Atolado em denúncias de corrupção, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, está vendo enfraquecer, em uma velocidade impressionante, o melhor discurso para ainda justificar sua permanência no governo. O emprego com carteira assinada, com o qual ele sempre se vangloriou para mostrar serviço à presidente Dilma Rousseff, foi atropelado pela crise internacional e pela forte desaceleração da economia doméstica. Em outubro, o número de vagas formais registrou queda de 38,4% ante o mesmo período de 2010, totalizando apenas 126.146, o pior resultado para o mês desde 2008, quando o mundo foi arrasado pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana.
No acumulado do ano, foram abertos 2,24 milhões de postos de trabalho, 18,3% a menos que o total computado entre janeiro e outubro de 2010. Diante desse quadro, Lupi foi obrigado a reduzir, pela segunda vez, a meta de empregos formais que havia prometido ao Palácio do Planalto. De início, ele assegurava que o Brasil ostentaria, no primeiro ano da administração Dilma, o recorde de 3 milhões de vagas com carteira assinada. Depois, passou a projetar 2,7 milhões. Agora, admitiu que, na melhor das hipóteses, o saldo será positivo em 2,4 milhões de contratações.
Os números apresentados pelo ministro acenderam o sinal de alerta no Palácio do Planalto. Ainda que a ordem de Dilma tenha sido a de difundir a ótima situação do mercado de trabalho brasileiro em relação ao que se vê no mundo ; a Europa registra índices recordes de desemprego e, nos Estados Unidos, a taxa de desocupação passa de 9% ;, teme-se que o ritmo cada vez menor de abertura de vagas empurre a atividade ladeira abaixo. O Banco Central já avisou que, pelas suas contas, o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de riquezas acumuladas pelo país, encolheu 0,32% no terceiro trimestre do ano. E vários analistas não descartam a possibilidade de os últimos três meses também serem negativos, o que, tecnicamente, seria caracterizado como recessão, palavra que dá ojeriza na presidente Dilma.
Acuado, Lupi reconheceu o momento adverso. ;Já sentimos, claramente, os efeitos da crise internacional, principalmente na indústria, que só conseguiu criar 5.206 vagas em outubro contra 68.124 em setembro;, disse. E nem as encomendas de Natal estão sendo suficientes para reverter esse quadro. Assim, a expansão menor do emprego é mais evidente em São Paulo, a região mais industrializada do país e onde estão as principais montadoras de carros, que deram férias coletivas por causa do excesso de veículos nos pátios das fábricas. ;A indústria paulista vem sofrendo a crise com maior intensidade. Foram fechados 11,4 mil postos no mês passado. A crise diminui muito as encomendas. Com isso, São Paulo sofre mais. A criação de empregos no estado está abaixo da média;, reconheceu.
No setor de serviços, o saldo se manteve positivo em outubro: 77.201 postos a mais, graças à contribuição do comércio, responsável por 60.878 novas vagas. Já o total de empregos na construção civil caiu praticamente um terço, de 28,2 mil em setembro para 10,2 mil em outubro, efeito direto das chuvas, da redução do crescimento econômico e do término de muitas obras. Na agricultura, a perda de vagas já era esperada por conta do fim de várias safras.
Centro-Oeste
Ciente da falta de credibilidade que enfrenta no comando do ministério, Lupi se recusou até a dar bom-dia ao anunciar os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E para não se desdizer novamente ou ser obrigado a assumir que a sua memória não anda lá essas coisas, ele tratou de não se comprometer com a nova meta de 2,4 milhões de empregos formais neste ano. ;Não temos como medir o impacto da crise no mercado de trabalho, cujo reflexo não é imediato;, alegou. Mas assegurou que o estrago não será tão forte quanto em 2009, quando só foram abertas 1,3 milhão de vagas. ;A crise internacional está assustando o mercado interno;, observou.
No entender do ministro, com a turbulência que empurra a Europa para a recessão e abala os EUA, as empresas contratam menos e reduzem os investimentos. Isso vale, inclusive, para o governo, que, temendo a desconfiança do mercado, foi obrigado a reduzir as despesas com obras de infraestrutura, a maior parte incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para novembro Lupi disse esperar que o emprego formal se mantenha na média histórica dos últimos anos: geração de 70 mil vagas, aproximadamente. Para dezembro, a expectativa é de uma perda líquida de cerca de 350 mil postos, a maioria de trabalho temporário.
Em termos regionais, o Centro-Oeste foi a única região do país a apresentar redução no nível de emprego no mês passado: foram fechados 2.987 postos. O desempenho altamente negativo de Goiás (menos 4.661 vagas) e Mato Grosso do Sul (supressão de 1.986 empregos) superou o resultado positivo do Distrito Federal ; com geração líquida de 3.179 contratações ; e Mato Grosso, que conseguiu abrir 481 vagas. Os números negativos de Goiás e Mato Grosso foram atribuídos por Lupi ao setor sucroalcooleiro. A região vive a entressafra do álcool (indústria química), que afeta também a produção de açúcar, integrante da indústria alimentícia.
Benefícios reforçados
O governo elevou em R$ 3,22 bilhões a projeção de gastos com abono salarial e seguro-desemprego neste ano, o que reforça a expectativa de forte desaceleração da economia. Esse é o segundo aumento seguido na despesa. De acordo com o quinto relatório de avaliação de receitas e despesas do governo, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento e pelo Tesouro Nacional, os benefícios previstos em 2011 passaram de R$ 32,09 bilhões para R$ 35,31 bilhões.
Na avaliação anterior, esses mesmos itens já haviam sido acrescidos em R$ 5 bilhões. Uma despesa que o governo esperava reduzir R$ 3 bilhões no início do ano, quando ainda sonhava com um desempenho econômico melhor, agora foi elevada em
R$ 8,22 bilhões no total, diante da conjuntura adversa na economia internacional e doméstica. Essa segunda elevação veio num momento em que o governo admite os efeitos da crise global, que arrasta principalmente os países mais ricos, no mercado de trabalho interno.
O abono salarial, no valor de um salário mínimo, é devido a quem exerceu atividade remunerada, durante pelo menos 30 dias no ano, com remuneração mensal de até dois mínimos. É preciso, ainda, estar cadastrado há pelo menos cinco anos no Programa de Integração Social (PIS). Tem direito ao seguro-desemprego, cujo valor varia de acordo com a faixa salarial, o trabalhador que foi despedido sem justa causa. Ele é pago em até cinco parcelas.