postado em 06/11/2011 08:00
Entusiasmado com o crescimento econômico do Brasil, Ronan Paiva, 33 anos, decidiu fazer uma aposta de risco. Há sete anos, ele abriu uma loja de suplementos alimentares em Luziânia (GO), a 70 quilômetros de Brasília, e viu sua empresa despontar. Não apenas observou as vendas dobrarem como também contratou o primeiro funcionário. Ele não sabia, portanto, que estava sendo beneficiado pela onda de prosperidade que elevou o Centro-Oeste aos patamares de desenvolvimento semelhante ao do Sudeste. Dados Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostram que a região central do país, contemplada com pesados investimentos públicos e privados, alcançou a marca de 83,4% das cidades com índices sociais que vão de moderado a alto, ante a taxa de 50% apurada em 2006.
;O Centro-Oeste é o novo Sudeste do Brasil;, afirma Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos da Firjan. A classificação dos municípios mais bem colocados é de 86% no Sudeste e de 96,2% no Sul. O comerciante Paiva retrata bem esse movimento. ;Os negócios evoluíram muito. Com a chegada de pessoas de outros estados e o aumento da oferta de emprego, os consumidores passaram a comprar mais;, relata. O motorista Célio Veloso, 45 anos, colheu os frutos do desenvolvimento. ;Houve uma guinada na cidade. Meu filho já concluiu a faculdade e conseguiu emprego com carteira assinada;, comemora. Luziânia, que receberá seu primeiro shopping center em abril próximo, ficou no 2.996; lugar no ranking da Firjan, com um índice de 0,6284, considerado moderado.
O município de Valparaíso (GO), que ficou na 1.648; posição e registrou índice de 0,6920, também ostenta robusto grau de melhorias. Evaristo Silva Costa, 33, que o diga. ;Saí da profissão de caseiro para a de porteiro, aqui na cidade mesmo, e a renda da minha família melhorou;, conta. Na média nacional, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) ; que analisa as áreas de emprego, renda, saúde e educação ; alcançou, em 2009, 0,7603 ponto, numa escala que vai de zero a um. O índice pode ser considerado como alto (0,8 a 1,0), moderado (0,6 a 0,8), regular (0,4 a 0,6) ou baixo (0 a 0,4). Embora seja superior ao de 2007, o resultado é 0,6% menor do que o registrado em 2008 e reflete o impacto da crise econômica mundial. Em todo o país, 62,9% das cidades têm desenvolvimento de moderado a alto.
Capitais
A melhor colocação foi a de Barueri, no interior em São Paulo ; com um índice de 0,9303 ;, e a pior, de São Félix das Balsas, no Maranhão, com desempenho de 0,3413 (veja quadro). Entre as capitais, apenas São Paulo, na 11; colocação, se aproximou das 10 primeiras do ranking. Na comparação entre as unidades da Federação, o Distrito Federal fica na 7; posição ; atrás de Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Janeiro, Paraná e São Paulo ; e alavanca os números do Centro-Oeste. Além da atividade agroindustrial, o nível de renda da população foi importante para o destaque da região. ;Enquanto o rendimento médio da pessoa ocupada em Brasília é de cerca de R$ 2 mil, em capitais como São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, ele fica na faixa de R$ 1,7 mil;, compara Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).
Embora todas as regiões estejam crescendo, o Brasil continua dividido em duas bandas. O Norte e o Nordeste devem demorar, respectivamente, 20 e 10 anos para chegar ao atual padrão das localidades mais desenvolvidas. ;O problema é que, enquanto isso, as outras regiões também vão avançar e o abismo vai permanecer. Para que todos se igualem, será necessário um período que vai de 70 a 80 anos;, estima Miragaya. Pelos dados da Firjan, apenas em 2037 todos os municípios vão conseguir garantir à população atendimento básico de saúde, ensino fundamental de qualidade e maior inserção no mercado formal de trabalho. ;Incrivelmente, o indicador de educação e saúde, no Nordeste, é maior do que o de emprego e renda. Provavelmente, o Bolsa Família e outras políticas públicas contribuíram para essa mudança;, comenta Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).