Atenas ; O governo de coalizão da Grécia, tendo à frente o novo primeiro-ministro, Lucas Papademos, tomou posse ontem sob extrema pressão. Além da constante vigilância dos demais 16 países que compõem a Zona do Euro e da desconfiança popular, a equipe econômica precisa aprovar rapidamente duras medidas de austeridade fiscal. Sem a chancela do parlamento ao programa de corte de gastos e de aumento de impostos, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não liberarão uma parcela de 8 bilhões de euros do primeiro plano de socorro. Sem o dinheiro, a administração não terá como pagar despesas básicas, como os salários dos servidores públicos no mês que vem.
;Vamos fazer todo o possível para enfrentar os problemas do país. Com a unidade de todas as pessoas, teremos êxito;, disse Papademos ao agora ex-primeiro-ministro, George Papandreou, numa rápida solenidade de transmissão do cargo. O gabinete, que tem ministros de ultradireita pela primeira vez desde o retorno da democracia após o fim da ditadura militar, em 1974, prestou o tradicional juramento diante de autoridades da Igreja Ortodoxa. Vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) entre 2002 e 2010, Papademos, 64 anos, foi escolhido como sinalização aos líderes da Europa de que o país vai se esforçar para cumprir as exigências fiscais e monetárias do bloco. Ele fará um aguardado pronunciamento na segunda-feira.
Compromissos
Um dos principais artífices da queda de Papandreou, de quem é desafeto, Evangelos Venizelos, 54 anos, seguirá à frente do Ministério das Finanças, além de acumular o cargo de vice-primeiro-ministro. Sua principal missão será negociar os termos da redução da dívida pública com os bancos, que aceitaram arcar com um calote de metade do valor dos títulos que teriam a receber. Ontem, ele disse que a nova administração vai reafirmar os compromissos aos credores internacionais. Segundo o ministro, nenhuma medida adicional será necessária além do impopular programa apresentado por Papandreou, que inclui o corte de salários e de aposentadorias e a privatização de estatais. Na semana que vem, inspetores do FMI, da UE e do BCE visitarão o país.
Incógnita
Formada por três partidos, a coalizão de Papademos já nasce com uma maioria de 254 deputados, num total de 300 no parlamento unicameral. Os líderes gregos não definiram quanto tempo o gabinete durará. A princípio, ele seria dissolvido em fevereiro do ano que vem, quando eleições gerais escolheriam um novo Congresso. Mas, perguntados sobre o acordo ontem, autoridades foram evasivas. Outra incógnita é a coesão de uma equipe que aumentou em 47 membros, entre eles nove ministros adjuntos e 21 secretários de Estado. Quatro ministros serão do partido Laos, de extrema-direita.
Pontos de interrogação
O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, disse ontem que a crise europeia gerou dúvidas sobre o futuro da moeda compartilhada por 17 nações do continente. ;É um momento muito difícil para Zona do Euro. Existe uma turbulência real nos mercados, pontos de interrogação sobre se os países podem lidar com suas dívidas e sobre o futuro da Zona do Euro;, disse em entrevista à Radio 2 da BBC. ;Minha responsabilidade é, obviamente, tentar ajudar com uma solução para esses problemas.;
Berlim ; A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, apoiaram ontem o novo primeiro-ministro grego, Lucas Papademos. A dupla de líderes, apelidada de Merkozy pela imprensa, desejou sorte ao sucessor de George Papandreou para tirar o país do abismo do superendividamento. Os dois são os que mais pressionam pela adoção de medidas de austeridade fiscal que permitam a liberação do pacote de ajuda levantado pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
;Desejo sorte em seu futuro trabalho como primeiro-ministro;, escreveu Merkel a Papademos. ;Posso assegurar que a Alemanha apoiará a você a ao povo grego na luta para responder aos desafios comuns na Europa e na Zona do Euro.; Sarkozy, por sua vez, também assegurou estar disposto a defender a Europa com ;todas as forças;, razão pela qual terá que ;colocar novamente nos trilhos; tanto a Grécia como a Itália.
O presidente francês fez um breve discurso nas redes de televisão TF1 e France2, no término de uma cerimônia comemorativa do fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. ;Lutarei com todas as minhas forças para preservar a solidariedade e a força da Europa;, declarou. ;É a herança que recebemos de nossos avós e nossos pais, não temos direito a dilapidá-la.;
Sarkozy garantiu que a estabilidade financeira é fundamental para a garantia de um continente sem conflitos. ;Para França e Alemanha, há duas soluções. A convergência e a paz ou a divergência e o confronto. A convergência e a paz são a Europa. Defenderei essa Europa com todas as minhas forças. Não há outras alternativas;, disse.