Economia

Consumidor da classe C está mais exigente com a qualidade das compras

postado em 21/11/2011 08:09
Exemplo da nova atitude, a dona de casa Maria do Carmo prefere pagar caro a levar um produto barato que possa lhe causar aborrecimentos.
Tevês de LCD, tablets, blu-ray e celulares de última geração povoam os sonhos de consumo de 96 milhões de brasileiros da classe C, que se tornaram a principal aposta de crescimento das vendas do varejo neste Natal. Além de consolidar uma tendência iniciada na década passada, puxada pelo avanço da renda e da formalização do emprego, as intenções de compra desses consumidores trazem desafios novos às lojas. Preços em conta e facilidades na hora do pagamento continuam pesando nas escolhas da nova classe média. Mas esse contingente, que se transformou no verdadeiro motor da economia brasileira, está cada vez mais exigente e passou a cobrar qualidade, variedade de opções e inovação.

O economista Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, avalia que o expressivo clube do consumo emergente, equivalente à metade da população, refinou o gosto, concentrando os desejos em produtos eletroeletrônicos antes inacessíveis. Segundo ele, até o ano passado, o grande fenômeno do comércio foi a migração de 31 milhões da classe D para a C, com renda familiar entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. A nova onda é ter um segundo celular de última geração ou trocar o aparelho televisor por um mais moderno. ;Após conquistar a cultura de consumo, o grupo que vem embalando a economia do país no ritmo do seu poder aquisitivo e do aumento do próprio tamanho empreende uma virada em favor da qualidade e não apenas da quantidade;, ilustra.

A família da dona de casa Maria do Carmo, moradora de Samambaia, é um exemplo dessa nova atitude. Os dois filhos dela estão antenados nas novidades da indústria da telecomunicação e querem trocar de celular todos os anos. Maria prefere pagar mais caro a levar para casa algo de baixa qualidade e depois se arrepender. ;Eu não compro qualquer coisa. Primeiro, pesquiso se o produto é bom. Minha próxima tevê virá depois de procurar muito;, afirma ela, enquanto analisa vários aparelhos numa loja de eletrodomésticos do Plano Piloto.

O estudante Murilo Furtado, 24 anos, resolveu equipar seu quarto com uma tevê de LCD. ;Minha televisão ainda funciona, mas está ultrapassada. Quero substituí-la por uma que ofereça melhor qualidade de imagem;, justifica. Em sua casa, não faltam eletrônicos: celulares, videogame e iPod. ;Agora, penso em comprar um iPhone;, declara. Ele admite que os produtos da Apple, novos ícones do consumo mundial, estão entre suas prioridades. ;Gosto de tecnologia e da facilidade que ela traz ao meu dia a dia.; O economista Ricardo Rocha, da Fundação Vanzolini, tenta explicar o que vem ocorrendo: ;Se alguns só querem ir além do celular, muitos desejam também agregar algo mais ao produto que já incorporaram ao cotidiano;.

Impulsos
Eliana Bussinger, especialista em educação financeira e autora do livro A Dieta do Bolso, vê com preocupação o ímpeto consumidor das classes emergentes. ;Milhões tiveram acesso a bens e passaram a buscá-los. Mas eles ainda são as vítimas preferenciais dos malefícios do crédito farto associado a juros elevadíssimos;, afirma. Segundo ela, apesar do risco de recessão em 2012, esse grupo não parece se preocupar com as perspectivas negativas da economia e continua aplicando recursos em ;gastos excessivos ou simplesmente desnecessários;.

Além do apelo de produtos que até há pouco eram acessíveis apenas aos mais ricos, Eliana salienta que nem as classes mais baixas conseguem escapar das tentações dos modismos. ;A grande procura por celulares no fim de ano e a ansiedade dos adolescentes pelo tênis novo do colega são um retrato disso;, diz. A pesquisadora percebe uma escalada do consumo baseado apenas em impulsos. Após duas décadas de restrições, os trabalhadores de renda menor agora nadam nas facilidades de crédito, apesar dos juros altos. A possibilidade de faltar dinheiro para honrar os compromissos não os assusta.

Outro bom exemplo do mergulho da classe C nos eletrônicos top de linha é a advogada Néia Xavier, 26 anos. Neste fim de ano, após comprar uma tevê com tecnologia 3D e um videogame Xbox, colocou um blu-ray na mira. ;Minha filha, de 10 anos, quer todas as novidades. Ela tem um smartphone de última geração, mas já quer trocá-lo pela versão nova. Agora, não pede boneca, mas um tablet;, conta. Néia opta por aparelhos de marca conhecida. ;Valorizo qualidade e, por isso, só confio em referências testadas por amigos.;

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