Agência France-Presse
postado em 05/10/2011 14:44
Bruxelas - A chanceler alemã, Angela Merkel, disse nesta quarta-feira (5/10) em Bruxelas ser justificável a recapitalização dos bancos europeus, o que seu país fará se for necessário. Merkel fez estas declarações durante uma coletiva de imprensa após o anúncio de que o banco franco-belga Dexia caminha para a falência. É a primeira entidade europeia vítima da crise da dívida.Acionistas do banco, França e Bélgica se pronunciaram para tranquilizar os mercados. Os países asseguraram que garantiriam com seus bancos centrais os depósitos e empréstimos do grupo até a liquidação que se aproxima. As principais Bolsas europeias registraram nesta quarta-feira forte alta, após as seguidas quedas, sustentada pela esperança de que a Europa desenvolva um plano coordenado para recapitalizar os bancos e evitar a propagação da crise.
A perspectiva de uma participação maior do que a prevista dos bancos no plano de ajuda à Grécia fragiliza o conjunto do setor bancário europeu. Neste sentido, Merkel afirmou que a Grécia "deve fazer parte da zona do euro, e que uma oportunidade para que ela se recupere deve ser dada".
A chanceler alemã assegurou, durante a coletiva de imprensa acompanhada pelo presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso, que seu país está disposto a modificar o tratado da União Europeia para melhorar o funcionamento da zona do euro e devolver a confiança aos mercados. "Revisar os tratados europeus não pode ser um tabu", declarou Merkel. Com isso, as principais Bolsas europeias fecharam com fortes altas nesta quarta-feira. Frankfurt liderou a alta, ganhando 4,91% no fechamento. Paris registrou alta de 4,33%, Milão 3,94%, Londres 3,19% e Madri 3,06%.
As ações de bancos foram o destaque da sessão, sustentadas pelas informações de que os responsáveis políticos da União Monetária contemplam um plano coordenado para recapitalizar os bancos. Na contramão da euforia de mercado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou nesta quarta-feira que "não é possível descartar" uma recessão global em 2012 e pediu que os países europeus evitem frear o crescimento econômico com drásticos planos de austeridade.
É possível que "a atividade econômica caia" em 2012, disse em uma coletiva de imprensa o diretor do Fundo Monetário Internacional para Europa, Antônio Borges, durante a apresentação do Relatório sobre a Economia Europeia divulgado em Bruxelas. Para evitar esta possibilidade, "recomendamos a mudança da política econômica europeia, para que deixe de lado as medidas de austeridade e siga o exemplo das políticas de estímulo dos Estados Unidos e Reino Unido", afirma a análise.
Os líderes políticos da União Europeia têm desenhado e adotado planos drásticos para reduzir os déficits públicos, principalmente a Grécia, Portugal e Irlanda, que precisaram ser socorridos pela Europa e pelo FMI, mas também a Itália e Espanha, que estão na mira dos mercados.
O FMI, no entanto, disse confiar no pagamento do empréstimo de 8 bilhões de euros concedido à Grécia no ano passado para evitar a quebra do país. "Acreditamos num final positivo" nas negociações entre Grécia e seus credores (FMI, União Europeia e Banco Central Europeu), que se reúnem em Atenas para avaliar se o país tem cumprido com suas promessas de austeridade, afirmou Borges. As declarações foram feitas pouco depois que os ministros da Economia europeus reavivaram os temores de que Grécia não cumpra com seus compromissos, após adiar mais uma vez o pagamentos dos 8 bilhões na segunda-feira.
O Eurogrupo exige mais medidas de austeridade e privatizações por parte de Atenas para preencher o buraco orçamentário esperado para 2013 e 2014. O FMI ressaltou que o segundo plano de resgate para a Grécia, aprovado em julho, deverá ser reexaminado para assegurar a sustentabilidade da dívida do país e as medidas que impulsionam o crescimento econômico. "Será necessário um novo plano que se concentre em uma dívida sustentável" e no "retorno do crescimento", declarou Borges.
Neste sentido, o líder da equipe do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, assegurou que o segundo plano decidido na reunião europeia no dia 21 de julho, poderá ser submetido a "revisões técnicas". Portanto, é provável que a porcentagem que os bancos têm que emprestar seja superior aos 21% previstos. Há um risco muito grande de que as finanças gregas afundem e espalhem a crise, afirmou o ministro sueco das Finanças, Anders Borg.
Com as escolas e os museus fechados, os voos cancelados e os hospitais atendendo apenas casos de emergência, a Grécia teve nesta quarta-feira um dia de greve no setor público contra as medidas de austeridade impostas para enfrentar a crise da dívida. A convocação de uma greve de 24 horas nos serviços e empresas públicos inclui um protesto à tarde em Atenas.
Os funcionários públicos protestam essencialmente contra o projeto de colocar 30.000 deles em paralisação técnica, com uma redução de 40% do salário até o fim do ano, antes de uma provável demissão após um ano, com o objetivo de reduzir drasticamente os gastos públicos do país.
A medida foi negociada pelo governo grego com o trio de credores: União Europeia, FMI e Banco Central Europeu.
A ideia do governo é reduzir o quadro do funcionalismo público de 750.000 pessoas a 150.000 até 2015.