Economia

Retomada econômica da Grécia pode levar até 40 anos

postado em 06/11/2011 08:00
Angela Merkel acredita que solução para o euro não será repentina

Cannes (França)
; A desistência do primeiro-ministro grego, George Papandreou, de realizar um referendo popular para definir a aplicação de medidas de austeridade possibilitou um relativo alívio aos líderes mundiais no desfecho da cúpula do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo. Serviu, porém, como justificativa perfeita para a dificuldade dos governantes em encontrar consenso sobre os passos seguintes na resolução do problema de endividamento de países da União Europeia. O sentimento de frustração, generalizado entre os participantes, ficou claro nas palavras da chanceler alemã, Angela Merkel. Ontem, a chefe de governo publicou uma mensagem filmada em seu site, destacando que será necessária ;uma década; para resolver os problemas de financiamento no bloco.

;A crise da dívida não será superada da noite para o dia. É um caminho que requer muitos esforços e no qual devemos avançar passo a passo. Vamos precisar de uma década para estar outra vez em melhor posição;, explicou.

Após dois dias chuvosos em Cannes, sofisticado balneário do sudeste francês, ausência de uma solução pontual deixou, porém, a percepção de que, apesar de todas as resistências de alguns países, um novo papel para o Fundo Monetário Internacional (FMI) começou a ganhar corpo. O organismo é visto como o mecanismo mais confiável para criar barreiras de proteção ao contágio das turbulências centradas na Grécia, que começam a bater na porta da Itália e de outros países do euro. Outra visão comum é que qualquer alternativa para os problemas ficou mais urgente e mais cara, alcançando a casa dos trilhões, em um momento no qual os governos já estão com seus orçamentos limitados.

Isso explica o grande esforço diplomático em Cannes para restaurar a confiança e reverter a perspectiva de piora nos mercados. ;Os investidores estão muito ligados aos anúncios dos líderes das maiores economias, sobretudo da Europa, em busca de segurança sobre como o mundo vai reagir à crise;, avaliou Alan Alexandroff, professor do instituto canadense Munk do Canadá, que acompanhou o G-20.

Mas a sexta cúpula do grupo, que colocou tantos interesses divergentes na mesma mesa-redonda, também serviu para avançar no rearranjo de poder, graças às turbulências econômicas que se arrastam desde 2008. Antes de as mudanças chegarem ao comando de organismos multilaterais, como o próprio FMI, o Banco Mundial (Bird) e outros, como exigem os maiores emergentes, o G-20 indicou a fila de governantes prestes a enfrentar o pelotão de fuzilamento. A primeira vitima foi o líder grego e a segunda deverá ser o primeiro- ministro italiano, Silvio Berlusconi. E, se foi o golpe fatal sobre os líderes cambaleantes, também foi palco para a estreia da presidente Dilma Rousseff como chefe de Estado na cúpula. Ciente da dificuldade de resolver a crise econômica em um único encontro, a presidente se comprometeu a ajudar a Europa, mas somente via capitalização do FMI.

Super-Mário
Outra estreia que coincidiu com a cúpula do G-20 foi a do novo presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi. Ele assumiu o cargo na quinta-feira e, já na primeira reunião, sinalizou mudanças na política monetária da região. Draghi cortou a taxa de juros de 1,50% para 1,25% ao ano, em uma demonstração de que o bloco deve tolerar um pouco mais de inflação, em prol do crescimento. Apelidado de Super-Mário, o italiano, ao contrário de Berlusconi, é um nome em ascensão na Zona do Euro.

Emergentes aguardam
Cortejados mesmo antes da reunião do G-20 para contribuir financeiramente com o plano de resgate da Zona do Euro, os emergentes, sobretudo os chineses, donos de US$ 3,2 trilhões em reservas e já grandes detentores de títulos soberanos europeus, mantiveram a posição cautelosa. Os líderes do Brasil, Dilma Rousseff, e da China, Hu Jintao, cobraram mais clareza para tomar alguma decisão. Eles e os demais membros do Brics, Rússia, Índia e África do Sul, apenas repetiram pleitos por maior espaço na governança global e a preferência por soluções via FMI. Mas clareza se tornou algo ainda difícil durante a cúpula, adiando as decisões. O próximo passo pode sair da reunião de ministros de Finanças do grupo, marcada para o começo de dezembro, enquanto os europeus tentam arredondar uma proposta viável.

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