postado em 01/11/2011 08:40
Bruxelas ; A crise de dívida da Zona do Euro continua desafiando os líderes europeus e fazendo vítimas entre a população. Em setembro, o índice de desemprego na região voltou a crescer e alcançou o recorde de 10,2% da força de trabalho, o número mais alto desde 1998, quando os dados começaram a ser compilados. A piora refletiu sobretudo a situação da Espanha, onde a redução do número de postos de trabalho foi bem maior do que em outras nações do bloco. Em toda a União Europeia (UE), que abrange 10 países além dos 17 que formam a união monetária, o desemprego alcançou 9,7%.Segundo os cálculos da agência, 16,2 milhões de cidadãos da Zona do Euro estavam sem trabalho em setembro. Em toda a União Europeia, o número de desempregados alcançava 23,2 milhões. O pior é que, tão cedo, não há previsão de melhora. Num estudo divulgado em Paris, no qual analisa as perspectivas do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo que se reúne nesta semana em Cannes, na França, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que a atividade produtiva continuará se enfraquecendo na Europa. De acordo com a entidade, o crescimento da Zona do Euro será de 1,6% neste ano, cairá para apenas 0,3% em 2012, voltando a mostrar pequena recuperação em 2013, quando deverá chegar a 1,5%. Diante desse quadro desanimador, a organização pediu que o G-20 adote ;medidas enérgicas; para restaurar a confiança dos investidores.
Em setembro, segundo a Eurostat, a Espanha foi novamente o país com maior taxa de desemprego ; 22,6%, em comparação aos 20,5% de um ano atrás, enquanto Áustria e Holanda registraram os menores índices (respectivamente 3,9% e 4,5%). A taxa foi de 9,9% na França. Não há dados disponíveis para a Alemanha. A velocidade com que a situação do mercado de trabalho se deteriorou na Espanha chegou a surpreender. O país também lidera no desemprego entre as mulheres (23,1%) e entre os homens (22,1%). Mas a cifra mais dramática é a da desocupação entre os jovens com menos de 25 anos. Há um ano, 43,2% das pessoas dessa faixa etária, muitas em busca do primeiro emprego, não conseguiam encontrar uma colocação no mercado. Em setembro passado, o indicador já estava em 48%.
Para muitos especialistas, os dados mostram que a economia espanhola pode estar entrando em um novo período recessivo. ;Esses resultados piores do emprego terão repercussão negativa no consumo privado, com reflexo no desempenho do Produto Interno Bruto nos dois últimos trimestres do ano;, afirmou o economista-chefe da Caixa Catalunha, Xavier Segura.
Disparidade
Se os dados da Eurostat mostram diferenças no desemprego entre as nações da Europa, o relatório da OCDE aponta uma forte disparidade entre as perspectivas econômica dos países avançados, mergulhados na crise, e as economias emergentes, com desempenho bem mais vigoroso. Além das previsões nada encorajadoras para a Zona do Euro, a entidade calcula que a economia do Japão terá um retrocesso de 0,5% este ano, retomando o crescimento em 2012, quando o Produto Interno Bruto se expandiria em 2,1%, mas voltando a se enfraquecer em 2013, com alta de1,5%. Os
Estados Unidos, embora também debilitados, estão em uma situação relativamente melhor. A previsão para a maior economia do mundo é de crescimento de 1,7% em 2011, de 1,8% no próximo ano e de 2,5% em 2013.
Já os mercados emergentes manterão uma taxa de crescimento próxima de 7% nos três anos considerados pelo estudo, sob liderança da China, cuja economia terá expansão próxima de 9% nesse período. A performance dos emergentes sustentará o crescimento do conjunto do G-20 ao redor dos 4% no triênio, diz a OCDE. Segundo a entidade, ;a debilidade atual (da economia) se deve à perda da confiança na capacidade dos responsáveis em oferecer respostas apropriadas para recuperar uma situação orçamentária sustentável;. Para o professor da Universidade de Vigo Gonzalo Caballero Miguez, ;a reunião do G-20 deve tomar decisões relevantes e efetivas, além da retórica de outras reuniões;.
Bancos descartam novos calotes
O diretor do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), uma entidade de análises e pesquisa sobre o setor bancário, considerou ontem que a Grécia será o único país da Zona do Euro que precisará reestruturar sua dívida pública. Para ele, as medidas adotadas pelos dirigentes europeus protegerão os outros 16 membros do bloco. ;Essa reestruturação não deve se repetir", afirmou Charles Dallara, em uma entrevista à imprensa em Washington, referindo-se ao acordo em que os credores privados concordaram em perdoar 50% da dívida grega. ;Acredito que esta é também a opinião dos líderes europeus;, disse Dallara, cuja instituição também representa os maiores bancos internacionais.
Horizonte sombrio
Vai demorar pelo menos cinco anos para que o emprego global retorne aos níveis de antes da crise nas economias avançadas. O alerta foi feito ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que publicou, às vésperas da reunião de cúpula dos líderes do G-20, um extenso relatório sobre o trabalho no mundo em 2011.
A análise é para lá de sombria. A OIT estima que seria necessário criar 80 milhões de postos de trabalho durante os próximos dois anos para que as taxas de desemprego regridam. Para a OIT, a economia mundial se encontra à beira de uma nova e mais profunda recessão do emprego, o que atrasará ainda mais a recuperação econômica e aumentará a tensão social em um grande número de países.
;Chegamos ao momento da verdade. As possibilidades de evitar uma recaída do emprego são limitadas;, disse Raymond Torres, diretor do Instituto Internacional de Estudos Laborais da OIT, responsável pela publicação do relatório. A desaceleração da economia começa a afetar o nível do emprego em aproximadamente seis meses, estima a organização. Com base nisso, a OIT acredita que a economia mundial só conseguirá gerar a metade do número de postos de trabalho necessários, o que significa que o desemprego deve aumentar.
Tensão social
Dos 118 países industrializados estudados, a OIT já detectou aumento da tensão social em pelo menos 45. É o caso, principalmente, das economias avançadas, como os Estados Unidos, e da região árabe. O menor risco hoje se encontra na África Subsaariana e na América Latina. Pelos dados do estudo, dois terços das economias avançadas e metade das economias emergentes e em desenvolvimento estão atravessando uma desaceleração do emprego.