postado em 21/09/2011 07:34
Os preços do dólar romperam na terça-feira (20/9) a barreira psicológica de R$ 1,80 ao longo do dia e deixaram o Banco Central em uma situação ainda mais desconfortável. Apesar de, oficialmente, o governo mostrar simpatia pela recuperação da moeda norte-americana, já que as cotações atuais tendem a favorecer as exportações, há um temor generalizado quanto ao impacto dessa arrancada sobre a inflação, que, em 12 meses, atingiu 7,33% e se distanciou muito do teto de 6,5% definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O dólar em alta contamina toda uma cadeia de preços: alimentos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, viagens ao exterior, aluguéis e tarifas públicas, esses últimos por meio dos Índice Gerais de Preços (IGPs).
Ontem, a moeda dos Estados Unidos registrou a terceira alta consecutiva contra o real e avançou 0,81%, cotada a R$ 1,790 ; o maior nível em 15 meses. Apenas em setembro, a divisa acumula valorização de 12,42%. No ano, a alta é de 7,48%. Caso o dólar atinja R$ 2, como estimam alguns especialistas, ou se a crise mundial piorar e ele bater nos R$ 2,40 ; a exemplo de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou, espalhando caos pelo mundo ;, a missão de manter os preços sob controle será algo quase impossível para um BC que já enfrenta dificuldades para conter os reajustes dos alimentos.
;Entendemos que a recente alta do dólar, não compensada por uma redução na mesma magnitude dos preços internacionais das commodities, eleva o risco de a inflação ao consumidor se manter acima de 6,5% por um período mais prolongado;, alertou Nilson Teixeira, economista-chefe do Banco Credit Suisse. ;O repasse dessa valorização (da moeda norte-americana) para os preços tende a ser verificado, em um primeiro momento, nos índices ao produtor;, explicou. Em setembro, até a segunda semana, os preços à indústria avançaram 0,59% e os agropecuários, 1,33%.
Constantin Jancson, economista do HSBC, faz coro com Teixeira. ;A desvalorização do real nas últimas semanas, caso se sustente, e sem um declínio correspondente nos preços das commodities, constitui um risco significativo para a inflação, especialmente se considerarmos a força da demanda doméstica e o aperto no mercado de trabalho;, observou. A despeito de toda a alta do dólar registrada até agora, analistas têm dificuldade de prever qual o limite para essa elevação. O consenso, entretanto, é de que a moeda continuará subindo enquanto a Grécia estiver sob o risco de decretar um calote na sua dívida e as condições fiscais na Europa se mantiverem em deterioração.
Mas se a disparada do dólar representa um abalo para o controle da inflação, traz também tranquilidade aos exportadores e para a parte do governo que os defendem. ;É bom para nós. O dólar está recuperando o patamar que já teve e que é razoável para a economia brasileira. Essa pequena desvalorização do real nos últimos dias é muito boa para as nossas exportações;, defendeu, em Nova York, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel. A seu ver, a economia brasileira tende a melhorar muito com o ;pequeno ajuste; da moeda norte-americana.
No bolso
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a primeira consequência da escalada do dólar ao bolso do consumidor é o preço de viagens ao exterior. ;É o único item que será afetado imediatamente;, observou. Ele prevê, entretanto, que produtos importados, como eletrônicos, fiquem mais salgados ao longo do tempo, já que os componentes importados vão encarecer esses produtos. ;Talvez essa alta não seja repassada a esses produtos, caso o dólar continue no patamar atual ou registre queda. Se o real continuar se desvalorizado, há um prazo mínimo de três meses para pressionar os preços, pelo menos até o fim dos estoques atuais;, analisou.
Para Agostini, não há como prever o comportamento do mercado financeiro pelos próximos meses. ;Vale lembrar que a crise do euro está puxando o dólar e, por isso, tudo pode acontecer até o fim do ano;, observou. Todo esse cenário de incerteza no exterior fez os investidores trocarem suas estratégias. Eles passaram a empreender uma corrida por ativos mais seguros, como a divisa norte-americana e os títulos do Tesouro dos EUA ; situação que tem puxado a cotação do dólar para cima.
Perdas
Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF) amargou perdas de 1,27% e fechou aos 56.378 pontos. Apesar do volume de negócios de R$ 6,2 bilhões, a bolsa paulista não resistiu ao clima de incertezas que permaneceu elevado, principalmente em
relação à Europa.