ROMA - O chefe de governo italiano, Silvio Berlusconi, disse que renunciará a seu cargo quando o Parlamento aprovar as medidas econômicas prometidas à União Europeia (UE) para evitar o contágio da crise, informou nesta terça-feira em um comunicado a presidência da República.
"O chefe do Governo renunciará a seu cargo ante o Presidente da República para que sejam realizadas as consultas necessárias com os partidos políticos para a formação de um novo governo, uma vez que o Parlamento cumpra com esse requisito", diz a nota, divulgada poucas horas depois de Berlusconi ter perdido sua maioria absoluta na Câmara dos Deputados.
A decisão foi tomada por Berlusconi ao término de uma reunião de uma hora com o presidente, Giorgio Napolitano, durante a qual reconheceu que estava "consciente das consequências do voto" desta terça-feira na Câmara dos Deputados.
Berlusconi insistiu sobre a necessidade "urgente" de dar "respostas concretas às expectativas dos sócios europeos através da aprovação da Lei de Orçamentos para 2012, que sofreu emendas a partir das observações e propostas da Comissão Europeia", diz o comunicado. "Temos que nos preocupar com a situação da Itália, com o que ocorre nos mercados e com o fato de que os mercados não acreditam que a Itália será capaz de aprovar as medidas que a Europa exige", disse Berlusconi por telefone a um dos noticiários televisivos de sua propriedade.
"A Europa nos pediu medidas de incremento da nossa economia e nos pediu com muita insistência", disse Berlusconi, que solicitou ao Parlamento para que as aprove.
Criticado por diferentes setores por sua incapacidade para manejar a crise - negada por ele até poucos dias atrás, Berlusconi introduziu na semana passada uma emenda aos orçamentos de 2012 com as exigências feitas pela UE para garantir a estabilidade financeira do país. "Não me surpreendi, senti muita tristeza, quase dor. Muitas eram pessoas que conhecia há muitos anos, que entraram na política comigo, com quem possuía uma relação de amizade", confessou.
A lei deve ser aprovada antes de 18 de novembro pelo Senado e antes do final de novembro pela Câmara dos Deputados, segundo o calendário fixado. A renúncia de Berlusconi vinha sendo pedida nos últimos dias com insistência pela oposição de esquerda, assim como pelos sindicatos e pela federação de indústrias ante a delicada situação econômica da Itália, que vem sendo criticada pelos mercados devido a sua colossal dívida pública e um crescimento nulo.
As pressões para que o multimilionário primeiro-ministro apresente sua renúncia foram reforçadas nesta terça-feira após a aprovação das Contas do Estado de 2010, na qual obteve a vitória, mas teve revelada a perda da maioria no Congresso, através da perda do apoio de uma dezena de seus próprios deputados.
As Contas do Estado foram aprovadas com apenas 308 votos, abaixo dos 316 necessários para compor a maioria absoluta. "Quero saber o nome dos traidores", disse Il Cavaliere após a votação, visivelmente nervoso. Nos últimos dias, perdeu o apoio de 20 parlamentares de seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), em meio a divisões sobre as reformas exigidas ao país pela União Europeia (UE).
Nesta terça-feira, até o polêmico líder da Liga Norte, Umberto Bossi, aliado importante para a sobrevivência do governo, e que vinha garantindo a Berlusconi há três anos a maioria absoluta no Parlamento, pediu que Il Cavaliere renunciasse. "É melhor que dê um passo atrás e proponha em seu lugar o secretário de seu partido PDL, Angelino Alfano", disse Bossi.
Berlusconi, de 75 anos e há 17 anos no meio político, esteve no poder nos últimos dez anos, com exceção do período 2006-2008.