Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 12/11/2011 08:47
O Banco Central seguiu a cartilha do Ministério da Fazenda e deu ontem incentivos aos bancos para abrirem os cofres em operações de crédito de curto prazo. A meta é reverter a desaceleração da economia neste fim de ano e fazer com que a atividade comece 2012 a pleno vapor. O governo tem em mãos dados mostrando que o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter sido negativo no terceiro trimestre e corre o risco de ficar próximo de zero entre outubro e dezembro. Para convencer as instituições a ampliar o crédito direto ao consumidor (CDC), os empréstimos consignados e pessoal e os financiamentos de veículos, o BC reduziu a exigência de capital para transações com vencimento em até 60 meses. Com isso, conforme antecipou o Correio, o governo começou a desmontar as ações macroprudenciais adotadas no fim de 2010 para conter a inflação. As novas medidas se seguem à queda da taxa básica de juros (Selic), que já recuou um ponto percentual e deve cair mais 0,50 ponto no fim do mês.
Em compensação, o BC arrochou as operações de longo prazo (acima de cinco anos), consideradas mais arriscadas, pois a possibilidade de inadimplência é maior. Nesses casos, os bancos terão que dispor de mais dinheiro em caixa se quiserem financiar os consumidores. O denominado fator de ponderação de risco dobrará, passando de 150% para 300%. O risco normal, exigido pelo Acordo de Basiléia é de 100%. A elevação significa que, para manter ou fazer novas operações com os clientes nessa situação, o banco terá que ter mais capital próprio. Se o risco fosse normal, por exemplo, de cada R$ 1 mil emprestados, o banco teria que ter R$ 110 de capital próprio. Na nova sistemática, para cada R$ 1 mil emprestados, os bancos terão que contar com R$ 330 de capital próprio.
De acordo com cálculos do economista José Márcio Camargo, o nível de endividamento das famílias já ultrapassa 43% da renda. Como os consumidores brasileiros não têm por hábito observar os juros, mas apenas se a prestação cabe no bolso, o risco de atraso no pagamento cresce proporcionalmente ao prazo. Durante o longo tempo de financiamento, as famílias pegam novos empréstimos e a soma acaba comprometendo uma parcela considerável do salário. Daí para a inadimplência é um pulo.
Comércio
O BC aliviou a exigência de capital dos bancos para os créditos de curto prazo, que havia sido elevada no fim do ano passado com outras medidas por conta da crise. O crédito consignado concedido com prazo de até 60 meses está voltando para o nível de ponderação de risco normal, de 100%, em vez dos 150% exigidos desde dezembro de 2010. Para Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), a decisão foi acertada e vai ajudar no equilíbrio financeiro dos bancos. ;O BC está mostrando que está atento à gestão de passivos dos bancos e avisando às famílias que está preocupado com o endividamento de longo prazo;, avaliou. ;É muito boa essa medida porque evita dívidas impagáveis. Ainda vai beneficiar o comércio;, observou Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do BC.
A mesma coisa ocorreu com o financiamento de veículos. O BC retirou a exigência do consumidor de dar uma entrada entre 20% a 40% do preço do veículo para fins de ponderação de risco. Até agora, a pontuação podia ser baixa para os financiamentos de até 60 meses. Com isso, o banco tinha que colocar menos capital no caso de uma entrada maior. Isso agora fica a critério da instituição. Independentemente da entrada, o BC está agora de olho no prazo. Por isso, foi mantido em 150% o fator de ponderação, que tinha sido elevado em dezembro, para os financiamentos acima de 60 meses.
O que mudou
; O Banco Central reduziu o custo das operações de curto prazo e encareceu as que vencem acima de 60 meses. O objetivo é estimular o consumo e a economia e garantir o crescimento das vendas de Natal e do início do ano que vem. O governo teme um forte tombo da economia, o que aumentaria o desemprego. As medidas foram definidas em conjunto com a Fazenda;
; Para dar um contraponto ao alívio no crédito de curto prazo, o BC exigirá mais capital dos bancos para os empréstimos e financiamentos acima de cinco anos. O objetivo é evitar que as famílias fiquem penduradas com dívidas por muito tempo, o que aumenta o risco de calote. A cada R$1 mil emprestado, o banco terá de guardar R$ 330;
; O pagamento mínimo da fatura de cartão de crédito será mantido em 15%. Havia uma definição do próprio BC de que esse limite subiria para 20% a partir de dezembro. A autoridade monetária entendeu que não há mais necessidade de exigir o desembolso maior dos consumidores.
Fonte: Banco Central