Economia

Micro e pequenas empresas despertam para ações de sustentabilidade

Há escassez de mão de obra qualificada e nem sempre o retorno do investimento é rápido, mas as compensações extrapolam os ganhos

postado em 27/11/2011 10:38
O empreendedor Rogério Mazer instalou um papa-pilhas no restaurante natural que administra

Embora a ideia de sustentabilidade empresarial esteja fortemente ligada às médias e grandes corporações, muitas micro e pequenas empresas (MPEs) já se esforçam para provar que é possível ser sustentável por meio de uma mudança de atitude e de um estilo de gestão, independentemente do resultado no faturamento do caixa. Simples ações no dia a dia ajudam a preservar o meio ambiente, a sobreviver financeiramente e a conviver de forma mais harmônica com os funcionários e com a comunidade.

E são essas três dimensões ; a ambiental, a econômica e a social ; que formam o tripé da sustentabilidade corporativa (veja quadro), conceito bastante difundido entre especialistas da área.

A despeito do aumento da parcela de consumidores mais conscientes, a parte verde desse modelo ainda é deixada de lado por empreendedores que enxergam como gastos extras as ações voltadas à redução dos impactos negativos. ;A sustentabilidade não pode ser vista como uma despesa, mas um investimento. Quando a empresa gera menos resíduos, o preço do produto cai e ela se torna mais competitiva;, defende Flávia Firme, gerente de acesso a inovação e tecnologia do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Distrito Federal (Sebrae-DF).

Investir foi a decisão do administrador Rogério Mazer, 47 anos, proprietário do restaurante natural Green;s. ;Comprei lixeiras para a coleta seletiva, instalei um papa-pilhas, redimensionei os espaços nas cozinhas, treinei funcionários. Não ganhei nada em dinheiro, mas sei que o retorno vem aos poucos, e a recompensa emocional faz com que a gente se sinta melhor;, analisa o comerciante, que ainda aderiu à proposta da Ecolimp, empresa que coleta o óleo de cozinha em troca de produtos biodegradáveis de limpeza.

A consciência ambiental de Rogério e da equipe que ele coordena veio com o tempo. ;Por trabalharmos com alimentação saudável, o público tem essa percepção e passa a cobrar da gente. Então, é um estilo de vida que queremos ter, para que a pessoa que coma aqui tenha orgulho;, afirma. Este semestre, o estabelecimento lançou uma promoção em que distribui aos clientes um adesivo de carro com as palavras ;reduza, reutilize, recicle;. ;Fotografamos o automóvel quando o vemos na rua, anotamos a placa e fazemos um sorteio de uma refeição grátis por semana;, conta Rogério. Mas o empresário admite que a campanha vai além do interesse em conscientizar a população: é uma estratégia de marketing.

Agregar valor à marca, aliás, é uma das vantagens percebidas por uma empresa que dá atenção à perna ambiental do tripé da sustentabilidade. Mostrar ao consumidor que aquela corporação se preocupa com o meio ambiente e adota procedimentos internos para economizar os recursos naturais aumenta a competitividade e é um fator de fidelização. ;Aí, a gente começa a entrar numa linha em que o cliente vai se lembrar daquele microempresário não só pelo serviço, pelo preço e pelo atendimento, mas também pelas ações que ele realiza para gerar uma qualidade de vida melhor para o cidadão;, aponta o consultor de empresas Mauro Castro, que também é professor de administração e marketing no Centro Universitário de Brasília (Uniceub).

Dificuldades

De acordo com Flávia Firme, do Sebrae, o principal obstáculo para a adoção de medidas sustentáveis é a falta de informações. Para driblar essa barreira, o administrador Eduardo Pereira dos Santos, 41 anos, foi à internet buscar ajuda. ;Sempre tive essa preocupação com o meio ambiente, mas não sabia direito o que fazer. Queria plantar árvores;, lembra o dono da Body Island, multimarca de moda esportiva e praia. Ele encontrou o site da organização não governamental Amigos do Futuro, que o ajudou a criar um programa de gestão ambiental ; a partir de um diagnóstico dos impactos causados pela loja, a ONG listou o que poderia ser feito para minimizá-los.

Eduardo e as sócias, Rejane Santos e Rose de Almeida, perceberam que o trabalho extrapolaria o plantio de mudas, mas nem por isso seria inacessível. O trio implantou soluções como a instalação de temporizadores de luz nas vitrines e de sensores nos estoques; o uso de cartuchos e papéis reciclados para a impressão; a troca de parte das embalagens de plástico por sacolas de papel reciclado; a adoção de squeezes (garrafas reutilizáveis) para os funcionários. Para transferir as mercadorias entre as duas lojas que o trio possui em Brasília, a equipe lança mão de uma ecobag (bolsa de tecido). ;A gente acaba educando. Não só os clientes, mas também os vendedores. Isso é muito bacana;, analisa Eduardo, que também aproveita para valorizar a marca da empresa por meio da divulgação das ações para a clientela ; com mensagens nas sacolas, na fachada e durante as vendas.

O reflorestamento, como o administrador havia previsto, também ocorreu. Depois de um levantamento sobre a emissão de gases de efeito estufa da loja multimarcas, a compensação veio em forma de plantio de árvores em uma área próxima a Sobradinho. A professora de responsabilidade socioambiental e diretora da Amigos do Futuro, Rejane Pieratti, adverte que trabalhos desse tipo devem ser constantes: ;Não tem receita. Depende da empresa, mas é preciso manter o plano de gestão ambiental de forma contínua. É mudar a cultura do local;.

Participação insconsciente
; Para avaliar o nível de percepção dos pequenos empreendimentos sobre sustentabilidade e meio ambiente, o Sebrae fez uma sondagem, em junho deste ano, com 3.085 empresários dos segmentos de comércio e serviços (83%), indústria e construção civil (12%) e agronegócio (5%).

; Cinquenta e oito por cento dos entrevistados afirmaram não ter conhecimento sobre o tema, mas, na prática, 61% a 80% deles já realizam, ainda que de forma inconsciente, algum tipo de ação sustentável, como controle do consumo de energia, água e papel. Apenas 29% disseram saber muito sobre sustentabilidade e meio ambiente, 3% avaliaram como médio esse nível de conhecimento e aproximadamente 10% definiram como baixo.

; Para 47%, a questão ambiental representa oportunidades de lucro; para 13%, essa questão está relacionada a custos e despesas; e para 40%, nem ganhos, nem gastos. Segundo a conclusão do relatório, esses números significam que há necessidade de melhor esclarecimento quanto às vantagens obtidas por meio da sustentabilidade empresarial.

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