postado em 11/09/2011 08:35
Como o senhor viu as medidas de ajuste fiscal anunciadas recentemente pelo governo?
Recebi essa notícia com otimismo. A presidente Dilma Rousseff parece estar consciente de que o Estado gasta exageradamente, cobra da sociedade impostos pesados e continua se endividando demais e poupando de menos. O governo está consciente da necessidade de poupar para reduzir juros e investir. Reduzir a pressão monetária também seria a saída mais lógica para desvalorizar o câmbio e favorecer as exportações brasileiras. De toda forma, o Brasil precisa de um ajuste fiscal macro e de longo prazo.
Por que a crise global pode se revelar pior que a de 1929?
O que define as situações de turbulência são as respostas dos países aos desafios. O que vemos hoje são nações líderes, como as da Zona do Euro e os Estados Unidos, abdicando da responsabilidade reservada a elas. Para mim, o longo período de dificuldades, que chamo de a grande recessão, começou um ano antes da crise global de 2008 e 2009 e não tem data para acabar. Essa crise tem razões políticas, ao fomentar movimentos conservadores como o Tea Party, nos EUA, e ao desafiar o Estado do bem-estar europeu.
Qual a estratégia para o Brasil crescer de forma sustentável nos próximos anos?
Chegou a hora de se criar um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil. O país conseguiu se pensar estrategicamente apenas na Era Vargas, nos anos dourados de Juscelino Kubitschek e nos planos da gestão Ernesto Geisel. Agora, temos as condições para um novo projeto nacional, baseado no interesse coletivo e em uma nova concepção, a de que a crise gera oportunidades. Chegou a vez de construirmos um Produto Interno Bruto (PIB) verde e investir em um pacto pela inovação, unindo governo, empresas e universidades.
Na sua opinião, os manufaturados do país podem competir no mesmo nível com os da China?
Acredito que o modelo chinês já começou a fazer água. É engraçado ver a recente meta fixada pelo governo da China para a segunda maior economia do mundo. O Partido Comunista colocou como alvo estratégico a busca da felicidade individual. Somos, naturalmente, mais criativos que eles e duvido que um sistema político fechado consiga levar felicidade a seu 1,3 bilhão de habitantes. Não acredito em desindustrialização. Aposto, sim, na reindustrialização que acabe de vez com setores ditos primários e aproveite a criatividade, a biodiversidade e a matriz energética do país.
O pré-sal pode ser mais uma janela de oportunidades para o desenvolvimento do Brasil?
Tudo depende do que vamos fazer com os lucros das reservas petrolíferas. A Venezuela também é rica em petróleo e gás e está pior hoje, menos desenvolvida que há 30 anos. A riqueza do petróleo existe para se estruturar outros parques produtivos. Temos uma oportunidade única de investir na busca de educação universal, na criação das bases de uma grande economia do conhecimento. Por que não conseguimos desenvolver uma indústria de tecnologia maior e mais sofisticada que a da Índia? Temos condições para isso. Metade do PIB dos países desenvolvidos vem da geração, uso e difusão do conhecimento. Aí está o futuro.