Jornal Correio Braziliense

Economia

70% dos que fazem hora extra usam tempo de forma equivocada, diz pesquisa

Foi-se a época em que muitas horas extras no trabalho eram sinônimo de alto desempenho. O que as empresas que investem na modernização da gestão de seus recursos humanos valorizam atualmente é o aproveitamento do tempo. Saber fazer bom uso da jornada diária é um capital importante tanto para os funcionários, que se tornam mais produtivos, quanto para a empresa, que se dedica a otimizar a atuação de seus empregados. Mais motivados, eles pensam duas vezes antes de decidir mudar de emprego. Sem incentivos, ao contrário, desperdiçam ; e muito ; as horas que deveriam ser destinadas às tarefas laborais e acabam sobrecarregando os custos com a folha de pessoal.

Sondagem realizada pela consultoria paulista Triad PS, especializada em produtividade, mostra que 70% dos 1.606 entrevistados para a pesquisa ;Utilização do tempo no trabalho; ficam de oito a 10 horas diárias no serviço. No entanto, do total de participantes, 30% admitiram gastar uma hora por dia inutilmente. Outros 32% disseram desperdiçar duas horas e 18,5%, que chegam a jogar fora três horas diárias. Entre as atividades preferidas deles estão dar uma esticadinha na hora do almoço (59,3%) ou do café da tarde (26,8%), paquerar o colega (13,4%) e até procurar outro emprego (20,6%).

Questionados sobre as razões que os levam a usar o horário do expediente em atividades que não são relacionadas às tarefas para as quais foram contratados, uma parcela considerável dos entrevistados (35,5%) disse que não tem tempo para resolver problemas pessoais fora do trabalho. Outros 32,1% afirmaram ter pouco serviço a fazer, 20,4% declararam estar infelizes com a função e 18,6%, que recebem um salário baixo e não se sentem motivados.

A saída para tanto desperdício não é, contudo, impedir que as pessoas realizem tarefas pessoais durante o expediente. Mas, sim, motivá-las a ser mais produtivas. ;Com a jornada atual e com o tempo que os trabalhadores perdem no trânsito nas grandes cidades, é impossível que eles não façam coisas pessoais no horário do expediente. A empresa precisa criar estratégias de produtividade sem usar padrões abusivos;, recomenda Christian Barbosa, consultor da Triad PS. Ele exemplifica: ;É aceitável que um funcionário precise ir ao banco ou marcar uma consulta médica no horário do trabalho. O problema é que muitos não se sentem comprometidos com a função que exercem. Por isso, há um grande número de pessoas que fazem hora extra, mas não trazem resultados para a empresa.;

Para melhorar o placar desse jogo em que ninguém sai ganhando, a atuação do gestor é fundamental. ;Algumas vezes, é ele quem cria o problema. O líder precisa observar se está conseguindo motivar a sua equipe;, diz Barbosa. Na sondagem realizada pela Triad PS, 48,3% dos entrevistados disseram que o chefe também realiza tarefas pessoais no horário do trabalho; 31,8%, que ele não sabe se planejar; 29,4%, que o gestor da equipe faz o funcionário perder tempo; e 27,9%, que se dedica a atividades desnecessárias.

Considerada a melhor empresa brasileira para se trabalhar pela consultoria norte-americana Great Place to Work, o Laboratório Sabin adotou métodos para tirar o melhor proveito do tempo dos funcionários e, com isso, fazer da hora extra uma exceção e não a regra. Entre as medidas que vêm dando certo, está a gestão descentralizada. ;A liderança precisa delegar tarefas, para que os funcionários se sintam incentivados;, ensina Marly Vidal, superintendente de Recursos Humanos da empresa. No seu entender, ;a pessoa precisa ser produtiva dentro da sua jornada. A hora extra desgasta, enquanto a qualidade de vida aumenta a produtividade. Bom profissional não é o que trabalha muitas horas, mas o que apresenta resultados;.

13,4%
Total de trabalhadores que, em vez de executarem suas funções, preferem paquerar o colega


Ociosidade cansa

Christian Barbosa, consultor da Triad PS, adverte que não fazer nada no trabalho também cansa e prejudica o desempenho das empresas. ;Os funcionários precisam cuidar da administração não apenas do tempo, mas de sua energia pessoal. Mesmo sem ter produzido no trabalho, ele pode chegar em casa cansado e não conseguir brincar com as crianças, fazer um esporte ou jantar com o cônjuge ou com os amigos;, alerta. Com certeza, o desempenho das funções no dia seguinte será ruim.