Agência France-Presse
postado em 13/10/2011 14:43
Bruxelas - A União Europeia concentrará seu programa de estímulo ao desenvolvimento de setores como energia e educação nos países mais pobres, em detrimento dos fundos destinados a economias emergentes como Brasil e Argentina.Esta proposta foi apresentada no documento intitulado "Agenda para a mudança", divulgado nesta quinta-feira pela Comissão Europeia, que concederá 11 bilhões de euros anuais ao programa de ajuda, o que significa 20% do total de doações concedidas pela UE. "A idéia é assegurar que cada euro chegue às mãos dos que mais necessitam", disse o responsável pelo programa, Andris Piebalgs. Desta maneira, a ajuda europeia será "mais eficaz".
Os programas de ajuda aos países como o Brasil (que receberia 61 milhões de euros para o período de 2007-2013), Argentina (65 milhões de euros no mesmo período), China (cerca de 140 milhões) e África do Sul (980 milhões) serão revisados para menos. "Acredito que um governo como o da Argentina pode cuidar de sua própria pobreza", disse Pielbags na coletiva de imprensa para apresentar o programa.
Outros países considerados em uma categoria intermediária (PRI) também podem ter seus fundos de ajuda reduzidos. Contudo, 75% das pessoas mais pobres do planeta vivem nos países que integram o PRI, destacou Laura Sullivan, especialista em desenvolvimento da ActionAid. Países como o Peru e Angola "não podem seguir em frente sem ajuda", insistiu Natalia Alonso da Oxfam. Índia, Gana e Zâmbia, onde 64% da população vive abaixo da linha da pobreza, enquadram-se nesta categoria.
Em cada país, a ajuda da UE deverá se concentrar em três setores para evitar uma dispersão dos esforços: agricultura, saúde e educação são prioridades. Para a maioria das ONGs, o fato de os fundos serem destinados a estes setores é muito importante, já que "são eles que mais influenciam para melhorar as vidas daqueles que mais precisam", opinou Natalia Alonso. "Investir na agricultura permitirá prevenir a fome e criar meios de subsistência na África rural", afirmou Eloise Todd, da ONE.
Bruxelas pretende "apoiar o desenvolvimento dos setores privados competitivos" e destinar uma parte importante da ajuda europeia para instrumentos financeiros inovadores. A implementação destas prioridades começará nos próximos meses. Para Olivier Consolo, diretor da ONG CONCORD, o programa está na direção errada. "Infelizmente, a mudança mais importante será de reduzir a ajuda aos mais pobres, enquanto os recursos serão realocados para a energia e investimentos no setor privado, onde a UE tem os seus interesses".
No total 189 milhões de latino-americanos vivem na pobreza, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL).