Economia

Economista diz que países em desenvolvimento podem ajudar europeus

Economista diz que países em desenvolvimento podem ajudar europeus em outra etapa e alerta governo para importância de controlar os gastos

postado em 30/10/2011 11:55
A crise de países da União Europeia não pode servir de desculpa para emergentes, como o Brasil, se descuidarem dos gastos públicos. O controle da inflação continua sendo a condição primeira para manter o mercado brasileiro atraente para investimentos externos diretos. Além disso, a austeridade é a chave para o país reduzir os juros e criar as bases para um crescimento sustentável. A avaliação feita por Thomas Wu, professor de Economia da Universidade Santa Cruz, da Califórnia (Estados Unidos), nesta entrevista ao Correio, se baseia na sua análise das políticas econômicas adotadas desde os anos 1970 e do atual contexto de crise mundial. ;As ainda elevadas taxas de juros refletem um problema estrutural;, diz. Na sua avaliação, a saída para os problemas da Europa começou com a distinção entre países com dificuldades para obter recursos e economias insolventes, situação em que se encaixa apenas a Grécia. Para ele, os emergentes podem participar do socorro à Zona do Euro, mas numa etapa posterior, quando a estabilização do conjunto de países exigir novos instrumentos de resgate financeiro.


Qual é o papel que países emergentes podem ter na solução para a crise do euro?
A saída para a crise precisava, como um primeiro passo, distinguir os países em dificuldades dos insolventes. Os primeiros são aqueles que, passada a turbulência, conseguirão pagar suas dívidas. Os insolventes, contudo, não conseguiriam honrar seus compromissos nem antes nem depois da crise. No cenário que vinha sendo construído, apenas a Grécia ficaria insolvente, enquanto para Irlanda, Portugal, Espanha e Itália restariam problemas financeiros. Não acho que seja papel dos emergentes ajudar a Grécia a pagar suas contas. Com relação aos demais, pode fazer sentido participar de um pacote de empréstimo, desde que benefícios indiretos, como tensões menores nas bolsas, sejam grandes o suficiente.

O contexto internacional reforça sua defesa de nova política de juro e câmbio na economia brasileira?
A elevada taxa de juros brasileira é o sintoma de um desequilíbrio mais estrutural. Ela reflete a dificuldade de financiar os investimentos com a poupança doméstica, que é baixa, tanto no setor privado quanto no setor público. Quando a taxa básica de juros, a Selic, caiu a um dígito em 2009, em reação à retração da economia causada pela crise de 2008, quem tinha dinheiro sobrando achava que poupar não valia a pena, dado o baixo retorno, e quem não tinha achava que estava barato pegar emprestado e se endividar. Se o governo não poupa, tem que disputar com o setor privado os recursos disponíveis, o que pressiona as taxas de juros. Quando a economia não consegue fechar a conta de investimento usando poupança doméstica, tem que recorrer a recursos externos. E como atraí-los? Com juros ainda mais altos. Qualquer política econômica que queria baixar os juros de forma sustentável deve resolver o problema da baixa taxa de poupança. Por isso, enfatizo a responsabilidade fiscal. O governo deve dar o exemplo, gastando de forma mais eficiente e poupando mais.

O atual crescimento econômico experimentado pelo Brasil e outros emergentes é sustentável?
Pode ser, desde que a política econômica esteja comprometida a corrigir qualquer exagero. A experiência ensina que excessos a curto prazo ; seja de estímulos fiscais ou monetários ; têm seu preço a longo prazo. Isso vale para qualquer país. O excesso de consumo do setor público brasileiro na década de 1970 está ligado à década perdida de 1980, da mesma forma que o excesso de consumo das famílias dos Estados Unidos se vincula à atual estagnação da economia norte-americana. O Brasil passou mais de uma década, desde a implementação do Plano Real, em 1994, recolocando a casa em ordem e o crescimento econômico voltou a aparecer. Se o governo fizer o dever de casa, corrigindo os exageros, o Brasil tem todas as condições de continuar crescendo.

Na sua opinião, o controle da inflação ainda é pré-condição para o país ser um mercado promissor?
Sem dúvida. Os investidores ajudam uma economia a aplicar seus recursos escassos de forma mais eficiente. Obviamente, não por altruísmo, mas movidos por lucros. Se percebem que há excesso de demanda por um determinado produto ou serviço, destinam seus recursos a esses mercados, tentando conquistá-los. Os preços relativos são parte fundamental desse processo. Quando um produto ou um serviço se encarece em relação aos outros, este é um sinal clássico de excesso de demanda e, em razão disso, de uma oportunidade de investimento. Mas numa economia em que preços sobem 30% ou 40% ao mês, de forma desordenada, como extrair informação dos preços relativos? Essa é uma das razões pelas quais investidores tendem a evitar países com descontrole inflacionário.

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