postado em 03/12/2011 08:00
O Fundo Monetário Internacional (FMI) emitiu sinais contraditórios ontem sobre o seu papel no combate à crise da dívida na Zona do Euro. Em São Paulo, a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, afirmou que a atuação do organismo multilateral de crédito deve ser pouco visível, concentrando-se mais nos bastidores do que no palco principal. Em Washington, entretanto, seu porta-voz, Gerry Rice, divulgou um comunicado em que a instituição pediu que o Banco Central Europeu (BCE) lhe empreste dinheiro, que seria reenviado aos países com problemas fiscais ; as regras do BCE dificultam o financiamento direto aos membros da União Europeia (UE).
Em entrevista ao programa de tevê Globo News Painel, Lagarde afirmou que, se nenhuma solução coletiva e ampla surgir, a Europa pode enfrentar uma ;década perdida;. Segundo ela, o Fundo está satisfeito em atuar em busca de uma solução para a crise do euro, que precisa ser encarada com reformas estruturais e com rigor fiscal. ;Eu estou muito feliz que o FMI esteja no meio disso de forma efetiva, mas não necessariamente de uma forma visível;, disse. Na avaliação da economista, a crise vai ressaltar a importância das nações emergentes, como o Brasil e a China, que permanecem crescendo.
Nos últimos dias, aumentaram as pressões para que o BCE reforce a capacidade financeira do FMI, que usaria o dinheiro extra para emprestar aos países do euro ; a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, se opõe à operação.
;O FMI precisará de mais recursos caso a crise se aprofunde, e as autoridades europeias estão explorando a possibilidade de empréstimos bilaterais ao FMI;, salientou Gerry Rice na nota. Hoje, o organismo dispõe de US$ 389 bilhões em caixa, o que é insuficiente para socorrer economias como a italiana e a espanhola. Diante das tensões, Lagarde discutiu as qualidades terapêuticas da acupuntura com o governador paulista, Geraldo Alckmin, especialista no assunto.
Negociação complicada
O primeiro-ministro grego, Lucas Papademos, disse ontem que seu governo está realizando uma ;negociação complexa; com os credores privados para reduzir o volume de sua dívida pública mediante uma troca de papéis. As conversas têm o objetivo de eliminar 50% do estoque dos títulos em poder de bancos, seguradoras e fundos de investimento, numa diminuição de cerca de 100 bilhões de euros. Os investidores querem que os acordos sejam feitos levando em conta o direito inglês e o norte-americano, que os favorecem. Mas Papademos não aceitou o pedido. Se a operação for bem-sucedida, o endividamento tende a cair dos atuais 160% do Produto Interno Bruto para 120% até 2020.