postado em 02/11/2011 08:00
Atenas ; A Zona do Euro mergulhou ontem em uma nova onda de insegurança após o surpreendente anúncio, feito na segunda-feira pelo primeiro-ministro da Grécia, Georges Papandreou, de que pretende submeter a um referendo popular o plano de socorro financeiro ao país acertado pelos líderes europeus na semana passada, em Bruxelas. O temor de que a resposta da população, espremida por duras medidas de austeridade em um cenário de recessão e desemprego, seja negativa, derrubou os mercados ao redor do mundo e levantou uma onda de perplexidade e de críticas ao governante grego vindas de todos os lados. Ignorada até pelo ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, que passou mal e acabou hospitalizado após saber na novidade, a inesperada decisão de Papandreou também recolocou definitivamente a crise europeia como principal e mais urgente assunto do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, que se reúne amanhã e depois em Cannes, na França. A Grécia não faz parte individualmente do organismo, mas Papandreou já foi convocado para dar explicações aos seus pares no balneário francês, famoso por por seu prestigiado festival de cinema. O que se deseja saber é se ele quer seguir adiante com o plano de resgate ; que, entre outros pontos, concluiu pelo perdão de 50% da dívida da Grécia em troca de uma espécie de tutela econômica de seu governo ; ou pretende se arriscar num caminho que pode levar à saída do país da união monetária.
Em Atenas, a iniciativa do primeiro-ministro foi explicada como uma manobra interna para angariar apoio político, derrotar a oposição e obter um voto de confiança do Parlamento, numa votação prevista para sexta-feira. Mesmo assim, ela foi criticada até por membros do seu próprio partido. Em outras capitais da Europa, a decisão soou como um recado de que a Grécia, que já enfrenta o terceiro ano de uma grave recessão, quer um plano de ajuste que não lhe traga apenas o sacrifício do desemprego e dos cortes de aposentadorias e salários, mas também a esperança de retomar o crescimento em um futuro não muito distante.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, ficou desolado com a notícia, segundo informação publicada no site do jornal Le Monde. ;A decisão da Grécia é irracional e, do ponto de vista deles, é perigosa;, disse ao jornal uma fonte próxima do seu gabinete. Já a chanceler alemã, Angela Merkel, ficou furiosa. Um parlamentar em Berlim chegou a sugerir que a ajuda à Grécia deveria simplesmente ser cortada e o país, deixado à deriva. ;Para mim, parece alguém que está tentando escapar do que foi combinado ; uma coisa estranha a se fazer;, disse Rainer Bruederle, líder na coalizão de governo. No final da tarde, Merkel e Sarkozy, que conversaram por telefone, divulgaram comunicado reiterando a disposição de implementar ;o mais rápido possível; o plano de resgate da economia grega.
Para o presidente francês, o programa elaborado na semana passada pelos líderes europeus é ;a única via; para resolver o problema da dívida da Grécia. ;Dar a palavra ao povo é sempre legítimo, mas a solidariedade de todos os países da Zona do Euro só pode ser exercida se todos aceitarem realizar os esforços necessários;, disse Sarkozy após uma reunião ministerial de emergência, ontem à noite. Na tentativa de convencer o governo grego a abrir mão de seu projeto de referendo, Merkel e Sarkozy vão se reunir hoje à tarde, em Cannes, com Papandreou e representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia, antes da abertura dos trabalhos do G-20.
Preocupação
A turbulência gerada nos mercados teve ainda o efeito colateral de colocar a Itália de volta ao topo das preocupações dos investidores. O país, que ostenta uma colossal dívida de 1,9 trilhão de euros, equivalente a 120% do seu Produto Interno Bruto (PIB), viu ontem as taxas de juros de seus papéis subirem quase a 7% ao ano, nível que o coloca próximo da insolvência, e teve que apelar ao Banco Central Europeu (BCE) para comprar bônus italianos no mercado. Se a terceira maior economia da Zona do Euro for contaminada, a crise se tornará muito maior. Perspectiva que levou o primeiro-ministro Silvio Berlusconi a engrossar as críticas ao colega grego. ;Trata-se de uma decisão inesperada, que cria incertezas após os esforços da Europa e às vésperas da importante reunião do G-20;, disse.
Obama interfere
Para a Casa Branca, a decisão do primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, de convocar um referendo mostrou a necessidade de a Europa ;aperfeiçoar mais e implementar rapidamente; o pacote de resgate acertado na semana passada, disse o porta voz do presidente Barack Obama, Jay Carney. Em Cannes, Obama deve pressionar os líderes europeus a agir com rapidez porque teme que as consequências da crise de dívida na Zona do Euro afetem a tímida recuperação da economia norte-americana.
BANCO MUNDIAL LIBERA US$ 8 BILHÕES
O Banco Mundial (Bird) anunciou ontem que aprovou uma ;estratégia de parceria; para liberar US$ 8 bilhões (R$ 13,3 bilhões) para o Brasil de 2012 a 2015. Serão parcerias e financiamentos ao setor público, em sua maioria. Mas também haverá uma linha de US$ 2 bilhões para empréstimos ao setor privado. A estratégia, de acordo com o Bird, será coordenada com o programa de erradicação da extrema pobreza, o Brasil sem Miséria, que visa melhorar as oportunidades sociais e econômicas para 16 milhões de pessoas mais vulneráveis. A iniciativa tem como objetivo principal reforçar o apoio do banco à Região Nordeste, onde vivem 59% dos brasileiros extremamente pobres.