Economia

Gleisi põe freio no esvaziamento do Banco do Brasil em Brasília

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 05/10/2011 07:32

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, considerou ;inadmissível; o processo de esvaziamento da sede do Banco do Brasil em Brasília. Em encontro ontem com a bancada de deputados e senadores do Distrito Federal, ela foi taxativa ao afirmar que a presidente Dilma Rousseff não tolerará nenhum processo de transferência, para São Paulo, de diretorias e gerências da instituição controlada pelo Tesouro Nacional. Segundo o senador Rodrigo Rollemberg (PSB), os parlamentares conseguiram retirar ainda da ministra a garantia de que processo semelhante tocado pela Caixa Econômica Federal também será revertido, devido ao riscos de prejuízos à economia da capital do país.

;A ministra foi muito clara. O BB é um banco público, oficial. As áreas estratégicas do banco têm que permanecer em Brasília;, disse Rollemberg. Ele destacou que Gleisi já conversou sobre o assunto com o presidente do banco, Aldemir Bendine, conhecido como Dida, que teria negado o processo de esvaziamento. O executivo, que será convocado por Dilma assim que ela retornar da Europa, para dar explicações, justificou que a instituição está apenas implantando núcleos em São Paulo como estratégia de negócios ;Falamos para a ministra que não é isso o que vem acontecendo. O movimento existe sim e vem sendo feito sorrateiramente, com a intenção de passar despercebido;, afirmou o senador.

Diante dos fatos apresentados pelos parlamentares ; dos 11 representantes do DF, apenas os senadores Cristovam Buarque (PDT) e Gim Argello (PTB) não foram à audiência com Gleisi ;, a ministra pediu informações detalhadas ao BB e o mesmo foi feito pela bancada. Todos querem saber o local de funcionamento de cada um dos núcleos deslocados para a capital paulista, as datas de transferência, o número de funcionários e a previsão de novas mudanças.

Pedido semelhante foi feito à Caixa. Os parlamentares receberam informações de que a instituição estaria realizando processo idêntico ao do BB. ;Não conseguimos ainda confirmar, mas há sinais de que isso também está sendo feito pela Caixa;, disse a deputada Érika Kokay, do PT.

O deputado José Antônio Reguffe (PDT) declarou que não existe justificativa técnica para a mudança de núcleos importantes dos bancos oficiais para São Paulo. ;O que queremos é justamente o contrário: fortalecer Brasília. Queremos que o BNDES e a Petrobras, por exemplo, aumentem a presença na cidade;, observou.

Ida ao Congresso

Além de Dilma, o presidente do BB terá de se esforçar para convencer os parlamentares. Foi aprovado ontem, na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, o convite para que ele compareça ao Congresso Nacional para dar explicações. Os senadores pretendem questioná-lo do porquê de toda a transferência de diretorias e gerências para São Paulo ter sido feita sem o conhecimento do Conselho de Administração do banco e do Ministério da Fazenda, ao qual está subordinado. Eles também querem entender os critérios técnicos usados em cada uma das transferências. ;Tudo foi feito sem o conhecimento e o aval do governo;, assegurou Rollemberg.

A convocação de Bendine foi baseado em uma série de matérias publicadas pelo Correio. O projeto de mudança de Brasília prevê que, até 2014, partes expressivas das diretorias e de unidades que não lidam diretamente com o público estejam plenamente implantadas na capital paulista. São Paulo já concentra parcelas das áreas de Crédito, Cartões, Tecnologia, Comercial ; que lida com os clientes empresariais ; e Agronegócio. Até a semana passada, estava previsto que 70% da diretoria de Marketing migraria para terras paulistanas. Mas o processo foi interrompido depois que se tornou público.

Na prática, 10% dos funcionários graduados do BB já foram transferidos ; cerca de 2 mil. Oficialmente, o banco nega a existência do processo de esvaziamento de Brasília e garante que o que está em andamento é o fortalecimento da instituição em São Paulo. No estado, o banco ainda não alcançou seus principais concorrentes do setor privado, o Itaú Unibanco e o Bradesco. Nem mesmo a compra da Nossa Caixa aumentou expressivamente a base de clientes, mas não foi suficiente para tirar o BB do terceiro lugar em participação de mercado na região. Além da migração de estrutura, o que pode mudar esse cenário será a incorporação, pelo Banco do Brasil, de funções e de programas sociais hoje nas mãos da Caixa.

Longe de Brasília, as diretorias do BB começaram a se instalar em dois edifícios na Avenida Paulista. Um dos prédios pertencia à Nossa Caixa. O segundo foi comprado recentemente pelo banco.

A instituição informou ainda que a sede de todas as diretorias e do banco continuam em Brasília. As áreas migradas para a capital paulista são chamadas oficialmente pela instituição de representações.

Descontentamento

O Sindicato dos Bancários do Distrito Federal, assim como os parlamentares de Brasília, são contra a transferência de funcionários e de diretorias do Banco do Brasil para São Paulo. Segundo a entidade, essa migração prejudica a ;qualidade de vida dos trabalhadores envolvidos;. O sindicato também considera que o custo das mudanças é elevado demais frente os possíveis benefícios que poderiam ser revertidos para a instituição. O descontentamento entre os servidores é grande.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação