Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 17/08/2011 08:00
Os aposentados estão revoltados. O veto da presidente Dilma Rousseff à previsão de reajuste real para as aposentadorias e pensões acima do salário mínimo pegou as entidades representativas do setor de surpresa. ;Vamos fazer barulho novamente;, prometeu o presidente do Sindicato dos Aposentados da Força Sindical, João Batista Inocentini.Segundo ele, é a segunda vez em que Dilma frustra os segurados. ;Na primeira vez, ela ainda não era presidente;, lembrou. De acordo com Inocentini, coube a ela o veto ao aumento negociado com o então presidente Lula. Diante de nova negativa, os aposentados estão convictos de que só conseguirão alguma coisa se forçarem a negociação. ;Vamos mobilizar a categoria e partir para a luta no Congresso.;
A mesma motivação move os associados da Confederação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Cobap). ;Mais uma vez, a presidente provou que não tem interesse em resolver a questão do reajuste dos benefícios previdenciários;, disse o presidente da entidade, Warley Martins. Por isso, ele conclamou todos os presidentes de federações e associações e todos os aposentados e pensionistas brasileiros que se sintam lesados com a política atual a cobrar de seus parlamentares uma atitude. ;Vamos à luta.;
Maria da Glória Gomes Leão, 73 anos, aposentada há 7 anos, lamenta a decisão do governo. ;Não tenho mais o que esperar dessa gestão. Os poderes Executivo e Legislativo sempre conseguem reajustes absurdos e nós ficamos à míngua;, queixou-se. Em sua opinião, a tendência é que a classe seja cada vez mais prejudicada. ;Os jovens de hoje sofrerão muito mais. Até lá, a Previdência já estará falida.;
O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves, até que tentou minimizar o veto. Ele destacou que, ;momentaneamente;, o governo não tem condições de dar um aumento real para os segurados. Garibaldi culpou a crise mundial, que não dá sinais de arrefecimento, e também o fato de a Previdência já pesar bastante nas contas do Tesouro Nacional, que todo ano é chamado a cobrir um rombo de R$ 45 bilhões a R$ 50 bilhões para fechar a conta do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Mas o ministro assegurou que cabe negociação com o segmento.
Também aposentado, Adão Aparecido da Silva, 61 anos, considera que a categoria foi injustiçada. ;Trabalhamos a vida inteira e, no fim, somos tratados com esse descaso. É um absurdo. Os trabalhadores têm direito a ganhos reais e nós não;, lamentou. Para ele, é essencial que o idoso não perca a qualidade de vida. ;O certo é que mantenhamos o mesmo padrão. Falta uma política que defenda aqueles que não podem mais trabalhar.;
Negociação já é a palavra de ordem da Central Única dos Trabalhadores. A CUT defende que todas as aposentadorias tenham reajuste acima da inflação como forma de recuperar o poder de compra. A central disse que já existe uma proposta de mudança à espera de votação no Congresso. Esse projeto, que a CUT ajudou a elaborar, prevê que os benefícios acima do mínimo passem a ser reajustados todo ano com base na inflação mais um percentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país).
Ao contrário das aposentadorias de valor equivalente ao mínimo, que têm tido reajuste real com base na inflação acumulada no ano mais a variação do PIB de dois anos atrás, as aposentadorias mais altas só têm a reposição do poder de compra garantido por lei. Pelos dados do INSS, cerca de dois terços do total de benefícios pagos equivalem ao mínimo. As aposentadorias acima desse valor são pagas a 9 milhões de pessoas. Em média, elas ganham em torno de R$ 780,00. O máximo não chega a R$ 3,7 mil.