postado em 28/10/2011 08:18
Bruxelas ; Apesar do ceticismo em relação ao fim da crise fiscal que arrasta os países europeus, os investidores resolveram dar um voto de confiança ao terceiro acordo para salvar o governo grego, que também capitalizou os combalidos bancos do continente. Não faltaram acusações e desentendimentos nas 10 horas de reunião dos líderes da União Europeia (UE), mas um acerto foi anunciado às 4h de ontem (28/10), animando as principais bolsas de valores do mundo, que respiraram aliviadas após semanas de tensão. As sequelas, entretanto, ficaram claras numa declaração bombástica do presidente da França, Nicolas Sarkozy. Para ele, a entrada da Grécia na Zona do Euro foi um ;erro;. Pela primeira vez, um chefe de Estado do bloco expõe as divisões internas publicamente. A euforia do mercado se anunciou no resultado das bolsas asiáticas: Tóquio (2,04%), Hong Kong (3,26%), Seul (1,46%) e Xangai (0,34%). O bom desempenho se seguiu na Europa, onde os índices fecharam no mais expressivo patamar em 12 semanas, puxados pelas ações dos bancos, que se valorizaram mais de 9%: Londres (2,89%), Frankfurt (5,35%), Paris (6,28%) e Milão (5,49%). Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 2,86%, contribuindo para a recuperação da Bolsa de São Paulo. O Ibovespa subiu 3,72%, encerrando o dia aos 59.270 pontos, o maior nível desde 26 de julho. A alta acumulada no mês chegou a 13,28%, ainda insuficiente para anular as perdas de 14,48% no ano. Com o ambiente desanuviado, o dólar caiu 2,83%, sendo cotado a R$ 1,709.
Num mal disfarçado calote, os bancos credores foram forçados a aceitar um desconto de 50% do valor dos títulos do Tesouro grego. Era isso ou a decretação de uma moratória, que causaria prejuízos em cascatas nas principais instituições financeiras europeias. O endividamento da Grécia terá um abatimento de 100 bilhões de euros, caindo de 162% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) para 120% até 2020. O valor ainda é extremamente alto. Segundo o relato de Sarkozy, ele e a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, saíram do encontro de cúpula no meio da madrugada e se dirigiram à reunião dos banqueiros, representados pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).
;Não fomos negociar, mas informá-los das decisões;, disse o francês. Nas últimas semanas, os
banqueiros puseram todo tipo de obstáculo para aceitar perdas superiores aos 21% que já haviam sido anunciados no pacote de junho. Mas se dobraram às exigências. ;Eles refletiram e deram sua aprovação.; A capitulação veio na forma de um comunicado do diretor-gerente do IIF, Charles Dallara. ;Em nome da comunidade dos investidores privados, o IIF concorda em trabalhar com a Grécia, as autoridades da área do euro e o FMI (Fundo Monetário Internacional) para desenvolver um acordo concreto voluntário, baseado em um desconto de 50% sobre o valor da dívida grega;, afirmou. Detalhes como o valor a ser pago em dinheiro e em novos títulos serão acertados nas próximas semanas.
Fôlego
O primeiro-ministro grego, George Papandreou, afirmou que o acordo deu ao país o fôlego necessário para realizar reformas e ajustar as contas públicas. ;Precisamos continuar trabalhando intensivamente para mudar tudo que nos desagrada. A crise nos dá a oportunidade e o acordo nos dá o tempo para decidir o que é importante para a Grécia;, disse em pronunciamento na tevê. Analistas ouvidos pela agência Reuters, entretanto, não estão tão confiantes. Mais da metade dos 47 economistas consultados disseram que o acerto não será suficiente para tornar a dívida grega sustentável. Angela Merkel celebrou o entendimento final, mas cobrou ;novos passos em reformas estruturais; dos países europeus que deixaram a situação fiscal se deteriorar nos últimos anos.
Na mais ousada declaração de um líder sobre os problemas gregos até agora, Sarkozy foi além e atacou a decisão dos países que compartilham o euro de aceitar a Grécia como sócio do seleto clube em 2001. ;A entrada da Grécia na Zona do Euro foi um erro. O país não estava preparado;, afirmou. O presidente francês disse que os governos do continente não têm opção a não ser acreditar que o governo de Papandreou fará todos os esforços para sair do buraco. Em tom mais sombrio, ele pretendeu dar a dimensão dos problemas contornados: ;Se não tivéssemos chegado a um acordo, não seria apenas a Europa que iria afundar, mas o mundo inteiro. Tomamos decisões que evitaram uma catástrofe;.
Entre as medidas anunciadas, está o reforço do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), que passará a contar com 1 trilhão de euros para auxiliar governos em crise, e a capitalização de 90 bancos com papéis podres, no valor de 106 bilhões de euros (veja quadro). Segundo a Autoridade Bancária Europeia (ABE), as instituições gregas são as que mais precisam de dinheiro (30 bilhões de euros), seguidas das espanholas (26,2 bilhões de euros), das italianas (14,8 bilhões de euros) e das francesas (8,8 bilhões de euros). Os líderes europeus querem garantias de que os recursos não serão canalizados para o pagamento de bônus a executivos, como ocorreu nos Estados Unidos em 2008.
EUA crescem 2,5%
O crescimento econômico dos Estados Unidos no terceiro trimestre foi o maior em um ano, com consumidores e companhias deixando de lado os temores sobre a recuperação e aumentando os gastos e os investimentos. A expectativa dos analistas é de que esse impulso vai continuar nos últimos três meses do ano. O Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) se expandiu a uma taxa anualizada de 2,5% entre julho e setembro, informou ontem o Departamento de Comércio em estimativa preliminar. Foi uma aceleração grande em relação ao 1,3% registrado de abril a junho. As despesas dos consumidores, responsáveis por cerca de 70% da atividade no país, avançou 2,4%, ante 0,7% no segundo trimestre. Os resultados das empresas aumentaram 16,3%. A equipe econômica do presidente Barack Obama comemorou o desempenho.