postado em 07/12/2011 08:00
As medidas adotadas pelo governo desde dezembro de 2010 para conter o ímpeto dos consumidores e reduzir o ritmo da atividade surtiram efeito além do previsto e colocaram um freio em um dos componentes responsáveis pela sustentação do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos. Assustados com alto endividamento, inflação e crise global, os trabalhadores se retraíram, apesar da renda em alta e do emprego batendo recordes.
O consumo das famílias surpreendeu os analistas ao cair 0,1% no terceiro trimestre. A conta não ficava negativa desde o período entre outubro e dezembro de 2008. Embora os brasileiros tenham desembolsado, entre julho e setembro,
R$ 631,2 bilhões, a avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, é de que a retenção imposta ao crédito e às compras foi potencializada pela desconfiança da população em relação ao futuro da economia.
;A crise externa não tem efeito direto na vida do consumidor, mas as notícias publicadas diariamente acabam influenciando as expectativas. As pessoas leem que a situação está ruim na Europa, os empregos estão sendo cortados lá e ficam mais cautelosas;, disse o ministro. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atribuiu o esfriamento dos gastos às medidas restritivas ao crédito. ;O consumo caiu porque a economia como um todo desacelerou. O governo adotou meios para frear a atividade. Apesar de o BC começar a reduzir os juros depois de julho, eles ainda estavam altos no terceiro trimestre;, justificou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
Frequência
Nayara Rodrigues dos Santos, 20 anos, é uma das consumidoras que reduziram o ritmo de compras. Sem emprego, ela revisou as prioridades. ;Deixei de lado as roupas e sapatos e concentrei a renda em alimentação e produtos para minha filha, Sayuri, de seis meses. Está tudo muito caro, não há como continuar comprando com a mesma frequência;, disse.
Aliadas à queda do consumo do governo e dos investimentos privados, as despesas menores das famílias diminuíram o que os economistas chamam de demanda agregada do país em 0,2%, o primeiro tombo desde o início da crise. ;A magnitude desse movimento nos surpreendeu;, ressaltou o diretor de Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros.
O assessor econômico da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP), Altamiro Carvalho, aposta em um cenário de recuperação em 2012. ;A retração do gasto dos brasileiros foi mais uma acomodação no ritmo. Nosso diagnóstico é que ela é pontual e que a renda e o emprego continuarão influenciando o consumo familiar;, disse. Segundo ele, somente a elevação do salário mínimo no ano que vem será responsável pela injeção de R$ 60 bilhões na economia, valor que será revertido para o consumo.
Colaborou Rosana Hessel