Economia

Nas melhores empresas, a formação do quadro de pessoal não é unilateral

postado em 21/08/2011 10:40
Não importa o segmento ou o porte do empregador. Em um mercado cada dia mais exigente, os talentos que acompanham as constantes transformações típicas da globalização são escolhidos a dedo pela iniciativa privada. O que alguns gestores ainda não perceberam é que a recíproca tem se tornado verdadeira. As empresas também são escolhidas. E engana-se quem pensa que apenas o salário importa. Ele conta, é claro, mas está longe de ser o primeiro item a atrair e, principalmente, manter bons profissionais. A contrapartida envolve mais: bom ambiente de trabalho, oportunidade de crescimento, reconhecimento e benefícios que promovem a qualidade de vida e se ajustam às necessidades dos empregados são exemplos de fatores apreciados pelo capital humano responsável por mover os grandes, médios e pequenos negócios.

Na última segunda-feira, a Great Place to Work (GPTW), especialista em ambiente de trabalho, divulgou um ranking das melhores empresas para trabalhar no Brasil. O Google lidera a lista pelo segundo ano consecutivo. O site de buscas é seguido pela Caterpillar Brasil (fabricante de grandes máquinas), pela Kimberly-Clark (setor de higiene) e pelo Laboratório Sabin. Mais de 900 companhias se inscreveram no processo, que contou com a análise de questionários preenchidos por 1,4 milhão de funcionários. A diretora de projetos da GPTW, Roberta Hummel, explica que o ranking é um alerta aos empresários e um guia aos trabalhadores. Segundo ela, as empresas bem colocadas recebem o currículo dos melhores do país e conseguem retê-los porque propõem vantagens que não são obrigatórias por lei. ;Pessoas bem capacitadas escolhem onde trabalhar. Fazer parte de uma corporação que valoriza o profissional como ser humano e não como máquina passa a ser a prioridade. Estamos falando de relacionamento, e isso nada tem a ver com o tamanho da empresa.;

A consultora organizacional Káritas Ribas endossa que as pequenas companhias podem ser tão atraentes quanto as multinacionais. Se, por um lado, não proporcionam muitos benefícios por terem um orçamento mais apertado, por outro, os empresários de menor porte têm contato mais próximo com sua força de trabalho. ;Toda empresa deve ter metas e estratégias sólidas que precisam ser passadas ao quadro de pessoal. Infelizmente, isso nem sempre ocorre. Ter planejamento traz segurança aos funcionários. Se eles têm acesso livre à chefia, não se sentem excluídos, passam a ver que são peças fundamentais. A vitória é coletiva.;

O engenheiro Edson Souza, 48 anos, é um dos 30 empregados da brasiliense Z Tecnologia. Embora já tenha trabalhado em grandes corporações, Edson não pretende voltar para esse tipo de companhia e diz que os benefícios que conquistou com os colegas na última meia década não são oferecidos por muitas multinacionais. ;Sinto-me extremamente motivado a crescer porque os méritos são compartilhados. Em uma empresa ninguém faz nada sozinho. Aqui tenho um horário flexível, sou respeitado e incentivado a aprimorar minha formação;, afirma.

De acordo com Káritas, muitas empresas quebram porque são incapazes de aprender que as pessoas deixam de operar com eficácia não por serem incompetentes nos aspectos técnicos de suas tarefas, e sim pelo ambiente de trabalho extremamente individualista e desigual. Nos cinco anos de casa, Edson já recebeu propostas com remunerações mais atrativas. ;Desejo fazer parte de uma equipe que avança. Aqui, há diálogo, nada é imposto. Boa remuneração definitivamente não é tudo.;

Desafiadoras
Uma companhia que sabe acionar sua mão de obra para lidar com desafios é bem vista por seus colaboradores. Além do mais, a possibilidade de argumentar enche os olhos de quem procura boas empresas para trabalhar. ;Isso é mais avaliado pelos funcionários do que muitos empresários imaginam;, considera Félix Ximenes, diretor de comunicação e assuntos públicos da Google. Ali, por exemplo, os googlers são livres para questionar e propor novas ideias. Essa liberdade combina com o ambiente motivador pelo qual são conhecidas a sede, nos Estados Unidos, e suas filiais pelo mundo. Todos recebem um notebook e podem gastar cerca de R$ 16 mil por ano em educação e formação. O plano de saúde é totalmente subsidiado e contempla a inclusão do parceiro como dependente, inclusive se ele for do mesmo sexo. ;São atrativos interessantes, mas não seguram os funcionários. O que realmente nos motiva é poder ousar. Somos muito cobrados, não estamos em um parque de diversões, mas a empresa cresce e nós crescemos junto;, salienta Ximenes.

Progredir com a instituição foi o que aconteceu com a superintendente de RH do Sabin. Marly Vidal, 42, entrou quando a empresa brasiliense tinha sete anos e está há duas décadas no laboratório. ;Quando cheguei, éramos 30 funcionários. Hoje, temos 77 unidades e mais de mil colaboradores. Percebi que estava no local certo porque a empresa me inspirava a seguir na carreira e tinha um processo transparente de ascensão interna. Cheguei como atendente e passei por praticamente todas as áreas. Fui incentivada a fazer a graduação e pós;, comemora. Marly lembra que os trabalhadores passam muito tempo no local de serviço. Por isso, é importante que se sintam acolhidos para responderem bem aos desafios.


Funcionários avaliam

Fundado nos Estados Unidos, o Great Place to Work conduz a pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar em mais de 40 países, cujo resultado é baseado em algumas práticas de gestão de pessoas e na avaliação do nível de confiança dos funcionários, em cinco dimensões: credibilidade, respeito, imparcialidade, orgulho e camaradagem.

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