postado em 03/10/2011 08:25
Desde o tombo de 8 de agosto, quando baixou aos 48.668 pontos, a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF) já exibiu recuperação, atingindo 56 mil pontos no começo de setembro, uma alta de 15%. A conta parece simples. Era só ter entrado naquele dia, no momento em que as ações atingiram o fundo, para já embolsar, nesse período, quase o dobro do ganho da renda fixa de um ano. Mas tão difícil quanto saber a hora de sair é detectar o momento da entrada. Na sexta-feira, a BMF voltou a 52.331 pontos, após cair 1,99%. É considerada uma pechincha atualmente, sustentam em coro os analistas do mercado. Só neste ano, a queda acumulada é de 23%.
Mas esse é um mercado tão arriscado que a mesma bolsa já era considerada barata quando estava nos 58 mil pontos no fim de julho. E conseguiu ficar ainda mais em conta. Desde a segunda-feira negra de 8 de agosto, as ações andam oscilando bastante, entre 52 mil e 56 mil pontos. E essa volatilidade deve continuar. O problema todo está no grau alto de incerteza das economias da Zona do Euro. O elevado endividamento de países como Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália, que sinaliza para recessão e retomada lenta da atividade econômica da região, é completado pelo risco de calote das dívidas, começando pela grega. Para piorar, cresceram os riscos de quebra de bancos da região.
;Olhando para o curto prazo, o risco do mercado de ações está muito grande. Pode cair 20% ou 30% facilmente, caso ocorra algum tipo de ruptura do sistema financeiro europeu;, comenta o analista de investimentos Wilson Barcellos, da Unifinance, gestora de recursos de terceiros. Mas, se o socorro aos países e aos bancos da Zona do Euro for bem-sucedido, afirma, mesmo com crescimento moderado da região e dos Estados Unidos, a bolsa tende a recuperar o atraso mais rapidamente, porque os ativos estão extremamente depreciados.
O gestor de renda variável da Franklin Templeton Investments, Frederico Sampaio, concorda. ;A bolsa brasileira está barata. Mas seu valor está refletindo as incertezas atuais. Para ter recuperação mais consistente, é preciso eliminar as dúvidas que pairam sobre as economias dos países europeus;, observa. Não bastassem os problemas externos, os possíveis reflexos mais fortes no Brasil passaram a pautar a decisão dos investidores de comprar ou de vender ações, quando o dólar abandonou sua tendência de queda e deu um salto de 18% só no mês passado.
Segundo Sampaio, diferentemente da crise de 2008, desta vez o ambiente doméstico vai pesar um pouco mais, pois a inflação ascendente e a disparada do dólar de R$ 1,50 para R$ 1,80 geram mais incertezas que afetam a confiança do investidor. ;A tendência continua de baixa. As bolsas estão carentes de boas notícias e, por isso, cada vez mais sensíveis a qualquer informação que surja no âmbito internacional ou interno;, reforça Pedro Azzam, da Ativa Corretora.
Ansiedade
A situação está assim: se os países europeus conseguem fechar um acordo para acerto das dívidas dos países da Zona do Euro num dia, as ações sobem. Basta um dos líderes das negociações apontar alguma ressalva para os papéis caírem no dia seguinte. ;A volatilidade deve continuar nos próximos meses. Não há informação que indique resolução definitiva para os problemas dos países da Zona do Euro;, observa o economista-chefe da corretora Souza Barros, Clodoir Vieira.
Nesse cenário em que não faltam incertezas, há operadores que acreditam que a Bolsa de Valores possa atingir os 62 mil pontos até o fim do ano, apontam pesquisas de mercado. Seria um salto de 10 mil pontos até dezembro ou um ganho de 19%. Assim, a bolsa cumpriria a sua tradição de recuperação no fechamento do ano após um primeiro semestre negativo. Clodoir Vieira, da Souza Barros, não é tão otimista. ;Os acordos para acertos das dívidas dos países europeus teriam que ocorrer todos de uma só vez para haver recuperação forte em tão pouco tempo;, avalia. Para ele, pode haver picos de alta, mas não uma recuperação sustentável. ;O investidor está muito cauteloso. Se há pico de alta, vende os papéis. Está atuando mais no curto prazo. Isso aumenta a volatilidade;, avalia Vieira.