Economia

Nem o Banco Central agressivo favorece o consumidor

Bancos e lojas resistem em repassar corte da Selic a empréstimos e financiamentos e, quando juros caem, o impacto é mínimo nas prestações

postado em 19/10/2011 08:08
Ainda que o Banco Central tenha a ousadia de cortar a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 12% para 11% ao ano, na reunião de hoje do Comitê de Política Monetária (Copom), os consumidores sentirão muito pouco os benefícios dessa decisão. Projeções feitas pelo vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, mostram que os bancos teriam que ir muito além do BC para tornar os empréstimos e os financiamentos mais acessíveis. Motivo: os encargos cobrados pelas instituições financeiras são elevados demais.

Nos cálculos da Anefac, com a Selic a 11% e repassada a redução integral de um ponto percentual, a taxa média mensal cobrada das físicas cairia de 6,69% para 6,61% (ou 115,24% anuais). No crédito pessoal, o recuo seria de 4,47% para 4,39% ao mês (67,46% ao ano). Já a taxa dos crediários do comércio baixaria de 5,54% para 5,46% mensais (89,26%). Ainda nas contas do vice-presidente da Anefac, os juros sobre a utilização do limite do cheque especial cederiam de 8,23% para 8,15% ao mês (156,05% ao ano). ;Infelizmente, o efeito de corte na Selic demora um tempo para ser sentido no bolso dos consumidores. Para o impacto ser mais expressivo, é necessário que o BC siga na mesma linha de queda na Selic até dezembro, pelo menos;, afirmou. Mas não é só: os bancos teriam de abrir mão de parte dos lucros, pois costumam ficar com parte da diferença do corte da Selic.

Para que os consumidores possam vislumbrar de uma forma mais clara o impacto das decisões do BC, a Anefac fez várias simulações de compra. Quem optar pela compra de uma geladeira no valor de R$ 1.500, financiada em 12 parcelas, sem entrada, a uma taxa de 5,54% ao mês, como está hoje nas lojas, o produto sairá por R$ 2.093,17. Caso a mesma mercadoria venha a ser financiada já com os juros menores, de 5,46% mensais, o preço final será de R$ 2.083,88. Ou seja, a economia será de apenas R$ 9,29 em um ano ; praticamente nada.

Pesquisas
Na avaliação da economista Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), existem dois pontos fundamentais a serem avaliados quando o assunto é juros. O primeiro é preciso analisar o cenário econômico do país, pois ele indicará os rumos da economia. Na atual conjuntura, mesmo com a queda da taxa Selic de 12,50% para 12% em agosto, o quadro inflacionário permanece incerto. ;Outro ponto a ser considerado é o prazo dos financiamentos, pois, geralmente, os consumidores acordam com os bancos ou com as lojas prestações com valores menores para acomodá-las nos orçamentos domésticos. Porém, o custo final dos empréstimos ou dos financiamento será muito maior, já que o consumidor pagará juros por um período muito longo;, afirmou.

Por isso, no entender de Silvia, os brasileiros devem pesquisar bem, conferir as taxas de juros e ficar atentos aos valores finais de cada compra, para não se iludir com valores menores nas parcelas. ;O consumidor deve pensar que, quanto maior for o número de parcelas, maiores serão os juros a serem pagos;, concluiu.

Processo lento
As modalidades de crédito acompanhadas pelo Banco Central mostram que os seis principais bancos do país não repassaram integralmente aos consumidores a redução de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic). Em alguns casos, Bradesco, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Caixa Econômica Federal, HSBC e Santander até aumentaram os encargos cobrados nos empréstimos e financiamentos. No crédito pessoal, por exemplo, a Caixa Econômica elevou os juros de 2,39% para 2,50%. No cheque especial, o Santander e o HSBC cortaram os encargos. Somente na aquisição de veículos, todas as instituições beneficiaram a clientela com linhas mais baratas.

Todos contra o Banco Central

Bancos e lojas resistem em repassar corte da Selic a empréstimos e financiamentos e, quando juros caem, o impacto é mínimo nas prestaçõesUma cena inusitada ocorreu ontem no coração da maior cidade do país, quando patrões e empregados caminharam juntos em direção à sede regional do Banco Central em São Paulo, na Avenida Paulista. Motivo da trégua: o lançamento do manifesto ;Movimento por um Brasil com juros baixos: mais empregos e maior produção;.

A campanha busca mostrar que os juros altos são os vilões da economia. ;O governo pagou, nos últimos 16 anos, mais de R$ 2 trilhões em juros. Corrigido, o valor chega a R$ 6 trilhões;, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), Luiz Aubert Neto. ;Este ano, o governo gastará R$ 240 bilhões em juros, muito mais que os R$ 70 bilhões da saúde e os R$ 60 bilhões da educação;, completou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), que está irmanada, na ação, com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical. A entidade vai lançar o ;jurômetro;, painel que mostrará a conta de juros em tempo real.

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