Economia

Mais de 7 milhões de aposentados continuam a trabalhar no Brasil

postado em 02/10/2011 08:00

Disposição para curtir a vida e vontade de consumir. Essa combinação perfeita para a indústria e o comércio passou a ser uma realidade a um exército de brasileiros acima de 60 anos, a maioria aposentada, mas que decidiu se manter no mercado de trabalho para reforçar o orçamento doméstico e, claro, satisfazer todos os desejos reprimidos por anos: viajar, frequentar bons restaurantes, pôr a leitura em dia, ir ao teatro e ao cinema. Enfim, manter a autoestima nas alturas, postura fundamental quando se tem uma expectativa de vida cada vez maior.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre aposentados e pensionistas da Previdência Social, mais de 7 milhões de brasileiros continuam a bater ponto em seus empregos ou a executar atividades que lhes dão, além de um bom rendimento, muito prazer. Esse pessoal se tornou uma máquina de consumir e deve despejar pelo menos R$ 90 bilhões neste ano na economia, segundo pesquisa da Consultoria Brasil Data Senior ; um antídoto e tanto ante a crise mundial, que ameaça derrubar o crescimento da atividade no país.

Maria Franklin de Andrade, 88 anos, é daquelas que sorvem até a última gota a possibilidade de consumir. Tanto que não abre mão de joias e perfumes importados. ;Se posso comprar, compro. Puxei da minha mãe o gosto pelas joias e sempre estou usando uma. Também adoro um bom perfume;, conta. Outro motivo para manter uma jornada de oito horas de trabalho, mesmo tendo uma aposentadoria, é a vontade de viajar para o exterior. ;Estive, recentemente, em Portugal. Fiz questão de andar por aquele país, conhecer cidades que sempre me encantaram, como Braga, Porto e Fátima;, diz.

O desejo de satisfação pessoal é enorme entre os aposentados e pensionistas que continuam trabalhando, assegura o Brasil Data Senior ; 60% deles se sentem mais úteis quando estão ocupados. Mas também há a motivação profissional, sobretudo quando passam a desenvolver atividades mais prazerosas.

Segunda renda
Ainda distante do que os especialistas chamam de terceira idade, a pedagoga Cleusa Maria da Mota Araújo, 53 anos, não pensou duas vezes em se manter no mercado de trabalho depois de requerer a aposentadoria. ;Tenho muita vida pela frente e não conseguiria ficar em casa sem fazer nada;, justifica. Diariamente, ela dá expediente em uma clínica como psicopedagoga. ;Cuido de crianças e adolescentes com dificuldade de aprendizagem. Faço o que gosto e não vi meu poder de compra diminuir. Muito pelo contrário;, afirma.

Cleusa conta que, com a segunda renda, a qualidade de vida de sua família melhorou muito. ;As aposentadorias não têm ganhos reais, a correção acompanha, no máximo, a inflação. Assim, se tivesse parado, não teria condições de comprar um carro novo, por exemplo;, ressalta. Para a pedagoga, é um alento ver cada vez mais pessoas experientes se mantendo ou voltando para o mercado de trabalho ; estima-se que pelo menos 550 mil tiveram a carteira assinada novamente neste ano. ;Está mais fácil para nós encontrar emprego, pois as empresas carecem de profissionais com experiência e com responsabilidade;, destaca.

O Brasil Data Senior reforça o que Cleusa constata no seu dia a dia: a renda dos aposentados economicamente ativos é 14% superior à dos inativos. Diretor do instituto, Marcelo Guerra frisa que os mais velhos vivem um momento de reinserção social. ;Durante décadas, aposentados e pensionistas eram tratados como uma parte excluída da sociedade, sem participação efetiva na economia. Hoje, há maior preocupação com a saúde e, com isso, a produtividade é alongada. Assim, eles conseguem se recolocar no mercado de trabalho e ampliam, de forma considerável, o poder de consumo;, observa.

Previdência complementar
Além de permanecerem no mercado de trabalho, mesmo depois da aposentadoria, os brasileiros com mais de 60 anos têm recorrido a planos privados de previdência complementar, para assegurar um futuro ainda mais confortável. Do início de 2009 a julho deste ano, as contribuições desse público saltaram 51,44%. Neste ano, os desembolsos passaram de R$ 3 bilhões. É a experiência falando mais alto.

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