Economia

Setembro traz medo e prejuízo às bolsas de valores de todo o mundo

postado em 06/09/2011 08:08
Os investidores não escondem a apreensão. Setembro chegou e, com ele, os temores de um mês lembrado por acontecimentos sombrios na economia mundial, a exemplo dos atentados ao World Trade Center, em 2001, e da quebra do Banco Lehman Brothers, em 2008. O período também marca a volta das férias de verão no Hemisfério Norte, quando executivos, diretores e analistas das principais instituições financeiras começam a refazer as suas estratégias de aplicação. Ontem, eles retornaram ao trabalho e encontraram a economia dos dois lados do Atlântico Norte em frangalhos, o que gerou um terremoto nas principais bolsas do mundo. Em Frankfurt, Alemanha, as perdas chegaram a 5,28%, o pior desempenho desde 2009.

O Brasil não ficou imune e o pregão da Bolsa de Valores de São Paulo (BM) fechou com recuo de 2,71%, nos 54.998 pontos. E o tomo só não foi maior porque a Bolsa de Nova York não abriu, devido ao feriado local do Dia do Trabalho. ;A apreensão é enorme. As pessoas estão assumindo o menor número possível de posições arriscadas;, disse Leandro Sophia, operador da Tov Corretora. Para ele, a tendência é de muito nervosismo nos próximos dias. Por isso, a tendência é de o volume de negócios na BM permanecer baixo. ;Não podemos esquecer que temos um feriado amanhã e o pessoal está com medo de ficar comprado em ações e amargar prejuízos no dia seguinte;, observou.

Corrida
Na Europa, uma onda de más notícias derrubou os negócios. O recrudescimento do temor gerado pelo endividamento excessivo dos países da Zona do Euro, fez os investidores entraram em uma corrida para se livrar de ações, principalmente de bancos que estão sob suspeita de fraudes e insolvência. A Itália voltou ao foco da crise com a possibilidade de ter a nota de sua dívida rebaixada pelas principais agências de classificação de risco. Na Grécia, a dificuldade de obter liberação da última parcela de um pacote de socorro à economia aumentou as preocupações com um possível calote do país.

Em meio a esse cenário turbulento, uma pesquisa do grupo Markit mostrou que o setor de serviços na Europa esfriou pelo quinto mês seguido em agosto. O índice de atividade caiu para 51,5 pontos, o menor desde setembro de 2009. A maior queda foi vista na Alemanha, mas houve forte recuo também na França, na Itália e na Espanha, mostrando como o mal-estar se espalhou da periferia para o centro da região, que antes crescia rápido. José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, tentou colocar panos frios e afirmou, na Austrália, que não prevê uma recessão na Europa. ;A UE e o euro são fortes e sólidos;, garantiu.

Os investidores começaram a semana na defensiva devido, também, a inquietações acerca das dificuldades do sistema financeiro no bloco. ;O setor bancário continua sob pressão;, disse Manoj Ladwa, da corretora ETX Capital, citando, além da dívida dos governos, uma investigação nos Estados Unidos sobre instituições européias no país. O presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, colocou mais lenha na fogueira ao afirmar que a crise vai reduzir o lucro bancário na Europa e tirar do mercado as instituições mais fracas. ;As perspectivas para o setor financeiro global são bastante limitadas;, disse.

Fragilidade
A informação, divulgada na sexta-feira, de que o mercado de trabalho dos Estados Unidos ficou estagnado em agosto também ajudou a empurrar os mercados para baixo, sugerindo que a principal locomotiva do mundo não pode contar com o consumo interno para se salvar e caminha rápido para a recessão. ;Esses resultados sugerem novos sinais de fragilidade em um momento de desaceleração da atividade econômica dos EUA;, frisou Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco.

Na visão de Luis Gustavo Pereira, analista da corretora Um Investimento, o mercado pode melhorar caso se confirme a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) fará uma nova injeção de liquidez na economia. ;Se ela não se confirmar, realmente pode vir um setembro negro.;

A expressão usada por Pereira remete a outros setembros que trouxeram eventos catastróficos para a economia mundial. Em 3 de setembro de 1929, o índice das principais ações industriais na Bolsa de Nova York havia chegado ao seu pico, 452 ponto na época. A euforia era grande na economia, os financiamentos haviam superado US$ 7 bilhões e todos apostavam nas ações. Os indicadores macroeconômicos que vieram depois porém, mostraram que havia uma bolha financeira que culminou na quebra da bolsa, em 24 de outubro.

Setembro também carrega a marca de crises que abateram a Argentina, o México, os tigres asiáticos e a Rússia. Além disso, alguns marcos históricos ocorreram no mês, como os atentados contra as torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2011 ; que provocaram o fechamento da bolsa novaiorquina por quatro dias e levaram a perdas de US$ 590 bilhões na reabertura. Em 2008, o quebra do banco Lehman Brothers desencadeou a grave crise financeira que ainda hoje mostra seus reflexos. ;Neste ano, não há fato novo, mas os mercados esperam uma decisão mais assertiva dos governos contra a crise;, disse Luis Miguel Santacreu, analista da Austing Rating.

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