postado em 29/10/2011 08:00
O governo brasileiro aceita destinar parte das reservas cambiais do país ao pacote de resgate financeiro da Zona do Euro, desde que as medidas recém-anunciadas pelos líderes europeus sejam também apoiadas pelos chefes de Estado e de governo do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, que se reúnem na próxima semana em Cannes, na França. Além disso, o país só faria o aporte, cujo montante ainda não foi avaliado pela equipe econômica, por meio de uma linha tradicional do Fundo Monetário Internacional (FMI).;O eventual aporte teria de ser feito mediante uma mudança na carteira de aplicações das reservas do país, o que dispensa autorização do Congresso e pode sair mais rapidamente. Preferimos também fazer uma operação bilateral, na qual repassamos dinheiro ao Fundo e este o empresta a outro país;, informou ontem um técnico do Ministério da Fazenda.
Considerando que o detalhamento dos acertos anunciados nesta semana pelos líderes europeus só serão conhecidos no começo do próximo ano, a autoridade acredita que as condições para participar financeiramente do socorro servirão de ponto de partida para os negociadores brasileiros em Cannes. ;Ainda não se sabe quanto nem quem pode ser chamado a socorrer. O próprio G-20 pode, neste momento, apenas apoiar politicamente a saída encontrada pelos europeus para o euro;, acrescentou.
O Brasil propõe que a contribuição que vier a fazer ao FMI seja convertida em aumento de cotas na instituição, garantindo ao país mais poder de influência na entidade. Essa conversão, porém, não poderia ser feita de imediato porque o sistema de cotas do Fundo passa por um processo de revisão, comandado pela diretora-gerente do organismo multilateral de crédito, Christine Lagarde, que só estará concluído em 2013 ou 2014. Em 2009, o Tesouro teve ampliada sua participação quando colocou US$ 10 bilhões no Fundo como parte de uma contribuição coletiva a um movimento coordenado pelo G-20 para prevenir colapsos de economias nacionais durante a crise.
Dúvidas
;O governo também considera nebulosa a proposta de outros mecanismos de ajuda sugeridos recentemente, como o que prevê um fundo especial administrado pelo FMI, mas desvinculado de seu patrimônio;, adiantou o técnico. Está sendo discutida também a criação, pelos europeus, de um instrumento específico para atrair investimentos, atrelado ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). Os negociadores brasileiros não descartam a participação nesse mecanismo, mas lembram que ainda há muitas dúvidas sobre o seu funcionamento e sobre os riscos envolvidos na operação.
Uma das decisões esperadas do encontro do G-20 é o encaminhamento prático das discussões sobre regulação financeira internacional realizadas ainda na época da crise de 2008-2009. É provável que o grupo divulgue uma lista de 29 importantes
bancos de alcance global que passarão a seguir normas mais rígidas para evitar prejuízos ao sistema financeiro após uma eventual quebra. Nenhum banco brasileiro estaria entre os alvos. ;Ao fornecer garantias ainda maiores para proteger credores e clientes, essas instituições poderiam até decidir pela redução de seu tamanho;, completou.