Economia

Vale vai explorar metais de terras-raras no interior de Minas Gerais

Marta Vieira - Especial para o Correio
postado em 28/11/2011 09:37
Com voz pausada e um toque da sonoridade típica dos mineiros nascidos no interior do estado, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, fala dos projetos da companhia em Minas Gerais como iniciativas desafiadoras e abrangentes. O mais novo deles e talvez o mais complexo, revelou o executivo ao Estado de Minas, é a decisão da companhia de explorar os metais de terras-raras em Minas. A Vale descobriu recentemente uma reserva desse conjunto de 17 elementos químicos, considerados o futuro em matéria de mineração, no município de Patrocínio, no Alto Paranaíba.

Segundo o presidente da mineradora, a área está localizada ao lado das jazidas de rochas fosfáticas que a empresa já detinha no local. ;Cada vez mais a gente está motivado para o investimento que vamos fazer em Patrocínio;, disse Murilo Ferreira. O projeto entrou no planejamento estratégico da Vale, mas ainda não tem um cronograma definido.

Metais de terras-raras são aplicados na fabricação de superímãs, telas de tablets, computadores e celulares, fertilizantes e combustíveis. Outro empreendimento de grande porte, o Projeto Apolo, que pretende extrair minério de ferro na Serra do Gandarela, em Caeté, na Grande Belo Horizonte, está recebendo atenção especial dos técnicos da Vale.

O presidente da mineradora disse que todo o esforço tem sido feito para a empresa conseguir vencer a resistência dos ambientalistas. Desistir está fora dos planos de Ferreira. ;Sou de Uberaba. Lá, a gente não desiste de nada;, disse, sorridente, ao EM.em sua última visita a Belo Horizonte, na semana passada, quando recebeu acionistas e analistas do mercado de capitais. Nessa entrevista, ele fala sobre a atuação da empresa em Minas.

Futuro de Itabira (berço das operações da Vale em Minas)
;Certamente, um dos pontos de que a gente tem mais orgulho é da nossa história em relação a Itabira. É muito emocionante caminhar pela cidade e ver tamanha influência da empresa. A gente acredita num futuro muito bonito para Itabira e nos preocupamos, também, com a diversificação dos negócios locais. Tudo aquilo que a gente puder fazer para trazer motivação e entusiasmo para que isso ocorra será perseguido pela Vale;.

Deixando a corte
;Gosto muito de ouvir os nossos colaboradores. Costumo dizer que a corte (é como ele chama o escritório central, no Rio de Janeiro) não pode ficar distante das pessoas. Elas têm observações muito interessantes que nos ajudam na gestão da empresa. Recebo os empregados todo mês, vou às operações da companhia nos horários das trocas de turno, converso com os colegas e quero sempre ouvir. Esse é o meu jeito. É a forma que eu sempre procurei usar para gerenciar. Faço desse jeito também em relação aos sindicatos, assim como recebo investidores e analistas de mercado. Precisamos ter uma visão plural do que ocorre na companhia. Só assim podemos evoluir.;

Tecnologia x minério pobre
;As pessoas pensam que mineração é uma coisa estática. A mineração é dinâmica e a Vale está investindo em muitos recursos, pesquisa e desenvolvimento. Anunciamos hoje no Vale Day, em Nova York (a empresa concederá entrevista na bolsa de valores), o montante que vamos investir em pesquisa e desenvolvimento. Temos que fazer uma lavra sustentável, com a filosofia a longo prazo e profundo respeito à sustentabilidade. Meu pensamento é trazer o melhor retorno para o acionista, mas ao mesmo tempo fazer com que a Vale seja a primeira no mundo em sustentabilidade.

Vale vai crescer 15% em Minas até 2015, mas a participação do estado cairá em relação à do Pará
;Temos projetos muito abrangentes, desafiadores e motivadores em Minas Gerais, não limitados ao minério de ferro e ao Quadrilátero Ferrífero (porção rica em jazidas minerais na Região Central do estado). Vou começar falando dos investimentos da Vale na minha terra. Pretendemos duplicar a Vale Fertilizantes em Uberaba (no Triângulo Mineiro), num plano que se estenderá pelos próximos três anos. Temos um projeto fantástico chamado Projeto Salitre em Patrocínio (no Alto Paranaíba), para explorar fosfato, com um investimento brutal de quase US$ 3 bilhões e temos ao lado uma reserva de terras-raras. Temos, também, o projeto Apolo, na Serra do Gandarela (em Caeté, na Região Metropolitana de BH). Isso, só para falar em alguns dos nossos grandes projetos no estado. ;

Exploração de terras-raras
;O desenvolvimento de terras-raras, agora, é o assunto da moda na mineração. A denominação é curiosa, porque, na verdade, terras-raras são elementos até abundantes na face da Terra. No entanto, muito difíceis de ser processados. A nossa reserva ao lado do projeto de fosfato em Patrocínio foi uma descoberta recente e cada vez mais a gente está motivado com o investimento que vamos fazer no município. Não vamos desenvolver as duas áreas ao mesmo tempo porque o nosso projeto de fosfato está bem adiantado. Há diversos investidores que querem se associar a nós, mas temos a nossa filosofia em relação ao projeto e vamos desenvolvê-lo dentro do nosso planejamento estratégico. Não temos ainda um cronograma fechado. Hoje, a China concentra 96% desse material e ele é muito usado em aplicações eletrônicas e produtos sofisticados. Há o interesse no mundo inteiro de que essa concentração não ocorra nas mãos de um só país.;

Projeto Apolo, avaliado em R$ 4 bilhões, para produzir 24 milhões de toneladas anuais de ferro
É um projeto enorme na Serra do Gandarela (entre os municípios de Caeté e Santa Bárbara), para o qual estamos fazendo o maior esforço para ter colaboração com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Nos esforçamos muito para achar um ponto comum de atratividade. Sou de Uberaba. Lá, a gente não desiste de nada. ;

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