postado em 09/12/2011 08:18
Vista como uma espécie de aliada do Banco Central no controle dos preços e no processo de moderação da economia por impor um menor ritmo de crescimento em todo o mundo, a crise global não teve força suficiente para segurar a inflação dentro da meta em 2011, como esperava o governo. Especialistas dão como praticamente certo um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima do limite de tolerância, definido em 6,5%. A própria ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de novembro, divulgada ontem, sinaliza que o BC perdeu a batalha para segurar a tendência inflacionária.
De acordo com a última previsão apresentada pela autoridade monetária, em documento divulgado em setembro, o IPCA fecharia o ano em 6,4%. De lá para cá, o BC fez duas revisões para cima. O novo número deve ser divulgado no fim do mês, no último Relatório de Inflação do ano. ;A projeção para a inflação de 2011 se elevou em relação ao valor considerado na reunião do Copom de outubro;, disse o BC no parágrafo 19 do documento.
A ata ainda deixou claro que, mesmo com a inflação corroendo a renda do brasileiro, os cortes na taxa básica de juros (Selic) vão ter prosseguimento com ;ajustes moderados; ; o que para o mercado é equivalente a reduções de 0,5 ponto percentual até maio de 2012. Com essa estratégia, especialistas explicam que o BC colocou suas fichas na piora do cenário internacional e na expectativa de que a crise faça o Brasil importar ;desinflação;.
Ou seja, com redução dos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional) e o menor ritmo da economia, o reflexo direto no país deve ser a queda do custo de vida. ;O Comitê avalia que o cenário internacional manifesta viés desinflacionário no horizonte relevante;, frisou o BC no documento.
Alguns economistas discordam. ;Com a inflação pressionada, seria o caso, se não de subir juros devido à estagnação da economia, pelo menos de parar com os cortes;, alertou Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Segundo ela, o país enfrenta um quadro complicado, com preços em alta e crescimento em baixa. Na visão de Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, o BC precisa torcer pelo resultado do IPCA de dezembro, para que a carestia fique no limite exato da meta. ;O detalhe será saber se vai dar 6,51% ou 6,52% ou 6,50%. Ou seja, se o BC terá que fazer a carta aberta ao ministro da Fazenda para explicar o descumprimento do limite superior da banda.;
Qualidade
Fora dos escritórios dos economistas, o brasileiro lamenta a dificuldade do BC no enfrentamento da inflação. O aposentado Marcial Dias de Carvalho, 68 anos, observou que o preço das carnes vermelhas tem aumentado nos últimos meses. Com o orçamento um pouco mais apertado, ele precisou trocar a carne bovina de primeira pela de segunda. ;Os preços estão muito altos e não dá para estourar as contas;, disse. Antes de diminuir a qualidade do produto, ele gastava R$ 200 por mês. Agora, desembolsa R$ 150.
Ainda assim, a ata do Copom tenta ser otimista e destaca que o IPCA acumulado em 12 meses está em desaceleração e deve ficar próximo do centro da meta (4,5%) no fim de 2012. ;Nos meus cálculos, caminha para algo em torno de 4,8%;, observou Carlos Thadeu Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton. O documento não descarta o uso de mais medidas macroprudenciais para controlar preços e estimular a economia e lista os canais de transmissão da crise para o Brasil, como a moderação do fluxo de investimentos. Reafirma ainda que a crise terá impacto equivalente a 25% do visto na crise de 2008/2009. Porém, desta vez, será mais duradoura. (Colaborou Ana Carolina Dinardo)
Administrados
O Banco Central fez previsões para alguns produtos na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de novembro. Para a instituição, os preços da gasolina e do gás de bujão terão variação nula em 2012, mas a alta deve ser de 1,5% na telefonia fixa e de 2,3% na eletricidade. O conjunto dos preços administrados deve registrar elevação de 4% no próximo ano e de 4,5% em 2013.
Taxas futuras
Com a aceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que registrou alta de 0,52% em novembro, e a repercussão da ata da reunião do Comitê de Política Monetária de novembro (Copom), os juros futuros fecharam em alta. O movimento é um recado do mercado para o Banco Central de que a inflação ainda incomoda e que a autoridade monetária precisa tomar alguma atitude, mesmo que seja parar o processo de corte na taxa básica de juros (Selic). Ainda assim, os investidores entendem que o BC não deve mudar sua estratégia. Os contratos de juros com vencimentos mais longos indicam que a Selic deve terminar 2012 em 9,50%. O mercado também sabe que, se houver uma ruptura na Europa, como a quebra de um banco ou o calote de um grande país, a exemplo da Itália, o afrouxamento monetário pode se intensificar.