Cannes (França) ; A União Europeia (UE), representada pela França e Alemanha, deu um ultimato à Grécia para que o país decida se quer ou não continuar na Zona do Euro. Diante da proposta de um referendo popular para aceitar o pacote de resgate de 130 bilhões de euros, aprovado pelos líderes da região na semana passada e apoiado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o bloco cobrou do primeiro-ministro grego, George Papandreou, uma rápida resposta sobre a aceitação da ajuda externa. ;A Europa está baseada na solidariedade e respeitamos a vontade do povo grego, mas já fizemos tudo ao nosso alcance para ajudar seu país, e a pergunta que ele tem de responder é se vai querer continuar fazendo parte do euro;, declarou o presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Enquanto durar a incerteza gerada pela decisão de submeter o pacote à consulta popular, estará suspenso também o pagamento da próxima parcela de 8 bilhões de euros do atual empréstimo à Grécia. Trata-se da sexta parcela de uma ajuda de 110 bilhões de euros, que impede o país de decretar falência. A chanceler alemã, Angela Merkel, respaldou a mensagem de Sarkozy e acrescentou que a democracia esteve presente em todas as negociações feitas até agora para fechar um acordo em favor da estabilidade da região.
A decisão do governo da Grécia de submeter a ajuda a um referendo emperrou as negociações que seriam conduzidas na reunião dos líderes do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, iniciada hoje em Cannes, no sul da França. Diante do inesperado impasse, Sarkozy e Merkel convocaram Papandreou a Cannes e cobraram pessoalmente dele uma resposta para aplacar o clima de incerteza gerado pelo anuncio de um referendo em janeiro.
Segundo Sarkozy, o governante grego se comprometeu a tentar realizar a consulta entre 4 e 5 de dezembro. Na chamada minicúpula do G-20, os dois principais governantes da Europa ressaltaram que a Grécia deve ;respeitar os compromissos assumidos; com os demais 16 países da moeda comum.
Clareza
Depois do pânico gerado pelas declarações de Papandreou nas bolsas mundiais na terça-feira, Sarkozy e Merkel se mobilizaram para desarmar a bomba grega às vésperas da reunião do G-20. Antes de pressionar diretamente Papandreou, os dois se reuniram com diretores de instituições da UE e do FMI para estudar formas de conter os danos da decisão grega, além de exigir resultado rápido. Sarkozy disse que o anúncio da Grécia pegou toda a Europa de surpresa. Pesquisas de opinião indicam que 60% dos gregos veem o acordo costurado pelos líderes europeus no último dia 27 como ruim, mas a permanência no euro continua popular.
Merkel também explicitou impaciência, ao relembrar que já houve outros encontros atabalhoados entre líderes da UE e Papandreou. ;Concordamos com um plano para a Grécia na semana passada. Queremos colocá-lo em prática, mas para isso precisamos de clareza;, disse. O primeiro-ministro grego disse que o referendo daria uma ;resposta clara; ao acordo, exortando o G-20 a respeitar o desejo popular e não ceder ao apetites do mercado. Ontem, seu gabinete aprovou a proposta e uma comissão foi designada para preparar a consulta à população.
Com isso, a almejada ajuda dos países emergentes para a Zona do Euro seria o principal ponto de discussão no encontro do G-20. Mas as maiores autoridades europeias tiveram de voltar à estaca zero e foram obrigadas a contornar o estresse gerado pelo anúncio grego. O programa de auxílio negociado na madrugada de 27 de outubro prevê um novo programa de financiamento de 145 bilhões de euros e o corte da dívida da Grécia em 50% ; o equivalente a cerca de 100 bilhões de euros, com respaldo de 400 bancos, seguradoras e fundos de investimentos. A operação reduziria a dívida do país de 160% para 120% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.