Agência France-Presse
postado em 07/10/2011 16:16
A inflação brasileira voltou a acelerar em setembro, quando alcançou 0,53%, e já acumula 7,31% em 12 meses, muito acima do máximo de tolerância oficial e um recorde em seis anos, informou nesta sexta-feira (7/10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) alcançou 0,37%. O acumulado do ano, de janeiro a setembro, já soma 4,97%. A meta oficial do governo é levar a inflação anual a 4,5%, com um teto máximo de tolerância de até 6,5%.As autoridades brasileiras indicaram por diversas vezes que a inflação começaria a retroceder até o fim do ano, mas isto ainda não ocorreu. O Banco Central aprovou em agosto um polêmico corte da taxa básica de juros, de 12,5% a 12%, ao considerar que a inflação estaria sob controle e com a meta de incentivar o crescimento brasileiro, que está em desaceleração. O BC acaba de reduzir de 4% a 3,5% a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. O temor do governo é que o impacto da crise na Europa e Estados Unidos piore a situação. "O Banco Central se equivocou: apostou que haveria desaceleração devido à piora da situação da zona do euro, mas isso não se cumpriu, a situação econômica brasileira continua positiva, com o emprego e o crédito em alta, e isso estimula a inflação", expressou à AFP o economista-chefe da agência classificadora Austin Rating, Alex Agostini.
Para o especialista, o aumento dos preços não está fora de controle. "Há, no entanto, instrumentos para controlar a inflação. O Banco Central e o governo necessitam de uma postura clara, dando mais prioridade ao controle da inflação", disse. Em 2010, a inflação somou 5,91%, o nível mais alto desde 2004. Este ano o BC estima uma inflação de 6,5%, mas assegura que em 2012 voltará ao centro da meta oficial, de 4,5%. Os analistas duvidam dessa convergência até 4,5%. "Os fatores internos devem continuar alimentando a inflação, porque a renda e o emprego seguem mantendo a demanda interna ativa", disse à AFP Thiago Curado, analista da consultoria Tendências, que estima a inflação de 2012 a 6%.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu esta semana novos "ajustes moderados" na taxa básica de juros, o que para os analistas seria um sinal de que a autoridade monetária deixou de lado a guerra frontal à inflação. O Banco Central se reunirá para definir a taxa em 19 de outubro.
Um índice paralelo divulgado nesta sexta-feira pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que em setembro a inflação para as famílias com renda menor havia aumentado 0,55%, e que em 12 meses acumula 7,45%, um dado preocupante para um país que nos últimos oito anos sacou 28 milhões de pessoas da pobreza. "Até agora não houve uma perda de poder aquisitivo tão grande porque os salários têm sido ajustados em termos reais acima da inflação. Contudo, quanto mais rápido for controlada a inflação, menor sacrifício terá a população, especialmente a de baixa renda, a futuro", explicou à AFP André Bras, economista da Fundação Getúlio Vargas.
O aumento dos bilhetes aéreos e combustíveis pressionaram fortemente a inflação em setembro, quando os preços dos alimentos aumentaram 0,64%, os de transporte 0,78%, os de moradias 0,71% e os de vestuário 0,80%.