Agência France-Presse
postado em 04/10/2011 16:24
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, voltou a apontar a fragilidade das competências governamentais da Eurozona como a causa da crise da dívida em seu último pronunciamento no Parlamento Europeu. Para ele, todas as economias avançadas vivem em alerta. "Não é de se surpreender que, na zona do euro, isto se concentre em nossas gestões. Temos um grande, grande problema de governabilidade", advertiu Trichet, cujo mandato de oito anos termina no dia 31 de outubro.O diretor monetário europeu insistiu em várias ocasiões nos últimos anos que os líderes políticos europeus melhorassem suas gerências, sobretudo para corrigir a incapacidade de cumprir com os orçamentos.
Nesta terça-feira, diante da Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários em Bruxelas, Trichet lembrou da proposta que fez em junho para melhorar a estrutura da União Monetária e criar um ministério das Finanças da zona do euro, que ficaria encarregado de supervisionar o orçamento dos Estados membros.
Questionado sobre as relações do BCE com os governos europeus, reconheceu que a instituição financeira enviou mensagens sobre a gestão da crise, mas negou qualquer pressão. "Houve um processo contínuo de mensagens aos governos. Não ditamos nada, esse não é o nosso papel", afirmou, embora a imprensa italiana tenha dito que o plano de austeridade adotado por Roma foi em grande parte imposto pelo BCE.
Trichet também fez referência às críticas ao BCE pelas medidas adotadas desde o início da crise da dívida, e em particular ao programa de compra de títulos públicos no mercado secundário, com o objetivo de baixar as taxas de juros dos países com mais dificuldades e ameaçados de asfixia. "Algumas vozes dizem que temos ido longe demais, outras dizem que fomos pouco. Temos o cuidado de sermos o mais prudente possível", disse. "Negar a realidade da crise mais grave desde a Segunda Guerra Mundial seria um erro terrível", acrescentou. "Temos estoque 77% mais elevado do que antes da crise" financeira, afirmou, ressaltando que a Reserva Federal dos Estados Unidos cresceu no mesmo período 226%.
Ele excluiu a possibilidade do BCE contribuir com fundos de ajuda, embora tenha evocado a ideia de o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), equipado com 440 bilhões de euros, possa refinanciar no banco para aumentar sua capacidade.
Acusado de ser mais severo com os Estados do que com os bancos, Trichet disse que os bancos "devem mudar suas regras de funcionamento". "Não se pode voltar ao ;business as usual;. São necessárias mudanças drásticas. Não somos complacentes com eles, continuamos pedindo que reforcem seus fundos próprios, que não se comprometam com pacotes de compensação. É um trabalho contínuo.