Economia

Crise na Unimed aflige clientes que temem interrupção dos tratamentos

postado em 26/10/2011 08:29

A balconista Geny de Holanda Valença vai procurar uma alternativa para cuidar da saúde da filha, Mariah:
Apesar de a Unimed Brasília apostar na recuperação financeira e garantir a continuidade do atendimento, usuários já planejam trocar de operadora. Conforme o Correio publicou ontem, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou a transferência da carteira de clientes em até 30 dias. Quem não quiser esperar o desenrolar da história terá de seguir as regras de portabilidade (veja quadro). Somente depois do fim do prazo estipulado para a alienação, o órgão regulador poderá decretar um regime especial de mudança de plano. A Unimed não divulga detalhes da estratégia de defesa, mas informa que acionou a Justiça para reverter a decisão. Há quatro anos, a empresa passou por situação ainda mais grave ao ter a liquidação decretada, mas conseguiu manter as portas abertas.

Desde a publicação da medida da ANS, na semana passada, usuários procuram a Unimed para cancelar o plano, com medo de serem prejudicados. Contratos que poderiam ajudar a operadora a sair do vermelho também acabaram adiados após a ordem de transferência da carteira. Gestores da Fundação Dom Cabral, eleita a quinta melhor escola de negócios do mundo, atuam para tentar salvar a Unimed em Brasília, cuja dívida, em janeiro, somava R$ 94 milhões. A empresa tem 33 anos no mercado brasiliense, onde acumula 18 mil clientes.


Futuro
Ontem, o Correio percorreu hospitais particulares do Plano Piloto e conversou com vários conveniados da Unimed. O clima entre eles era de preocupação. A balconista Geny de Holanda Valença, 35 anos, aderiu ao plano ao saber que a filha Mariah, hoje com 2 anos, nasceu com problemas no intestino. O tratamento da criança não tem prazo para terminar. ;Ela não pode ficar sem plano e muito menos esperar que a Unimed decida o futuro dos clientes;, disse Geny, ao confirmar que procuraria logo outra empresa para garantir o atendimento da filha.

A aposentada Maria Deusa Alves, 59 anos, também não vai aguardar o fim da novela. Há dois anos, ela paga o plano da irmã Ana Rute Fernandes, 42, por quem é responsável. Ana tem epilepsia e faz acompanhamento periódico. ;Minha irmã tem a saúde debilitada. O tratamento não pode ser interrompido de forma alguma;, disse Maria, preocupada com o futuro da operadora. Por enquanto, não há registros de recusa no atendimento. Caso isso ocorra, denúncias devem ser feitas à ANS pelo telefone 0800-701-9656.

As queixas ontem se restringiam à demora no atendimento, o que pode não ter relação com a medida. Pela manhã, o casal Alessandra dos Santos, 26 anos, e Cleito dos Santos, 36, esperou 2h30 pela consulta de um dos dois filhos, que estava gripado. O plano de saúde da família é atrelado ao emprego de Cleito. Mesmo apreensivos com a situação, eles não pretendem mudar de operadora. ;Não temos outra alternativa a não ser esperar;, afirmou ele. O casal sabia da possibilidade de falência da Unimed porque alguns parentes já migraram para concorrentes por esse motivo.

Na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin, a ANS acertou ao intervir na Unimed Brasília. Ele diz que os usuários têm direito de se adiantar e buscar outro plano desde já. Quem decidir aguardar a alienação da carteira de clientes precisará ficar atento. ;O usuário deverá ser transferido para um plano equivalente, sem qualquer prejuízo à cobertura. Ele não poderá ser obrigado a pagar mais nem ter carência;, enumerou Tardin. Ele reforça que, até lá, o atendimento deve ser mantido pela Unimed.

Suspensão
Em momento algum, a presidente da empresa em Brasília, Sylvia Carvalho de Oliveira, nega os problemas econômicos da empresa. Mas afirma ser ;completamente desnecessário; o cliente deixar a operadora. ;Não há motivo para se apavorar. Quem tem menos que se preocupar a essa altura do campeonato é o usuário;, sustentou. Ontem, ela voltou a dizer que acredita na suspensão da medida da ANS na Justiça. ;Tenho certeza de que vamos reverter essa situação. E mesmo que isso não ocorra, a ANS garante que o usuário seja realocado.;

A meta da operadora é colocar as contas em dia até o fim deste ano, no mais tardar em janeiro de 2012. ;É claro que o quadro não vai mudar da noite para o dia, mas melhoramos a liquidez e estamos nos recuperando;, afirmou Sylvia. Segundo ela, os cerca de 300 médicos cooperados estão sendo monitorados, a fim de garantir o atendimento até que a situação seja resolvida judicialmente. A presidente adiantou, ainda, que quem deixar de pagar o plano pode acabar sendo prejudicado em caso de transferência da carteira de clientes. ;Além de prejudicar o atendimento. Sem receber, não tenho como pagar o serviço.;

Realidade atual
Em nota divulgada ontem, a direção da Unimed avalia que a prevalência da decisão da ANS ;pode contribuir para uma concentração do mercado e um consequente aumento dos preços para os consumidores;. A nota assinala ainda que a medida foi tomada com base em fatos e informações decorrentes de gestões anteriores e que não correspondem à realidade atual da operadora. O texto reitera que a empresa já tomou as medidas cabíveis para garantir seus direitos e o dos clientes e fornecedores. ;A Unimed Brasília continua com suas atividades em estado de normalidade, em todos os aspectos, seja no que concerne ao plano de saúde, recursos
próprios e rede credenciada de atendimento;, completa.

Procedimentos
Saiba o que fazer para continuar com plano de saúde em caso de o atual deixar de existir, por meio da portabilidade

; Consulte o Guia ANS (www.ans.gov.br) para identificar planos de saúde compatíveis com o seu;

; Dirija-se à operadora do plano de saúde escolhido levando o relatório de convênios compatíveis e solicite a proposta de adesão;

; Na data da assinatura da proposta, será necessário apresentar a cópia do comprovante de vínculo com a pessoa jurídica contratante, caso o plano seja coletivo;

; Aguarde a resposta da operadora do plano de destino, que deverá ser dada em até 20 dias após a assinatura da proposta de adesão. O contrato do plano de destino entra em vigor 10 dias após a aprovação da operadora;

; A ANS recomenda que, ao término do processo, o beneficiário entre em contato com a operadora do convênio de origem para informar que exerceu a portabilidade especial de carências;

; Peça a portabilidade no período de 60 dias contados a partir da publicação da resolução operacional específica (no caso, a de quinta-feira passada);

; A faixa de preço do plano de destino deve ser igual ou inferior àquela em que se enquadra o plano de origem.

Fonte: ANS


Médicos se mobilizam
O Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos protocolaram um manifesto no Ministério da Saúde ontem. O documento sintetiza o diagnóstico que os médicos fazem da situação atual do Sistema Único de Saúde. No texto, as entidades listam como principais reivindicações o aumento de investimentos do governo e melhorias na remuneração e na infraestrutura. ;O modo com o qual a saúde pública tem sido tratada historicamente apresenta, cotidianamente, sua fatura nas emergências lotadas, nas filas de espera por consultas e exames, bem como no desestímulo que se abate sobre as equipes responsáveis pelo atendimento da população;, criticam. Cerca
de 100 mil médicos participaram da paralisação ontem para chamar a atenção para os problemas do SUS.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação