Economia

Banco Central reage, mas dólar continua em alta e vai a R$ 1,89

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 04/10/2011 08:09
O Banco Central fez, ontem, a mais pesada intervenção no mercado de câmbio desde o auge da crise de 2008 para segurar a alta do dólar. Colocou à venda US$ 5,348 bilhões por meio de contratos de swap, o que, na prática, significou uma oferta da moeda norte-americana para entrega futura. Em 12 dias, essa foi a segunda vez que a autoridade monetária entrou no sistema. A preocupação do BC é tanta que já anunciou, para hoje, um novo leilão de swap, desta vez de US$ 4,5 bilhões. O objetivo é controlar as expectativas e evitar uma disparada maior da divisa já no início do pregão.

Mesmo com o peso da operação, o BC, a exemplo da primeira intervenção, falhou ao tentar frear o dólar. O mercado comprou apenas US$ 1,6 bilhão e a moeda disparou 0,56%, fechando a segunda-feira cotada a R$ 1,892 para venda. Mas, segundo especialistas, se a autoridade monetária não tivesse entrado no mercado, a divisa teria subido quase 2%. Tanto que, por volta das 15h30, antes da ação do BC, o dólar encostou em R$ 1,92 (alta de 1,6%). ;O movimento de valorização foi generalizado. As coisas pioraram muito no exterior, por causa da Grécia. Com a aversão ao risco, todo mundo correu para o dólar, visto como investimento mais seguro;, explicou Alfredo Barbutti, economista da Corretora BGC Liquidez. No ano, a divisa norte-americana acumula elevação de 12,55%

Além do real, outras moedas perderam força perante o dólar. O euro caiu 1,06%, ao menor nível desde janeiro. Já o dólar australiano cedeu 1,40%, o rand, da África do Sul, 2,04%, e a moeda japonesa, o iene, 0,45%. A escalada da divisa dos Estados Unidos deveu-se ao anúncio da Grécia de que não cumprirá a meta de redução de seu deficit público neste e no próximo ano. Os gregos afirmaram que as contas do governo serão negativas em 8,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2001. O comunicado foi recebido como mais um sinal de que o calote do país está muito próximo de ser anunciado ; só estaria esperando a ajuda de 8 bilhões de euros do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia para ser concretizado.

Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o nervosismo dominará o mercado neste fim de ano. ;Sem um sinal positivo da Europa, aumenta a busca por proteção;, disse. O fluxo de recursos estrangeiros para o Brasil também não vem ajudando. Na última semana, excluindo as operações comerciais, verificou-se uma saída líquida de US$ 400 milhões do país.

Somente em setembro, a disparada do dólar foi de 18%. ;Trata-se de uma maxivalorização;, observou Italo Abucater, gerente da Icap Brasil. Tamanha alta em um período tão curto levou o mercado a mudar as projeções para a moeda no fim deste ano. De acordo com o Boletim Focus, divulgado pelo BC, a mediana para cotação passou de R$ 1,68 para R$ 1,73. Para 2012, as previsões saltaram de R$ 1,68 para R$ 1,70.


DÍVIDAS EXPLODEM
A valorização de 18% do dólar frente o real em setembro foi a quinta maior da história em um único mês desde o Plano Real, editado em julho de 1994. Diante dessa disparada, segundo a Consultoria Economatica, as 240 maiores empresas brasileiras de capital aberto (ações em bolsa de valores) com dívidas na moeda norte-americana sofreram perdas expressivas no terceiro trimestre do ano. O lucro, excluindo os ganhos no mercado financeiro, foi corroído em até 59,5%. No total, os débitos das companhias, sem contar a Petrobras, chegaram a R$ 95,3 bilhões em 30 de setembro. Desde junho, apenas com a supervalorização da divisa dos Estados Unidos, a fatura saltou R$ 15,1 bilhões. A dívida que mais aumentou foi a do segmento de petróleo e gás: incremento de 1.233,6% no trimestre. Em segundo lugar ficou a indústria química, com um avanço de 300,4%.

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