postado em 04/12/2011 08:00
Diante da certeza do crescimento zero e da ameaça de queda do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) no terceiro trimestre, o governo aposta todas as fichas na operação de guerra que montou para reanimar a economia. No arsenal à disposição, as preferências recaem sobre a desoneração de eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar) e a redução de tributos para financiamentos e investimentos, mas, sobretudo, sobre os cortes sucessivos da taxa básica de juros (Selic). A missão imediata de todas as medidas é evitar o pior: salvar o Natal e evitar a recessão ainda este ano. A curto prazo, porém, a meta é garantir uma expansão próxima a 4,5% em 2012.Com o resultado dos dois últimos trimestres do ano praticamente dados (para o intervalo de julho a setembro, o governo já admite crescimento zero), a expectativa é de que as medidas anunciadas na quinta-feira passada tenham um efeito psicológico positivo sobre consumidores e empresários. Para especialistas (a maioria prevê PIB negativo no terceiro trimestre), o governo tenta quebrar a inércia que arrasta o país para o fundo do poço. Abaladas pelas notícias de piora da crise na Europa e preocupadas com um elevado grau de endividamento, as famílias já haviam botado o pé no freio nos gastos. Agora, resta saber se a redução de tributos e a facilitação do crédito vão realmente reanimá-las a consumir.
Por seu turno, as empresas também andaram cancelando investimentos. ;Esse é o círculo vicioso que o governo tenta quebrar com as medidas de estímulo;, observa Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Arab Banking Corporation (ABC Brasil).
A divulgação do PIB do terceiro trimestre, na próxima terça-feira, deve comprovar os danos causados pela confiança do consumidor em baixa e por uma indústria em recessão. O quarto trimestre, avaliam especialistas, deve ser melhor. Mas, ainda assim, os dados preliminares do período não prometem robustez. ;Aumentaram as evidências de maior enfraquecimento da atividade econômica no fim de 2011;, afirma Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco. ;As perspectivas para o cenário internacional continuam recuando, elevando as chances de surpresas negativas;, emenda.
Recessão
Dos segmentos da economia, a indústria tem se mostrado o mais fragilizado e um dos que mais puxam o PIB para baixo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que as fábricas brasileiras amargaram desempenho negativo por três meses seguidos, o que, para os economistas, é muito grave. ;A crise ainda não se fez sentir efetivamente no Brasil. Essa desaceleração, em grande parte, deve-se a políticas macroprudenciais adotadas no início do ano para frear a economia;, argumenta a economista Zeina Latif, ao lembrar que o país ainda será afetado mais fortemente pelos desdobramentos da crise da dívida do euro.
Leal se revela surpreso com a freada brasileira. ;Foi forte demais. O governo e o mercado se surpreenderam com o tamanho da desaceleração;, diz. Para Marcelo Carvalho, economista do BNP Paribas, os problemas globais conspiraram junto com o impacto do aperto monetário (no início de 2010) para enfraquecer a economia em 2011. O breque no PIB se traduz em números: o consumo de energia no comércio caiu 2,07% entre o segundo e o terceiro trimestre; a produção de veículos desabou 9,52% entre outubro de 2011 e igual mês do ano passado; as vendas tombaram 11,28% no mesmo período. E mais: de 27 setores fabris pesquisados pelo IBGE, 20 recuaram no mês passado em relação a setembro.
Pelos cálculos do Itaú Unibanco, a desaceleração está disseminada por todos os elementos do PIB (veja quadro). Os investimentos, segundo a instituição, vão passar de um crescimento de 1,7% no segundo trimestre para um desempenho mais moderado, de 1%, no terceiro. ;Essa queda do investimento é que tem puxado o PIB para baixo;, constatou o economista e consultor Roberto Luis Troster. A seu ver, o Brasil está repetindo, em menor escala, o quadro de 2008, quando a taxa de investimento despencou e arrastou a atividade econômica para o atoleiro.