Vera Batista
postado em 13/11/2011 11:36
O brasileiro está pagando as dívidas para voltar com ímpeto renovado às compras de fim de ano. Mas, mesmo com o empurrãozinho dado pelo Banco Central, que incentivou o consumo de curto prazo para evitar uma recessão no país, ao afrouxar as regras para o crédito de curto prazo, o sentimento ainda é de que os preços estão salgados. Mais exigentes, negociam descontos e evitam prestações mais longas, que podem resultar em inadimplência futura caso a crise mundial se agrave, o desemprego no Brasil aumente e a renda, caia.
A presidente Dilma Rousseff está convencida de que, com os incentivos dados aos bancos para que emprestem mais e financiem o maior número possível de mercadorias, a economia brasileira conseguirá passar de forma menos penosa pela crise. Ela já foi avisada tanto pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, quanto pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, que a situação na Europa vai piorar no início de 2012, o que empurrará a maior parte do mundo desenvolvido para a recessão. Foi justamente o temor de que o baque lá fora seja grande demais, que a autoridade monetária, com o aval do Fazenda e do Palácio Planalto, retirou parte das amarras impostas ao crédito no fim de 2010, quando a inflação estava em disparada.
A avaliação do BC é de que, com a inflação cedendo nos próximos meses, e com as regras mais rígidas para empréstimos e financiamentos de longo prazo (acima de 60 meses), não há grandes riscos para o país, inclusive o de uma onda de calotes por causa do aumento do desemprego e da queda da renda. O governo já dá como certo que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre foi negativo. O crescimento dos últimos três meses deve ficar perto de 0,5%, o que garantirá uma taxa final para todo o ano ligeiramente acima de 3%. Para 2012, com o crédito mais forte, o incremento dos gastos públicos e a correção de 14% do salário mínimo, a tendência é de a alta do PIB encostar no 4% ou mesmo superar esse patamar.
Muita pesquisa
O militar reformado Benjamim Gomes, 37 anos, aproveitou o sábado para negociar um pacote de serviços com a sua operadora de telefonia celular e reduzir o valor mensal dos gastos, para depois começar a pensar no que comprará para o Natal. Conseguiu baixar a fatura mensal de R$ 220 para R$ 102. ;Não quero sair perdendo as vantagens, mas havia coisas, como internet, por exemplo, que nunca usei;, contou Benjamin. Ele disse que também aproveitou a semana antes do feriado para resolver pendências financeiras. ;Entrei no cheque especial. Estava pagando juros de 8,7% ao mês. Troquei por um empréstimo consignado e consegui taxa mensal de 1,7%;, comemorou.
A arquiteta Any Florêncio, 42, gostou da iniciativa do Banco Central, mas não modificará seus hábitos. Foi comprar uma lavadora, acompanhada da filha Marina, 12, e pesquisou exaustivamente os preços. ;Consegui baixar de R$ 2,4 mil para R$ 2,3 mil e ainda ganhei um ano de garantia;, afirmou. Já a arquiteta Tainá Freitas Rosa, 26, não passou da pesquisa e vai esperar o 13; salário entrar na conta-corrente. ;Vou pegar esse extra e comprar tudo à vista. A gente não pode esquecer que, em janeiro, chegam IPTU, IPVA, compra de material escolar e todo o resto;, lembrou. Prevenida, ela guardará parte da remuneração, para não ;ter dor de cabeça; já no início do ano.
A funcionária pública Núbia Silva, 27, está há apenas um mês em Brasília. Recém-chegada de Palmas, no Tocantins, visitou shoppings populares em busca de promoções. ;Como já ganhei um carro do meu namorado, adiantei as compras de Natal;. Comprou sapatos para mãe, irmã e namorado. ;Tudo à vista e com 5% a 10% de desconto;. O casal Gilvan dos Santos, 36, marceneiro, e Ivanilde dos Santos, 28, que passeava com as filhas Giovana, 6, e Gabriela, 4, não passou das pesquisas. ;As meninas queriam uma boneca. Mas, por enquanto, só ganharam um pirulito;, brincou Ivanilde.
Poder de barganha
Se depender da população, a economia brasileira manterá o ritmo de crescimento, com indústria e comércio vendendo mais. Porém, o novo consumidor, que conhece seus direitos, não aceita imposições. ;Os preços estão altíssimos. As empresas têm margens de lucro cada vez mais elevadas. Então, acho que chegou a hora de a classe média fazer valer o seu poder de barganha. Às vezes, até aceito pagar determinado preço. Mas quero vantagens, exijo qualidade e tratamento diferenciado. Por que só os ricos são paparicados? O meu dinheiro vale o mesmo que o deles, nem mais, nem menos;, enfatizou o professor aposentado Eduardo Lerosa Espírito Santo.