Rosana Hessel
postado em 01/11/2011 08:49
Um tema dominará as discussões na cúpula de líderes do G-20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo), em Cannes, balneário no sul da França: a criação de um Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) global, também chamado de ;Imposto Robin Hood;. A avaliação é do economista Jeffrey Sachs, diretor do Earth Institute da Universidade de Columbia, em Nova York. Líder do projeto Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da Organização das Nações Unidas (ONU), ele disse ao Correio acreditar que os chefes de governo, que se encontram a partir de quinta-feira, devem avançar em direção a um acordo para a criação do tributo. ;Esperamos um enorme progresso nesse tema na agenda internacional dos líderes nesta semana. Será o maior avanço nessa discussão desde quando ela surgiu, há 30 anos. Acredito que esse imposto poderá ajudar a reduzir certas distorções que existem nos mercados;, disse Sachs ontem, em conferência por telefone, com jornalistas de vários países. ;Os europeus já estão endossando o projeto e acho que outros países podem aderir ao projeto na reunião do G-20. A opinião pública apoia esse imposto.; A Alemanha é um dos maiores defensores na União Europeia, enquanto o Reino Unido está na linha de frente contra a ideia.
A forma como o IOF global seria implantado, no entanto, ainda está em discussão. Alguns países, como Brasil, Coreia do Sul e África do Sul, já taxam as transações financeiras. Como fazem parte do G-20, poderão contribuir com suas experiências, na avalição de Sachs. ;As nações emergentes devem construir um papel de liderança nas reuniões em Cannes. É interessante que o Brasil participe dessas discussões, principalmente, por conta das medidas que ele já adotou para conter o fluxo de capitais. A crise global permite que os emergentes conquistem papéis de destaque;, disse.
Pobreza
Sachs e a Oxfam, entidade britânica sem fins lucrativos presente em 98 países, estão levantando a bandeira do IOF global. ;A aprovação desse imposto é importante porque as receitas poderão ser destinadas a três finalidades: regulamentação dos mercados, financiamento de ações de combate à pobreza e às mudanças climáticas e harmonização dos impostos existentes;, defendeu. Durante esta semana, ativistas deverão fazer manifestações em Cannes a favor do tributo, principalmente sobre operações financeiras de maior valor.
BCE pode adiar corte
A inflação em alta na Zona do Euro reforça as apostas dos mercados de que o Banco Central Europeu (BCE) vai esperar até dezembro para reduzir a taxa de juros. A inflação ao consumidor permaneceu em 3% em outubro, na leitura anual, acima da meta de 2% e da previsão de analistas (2,9%). A reunião de quinta-feira será a primeira sob a presidência de Mario Draghi. Ele pode mostrar relutância em diminuir o custo dos empréstimos, já que quer provar que manterá o mandato do BCE de estabilidade dos preços. ;Cortar o juro na quinta-feira poderia ser visto como brando demais e não estabeleceria as credenciais de alguém como um combatente da inflação. Mas alguns poderiam dizer que isso mostraria liderança;, disse Simon Smith, economista-chefe do FxPro.
Pressão sobre Draghi
Frankfurt ; Vários desafios aguardam Mario Draghi quando ele assumir o comando do Banco Central Europeu (BCE) amanhã, com pressão da Alemanha e das economias mais fracas da Zona do Euro puxando-o em direções diferentes. O sucesso da presidência do economista estará inevitavelmente ligado aos acontecimentos em sua terra natal, a Itália. Haverá pressão para o BCE agir se o governo italiano não conseguir cumprir as reformas econômicas para impulsionar o crescimento e reduzir a enorme dívida pública.
A Zona do Euro já socorreu Irlanda e Portugal e resgatou a Grécia duas vezes, mas a quebra da economia italiana, que é a terceira maior do bloco, esgotaria os recursos disponíveis no Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef). O BCE, entretanto, teria munição praticamente ilimitada. Draghi parecia indicar na semana passada que estava pronto para ajudar a resolver a crise da dívida da Zona do Euro comprando os títulos dos países com problemas, embora o presidente de saída, Jean-Claude Trichet, tenha dito ontem que os comentários do italiano foram interpretados erroneamente.
A controvérsia sobre o programa de compra de títulos do BCE, iniciado em maio de 2010, levou ao pedido de demissão de duas autoridades alemãs da instituição, onde muitas pessoas sentem que o plano levou o banco, além de sua competência monetária, para a arena fiscal. Draghi encontraria nova resistência da Alemanha em qualquer impulso para comprar mais títulos, uma ferramenta que ajuda a amenizar os custos de financiamento dos governos, especialmente depois do acordo da UE para elevar o Feef para 1 trilhão de euros, permitindo que ele faça o mesmo papel.
;Se a Itália vacilar, nem mesmo os bilhões que estão indo agora para o fundo de resgate serão suficientes;, disse um assessor do presidente do BC alemão, Jens Weidmann. ;Depende dos políticos em Roma para as medidas já adotadas serem um sucesso e o BCE poder parar de comprar títulos do governo.;
Medidas no papel
Zurique ; Desde a reunião do G-20 em Pittsburgh (EUA), no fim de 2009, os órgãos reguladores iniciaram uma série de reformas bancárias destinadas a reforçar o setor frente às crises, mas serão necessários vários anos para poder avaliar a eficácia das regras.
Com a crise financeira mundial em seu auge, os chefes de Estado e de governos das 20 maiores economias do mundo realizaram vários acordos na reunião na cidade norte-americana há dois anos, mas muitos ainda não saíram do papel.
Entre eles, alguns de alcance genérico, como o de ;vigiar para que os sistemas de regulação de bancos e outras entidades financeiras impeçam os excessos que acarretaram a crise;. O objetivo era evitar o desequilíbrio entre capital e empréstimos dos bancos, investimentos maciços em ativos financeiros de risco e os bônus astronômicos pagos aos executivos. Os líderes dos países se comprometeram a ;atuar juntos para reforçar as regras sobre o capital e colocar em marcha normas internacionais mais restritas em matéria de remuneração;.
Prazos
Quase um ano depois, os reguladores publicaram uma nova norma internacional aplicável a todos os bancos. Essas regras, batizadas de Basileia III, retomam um elemento central das exigências de Pittsburgh: tornar os bancos mais fortes para futuras crises. O pacote ainda não começou a valer, pois os bancos têm prazos para se adaptar ao mínimo de capital em relação ao volume de empréstimos.