactos relevantes. ;A fonte dos problemas é o endividamento público excessivo nas economias maduras. No entanto, essa probabilidade cairá consideravelmente se a recente deterioração dos mercados for passageira;, explicou ele, em um relatório que lista como o Brasil pode ser fortemente contaminado pela instabilidade internacional.
O primeiro impacto recairia sobre o setor exportador. O recrudescimento da crise afetaria a demanda por produtos nacionais. No caso de a China e de outros emergentes ingressarem em desaceleração, haverá queda de preços de commodities ; produtos básicos com cotação internacional. ;Isso reforçaria ainda mais esse quadro de baixo dinamismo das vendas externas;, argumentou Goldfajn. Outro canal seria o consumo. Aversão ao risco e incerteza levariam à queda de confiança dos consumidores e, consequentemente, das compras. Com as famílias deixando de ir às lojas, o empresariado ficaria reticente em realizar investimentos. Em todos esses cenários, o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) seria fortemente impactado.
Contraponto
Para Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton, o cenário tenebroso traçado pelo banco só se concretizará caso a crise atinja o sistema financeiro e, a exemplo de 2008, as linhas de crédito desapareçam. ;Existe uma chance relevante de virar crise bancária, especialmente na Europa, onde as instituições estão dependentes do Banco Central Europeu e acabou a confiança para a realização de empréstimos entre os bancos;, avaliou Carlos Thadeu. ;Crédito é a variável-chave para a crise chegar aqui, mas o Brasil está preparado. Ao contrário de 2008, dificilmente os governos serão surpreendidos;, observou.
Para Wermeson França, economista da LCA Consultoria, as chances de haver recessão aumentaram. ;Mas quase 100% não dá para compartilhar. Na nossa avaliação, a possibilidade disso ocorrer está longe;, afirmou. França concorda com Carlos Thadeu quanto à necessidade de haver uma bancarização da crise para que ela chegue ao nível de uma retração econômica. ;Entretanto, o Brasil está muito bem colocado. Nossos fundamentos macroeconomicos são sólidos e a exposição do nosso sistema financeiro aos bancos estrangeiros é pequena;, ponderou.
Ambos alertam que, se não houver uma definição mais clara sobre o que ocorrerá nos países endividados, sobretudo com a economia europeia, o sobe e desce das bolsas de valores vai variar de acordo com o apetite por risco e com o surgimento de fatos, negativos ou não.
Emprego industrial cai e importação dispara
O emprego industrial caiu 0,2% em junho ante maio, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que chamou a atenção para e redução no ritmo das contratações entre o primeiro (2,6%) e o segundo trimestres de 2011. A desaceleração atingiu, sobretudo, ramos mais expostos à concorrências externa, como produtos de metal, têxtil e calçados e couro. Segundo a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), a participação de mercadorias importadas no consumo dos brasileiros aumentou 1,3 ponto percentual no segundo trimestre deste ano, para 22,9%, o nível mais elevado da série histórica iniciada em 1997. Apesar do ritmo mais lento da atividade e da forte competição dos importados, a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA) avisou que está preparada para uma greve no setor de carnes ainda este ano, caso as empresas não reajustem o piso salarial da categoria, reduzam a jornada de trabalho e deem mais segurança contra acidentes.